sábado, março 19, 2005

Sandokai - A Identidade do Relativo e do Absoluto


Estive a rever a nossa tradução para a ler depois da sessão de zazen de hoje:

A mente do grande sábio da Índia
é intimamente transmitida de Oeste a Este.
Enquanto entre os seres humanos há sábios e tolos
na Via não há patriarcas do Norte ou do Sul.
A fonte espiritual é clara e luminosa,
os afluentes correm através da escuridão.
Apegar-se às coisas é ilusório,
encontrar o absoluto não é ainda a iluminação.
Um e Todos, as esferas subjectiva e objectiva,
estão relacionados e ao mesmo tempo independentes.
Estão relacionados mas trabalham de modo diferente,
cada um mantém o seu próprio lugar.
O carácter e a aparência variam na forma,
os sons distinguem-se entre harmoniosos e desagradáveis.
A obscuridade faz as palavras iguais,
a luz distingue as frases boas e más.
Os quatro elementos retornam à sua natureza
tal como uma criança para a sua mãe.
O fogo é quente, o vento move-se,
a água é líquida, a terra sólida.
Os olhos vêem, os ouvidos ouvem,
o nariz cheira, a língua saboreia o salgado e o doce.
Cada um é independente do outro
como folhas nascidas da mesma raiz,
causa e efeito devem regressar à grande realidade.
As palavras alto e baixo são usadas de modo relativo.
Na luz existe a escuridão
mas não tentes compreender essa escuridão,
na escuridão existe a luz
mas não procures essa luz.
Luz e escuridão formam um par,
como o pé adiante e o pé atrás ao andar.
Cada coisa tem o seu valor intrínseco
e está relacionada com tudo o resto em posição e função.
O relativo e o absoluto ajustam-se
como uma caixa e a sua tampa.
O absoluto funciona em conjunto com o relativo
como duas flechas que se encontram em pleno ar.
Ao ler as palavras deves perceber a grande realidade.
Não julgues por quaisquer critérios.
Se não vês o caminho
não o vês mesmo ao andares nele.
Quando percorres a Via
não estás perto nem longe.
Mas se andas iludido estarás a rios e montanhas de distância.
Digo respeitosamente, aos que querem a iluminação,
de dia ou de noite, não percam tempo.

Sekito Kisen (700-790)

imagem de Bamboo in the wind