quinta-feira, abril 14, 2005

A força da simplicidade

Ajahn Nyanarato na União Budista do Porto

“Prefere sentar-se na cadeira ou no chão?”, pergunta o anagarika Eduardo. “No chão! No chão!”, afirma Ajahn com um sorriso sereno. Vestido de forma muito humilde, o monge faz-se acompanhar apenas de uma malga onde guarda os sagrados alimentos para o dia. Em posição de flor de lótus, dá as boas vindas a quem vai chegando. Lá fora brilha um sol primaveril. O vento bate nas persianas das janelas, abafando o burburinho de novos e velhos que se acomodam nas almofadas espalhadas pelo chão. Sentados ou de pé, o importante é sintonizar-se com o som das sábias palavras do jovem monge budista. Ajahn Nyanarato falou. E fez-se silêncio. Na sua imagem de simplicidade, mas de força, o monge acalmou os muitos corações ávidos de respostas e ensinamentos, de inquietações espirituais e de procura de sentido nas suas vidas. Falou da sua experiência de monge na Tailândia e no mosteiro Amaravati, em Inglaterra (onde actualmente reside), dos sinais de inquietude do coração, da juventude, das dificuldades dos tempos modernos, do materialismo que não chega para preencher as carências espirituais, de sacrifício, da importância em ser-se humilde, de confiança em si próprio, da necessidade em reflectir, de despojo material... e de meditação. E eis que Ajahn, sempre sorridente, nos convida a meditar. Em posição de asana ou como cada um se sentir mais confortável, os olhos fecham-se por instantes. Ao som da sua voz terna, a mente esvazia-se e o coração fala. “Cada momento é precioso, cada encontro é único. Tudo é como deve ser.”

Paixão e Compaixão

No silêncio da mente, as inquietações manifestam-se e as perguntas ganham forma. Após a breve meditação, quem o sentir, manifesta as suas dúvidas, os seus medos, procurando respostas aos seus porquês. Ajahn, paciente e receptivo aceita a “paixão” de cada um. O que puder fazer para ajudar, Ajahn fará. Afinal, o amor e a compaixão é um dos ensinamentos budistas.

Nos seus mais de 2500 anos de história, o budismo é uma religião devotada a condicionar a mente inserida em seu quotidiano, de maneira a levar a paz, serenidade, alegria, sabedoria e liberdade perfeitas. Seja através da Meditação Zen ou Zazen, das práticas de Metta Bhavana (desenvolvimento do amor e bondade), do Hatha Yoga ou do Qi Gong, o Budismo ajuda a extrair os mais altos benefícios da vida e lembrar as pessoas de que é possível ser-se feliz no amor a si próprio e ao próximo.

Texto enviado por Sandra Batista

P. S. é evidente que a Sandra, ao falar de "condicionar" a mente queria dizer "trabalhar" a mente, e no fundo, exactamente o contrário, descondicionar a mente pois condicionada já é ela :) No Budismo fala-se assim de controlar a mente, de treinar a mente. A prática de atenção plena fundamental no budismo apoia-se em três pontos fundamentais - dana (generosidade), sila (moralidade) e o "trabalho de inquérito" e descoberta propriamente dito, através da meditação. E não, não estou a "ensinar" nada, tento reproduzir o que os mestres dizem mas ao fazê-lo não soa igual. Por isso prefiro deixá-los falar :)

Nas palavras do Buda: "a mente que foi controlada traz verdadeira felicidade, portanto treinem bem as vossas mentes para obterem os maiores benefícios"