quarta-feira, setembro 29, 2004

O precioso nascimento humano

Traduzi uma parte do livro "One Dharma" sobre o precioso nascimento humano, em que Joseph Goldstein descreve a nossa existência como seres humanos nestes termos: "é como se de alguma maneira tivéssemos chegado a uma fabulosa ilha do tesouro, onde, se soubermos como, todas as coisas boas estão ao nosso alcance". Decerto que a maior parte do tempo não vemos as nossas vidas assim, e por isso sempre nos falta alguma coisa. Temos sempre fome e sede, quando a abundância está bem ali à nossa frente. Joseph acentua um dos princípios mais básicos do ensinamento budista: todas as experiências, incluindo a própria vida, não surgem por acaso, mas pela reunião de todas as causas e condições necessárias, ou seja, porque praticámos acções meritórias. A água congela quando está a determinada temperatura, não apenas porque desejamos que congele. Da mesma forma, as condições para obtermos uma forma humana – e sejam quais forem as nossas circunstâncias presentes – são as nossas boas acções passadas.

Depois da tradução, fui procurar informações sobre Mirabai, uma das mais famosas poetas bakhta do Norte da Índia, que mencionei no nosso último encontro das quintas a propósito do caminho da devoção (bakhti). Ao fazer uma pesquisa na Net, dei com um poema... sobre o precioso nascimento humano. E ela diz "Nós não obtemos uma vida humana só por pedirmos." Será que o sr. Goldstein leu Mirabai? :)



Nós não obtemos uma vida humana
Só por pedirmos.
Nascimento sob um corpo humano
É a recompensa por boas acções
Em nascimentos anteriores.
A vida flui e reflui imperceptivelmente,
Não permanece para sempre.
A folha que uma vez caiu
Não volta ao ramo.
Olha o Oceano de transmigração
Com a sua rápida, irresistível maré.
Ó Lal Giridhara (Krishna), ó piloto da minha alma,
Conduz rapidamente a minha barca para a outra margem.
Mira é a escrava de Lal Giridhara.
Ela diz: a vida dura mas apenas uns dias


Mirabai, a mais famosa poeta bakhta do Norte da Índia (séc. XVI)