Estamos habituados a comunicar de um forma competitiva. Numa reunião, mesmo num grupo sentado num café, se pensarmos nisso, haverá sempre um ou outro que dominará a conversação, e o elo mais fraco não terá muitas hipóteses de se exprimir. Já não vou falar de um debate político, onde ouvir o outro não está mesmo em questão. Os índios norte-americanos, tradicionalmente, comunicam de forma diferente. Ao valorizar a cooperação em vez da competição, dão espaço para falar e para ouvir. Plenamente.
Num círculo, cada um tem a sua vez para falar, até para não falar. Um objecto é colocado no centro, e, um de cada vez vai buscar o "objecto falante" ao centro. Não é preciso um mediador, o objecto em si é o mediador. Quando temos o objecto na mão, podemos dizer o que quer que esteja no coração, mesmo que isso pareça não ter nada a ver com nada. Ninguém vai comentar, criticar ou interromper. Tudo o que vem do coração é belo e perfeito.
Falar com o coração: nesse lugar, estamos seguros. Estamos nus e abertos, mas não desprotegidos. Podemos ser honestos, arriscar-nos, dar voz às nossas vozes. Pode acontecer que consigamos dizer algo que nunca dissemos antes, ou encontrar algo em nós que não imaginamos que existia. Por vezes pode ser preciso coragem. Mas saber que há um grupo que nos ouve e nos apoia é em si uma experiência de cura. Os laços criados dessa maneira são feitos de expansão e energia. São vivos.
Foto ©Calica 2004
Mais sobre a tradição dos círculos de sabedoria dos índios norte-americanos:
Wisdom Circles
The Wisdom Circle Constants
Basic Guidelines for Calling a Circle
Talking Circles To Deepen Communication
Listening Circles