Há mil anos atrás, um monge da universidade de Nalanda chamado Atisha viajou da Índia para o Tibete para aí ajudar a restabelecer a pureza da via monástica. Em determinada altura, encontrou-se com um dos mais conhecidos tradutores de textos budistas para tibetano, que lhe perguntou qual era a melhor prática. Atisha respondeu: “deves procurar o ponto essencial comum a todos os ensinamentos e praticar essa via”. “Um Dharma” é apenas isto: experienciar o ponto essencial comum a todos os ensinamentos. Mas com tradições e escolas tão diferentes, e formas de prática tão diversas, como encontrar essa essência comum? Duas coisas nos podem ajudar.
Primeiro, necessitamos de criar uma base de compreensão que sustentará a nossa investigação mais profunda. Como muitos de nós não cresceram numa cultura budista, temos de adquirir alguma profundeza na compreensão e na experiência de uma prática antes de podermos olhar com alguma inteligência e encontrar o que há de comum entre os mais diversos caminhos. Em segundo lugar, precisamos cultivar uma atitude de abertura a diversos pontos de vista, bem assim como uma disposição para aprender com as mais diferentes perspectivas.
©JR 2004
No Um Dharma do Budismo emergente ocidental, o método é a atenção plena (mindfulness), a expressão é a compaixão e a essência é a sabedoria.
Atenção plena, o método, é a chave para o presente. Sem ele, ficamos perdidos no vaguear das nossas mentes. A atenção serve-nos das formas mais humildes, ligando-nos aos actos mais simples do dia-a-dia, desde lavar os dentes até tomar uma chávena de chá. O Buda também falou da atenção plena como uma caminho para o despertar completo.
A expressão de “Um Dharma” é a compaixão. Quando estamos atentos ao momento presente, a compaixão torna-se a resposta natural dada ao sofrimento que encontramos à nossa volta. Quando nos abrimos para o sofrimento, há um movimento simples e espontâneo do coração, que quer ajudar como puder. Às vezes através de pequenos gestos de simpatia, outras vezes através de atitudes mais corajosas. Podemos igualmente cultivar a compaixão como uma prática, fortalecendo a resposta intuitiva que existe dentro de nós. Nyoshul Khen Rinpoche trouxe esta prática para a vida, da maneira mais simples e directa: “Gostaria de dar um pequeno conselho, que sempre dou a todos: descontraiam-se! Apenas descontraiam-se! Sejam simpáticos uns com os outros. Enquanto percorrem a vida, sejam gentis com as pessoas. Tentem ajudá-las em vez de magoá-las. Tentem dar-se com elas em vez de se zangarem com elas. Com isto, deixo-vos, com os meus melhores votos.”
A essência de Um Dharma é sabedoria. A perfeição da sabedoria é a luz que ilumina as nossas vidas, revelando tanto as causas como o fim do sofrimento. Através da atenção ao momento presente, vemos a natureza impermanente dos fenómenos e compreendemos a felicidade de “não nos agarrarmos”. E ao não nos agarrarmos, experienciamos por nós mesmos o despertar inato da mente de sabedoria.
Não basta sabermos isto conceptualmente, ou então ficaremos satisfeitos com breves lampejos de compreensão. Um ensinamento do Buda serve como um aviso profundo enquanto estamos imersos na pressa do mundo. Quando praticamos, a sabedoria aumenta, quando não praticamos diminui. A sabedoria não é algo que adquirimos uma vez e ficamos com ela para sempre. É antes uma compreensão que precisamos alimentar e desenvolver nas nossas vidas. A via do Buda é vasta, o nosso potencial é ilimitado. Está nas nossas mãos dar o próximo passo.
adaptado de One Dharma de Joseph Goldstein