Na tradição do budismo Zen, a palavra usada para retiro é "sesshin", que significa "tocar a mente/coração", o que equivale a voltar a casa, ao estado natural e original da condição da nossa mente/coração.
E embora o retiro deste fim-de-semana em Sintra, que encerrava a estadia de lama Denys em Portugal, se tenha desenrolado na tradição do budismo tibetano, o próprio tema do retiro "A via do Não-Medo", pode tornar-se transparente neste texto da Sensei Nicolee Jikyo McMahon Presente do Não Medo:
"A maior parte do tempo somos puxados em muitas direcções, dispersos, por vezes submergidos. Um retiro cria um tempo à parte, num ambiente simples, e em comunidade. Fornece-nos um recipiente que nos permite compreender profundamente o que é a nossa vida. De um ponto de vista, quando nos sentamos na almofada, trabalhamos, comemos, limpamos, essa é a minha prática. Mas fundamentalmente é a nossa prática; criamos o retiro, da mesma forma que criamos o mundo e o mundo nos cria de momento a momento - juntos.
Enquanto o grupo vive e pratica em conjunto, toda a espécie de coisas - alegria, ansiedade, agitação, cólera, ressentimento, gratidão, medo, aborrecimento, dúvida, paz - podem surgir. Podemos sentir-nos desafiados até ao mais íntimo de nós mesmos, não só de fora, mas também de dentro. A forma como nos restringimos torna-se cada vez mais aparente. A chave para o retiro é não saber, abandonar as expectativas, abrir-se para a revelação do momento. Ao unificar a mente/coração, compreendemos "o presente do não medo".
Com o desenrolar dos dias de retiro, atenua-se a espessa carapaça com a qual criamos a separação, eliminando o abismo entre eu, o outro, o mundo. À medida que nos soltamos, a tranquilidade e a quietude do retiro pode trazer mais amplitude, alegria e gratidão. Quando nos acalmamos, o que muitas vezes emerge é uma profunda apreciação pelo som do gongue, o sabor da comida, o sono, o movimento, a criatividade, estar com os outros, a luz do sol, as nuvens, as árvores, a sensação do vento na pele.
Um retiro oferece uma oportunidade de experienciar a vida na sua simplicidade e o quotidiano de uma forma muito aberta e receptiva. Ao estarmos mais intensamente conscientes da vida, e de como estamos todos juntos nisto, refinamos a nossa habilidade para nos ocuparmos de nós, dos outros, do mundo."
- de Gift of no Fear
Sintra, 14 de Novembro de 2004
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