terça-feira, outubro 12, 2004

Emoções negativas

Fizeram-me a pergunta hoje:

Por que razão é que, fazendo meditação praticamente todos os dias, de há uns meses para cá, estou quase sempre zangada com metade do mundo?

Frequentemente, há este sentimento de que não somos suficientemente bons, de que temos de mudar, ser melhores. O que implicitamente significa que não queremos ser quem somos, que não nos aceitamos. Ou aceitamos umas partes, as que achamos mais simpáticas ou mais corajosas e lutamos incessantemente contra as outras. E, contudo, seja o que for que sejamos, é com isso e através disso que estamos aqui, é essa a matéria-prima do nosso caminho espiritual. O caminho começa aqui mesmo onde estamos, tal como somos, com a nossa mistura de confusão e sabedoria. A prática da meditação é o primeiro acto que fazemos para parar a agitação, a confusão, os julgamentos. Mas não é uma varinha mágica. Aliás, frequentemente, como vamos estar mais atentos, vamos dar-nos conta de até que ponto estamos agitados. E aí a meditação fará parte de tudo. Não é apenas o momento em que nos sentamos numa almofada, e que acaba no momento em que nos levantamos da almofada. A meditação é uma experiência viva, que integra tudo o que somos e, essa percepção, temos de trazê-la para a nossa vida de todos os dias. Os fenómenos, quer surjam sob a forma de sensações visuais, auditivas, olfactivas, tácteis, quer sob a forma de sentimentos, emoções, acontecimentos exteriores ou interiores, quando vividos com consciência, são um instrumento de libertação. São a nossa oportunidade de acordar. A transformação interior vem da tomada de consciência, não do campo de batalha.

"Durante muito tempo na minha prática de meditação ficava embaraçado e envergonhado ao ver na minha mente estados de mente prejudiciais, estados como orgulho ou ciúme, má vontade ou egoísmo; e em vez de os examinar e trabalhar liberto deles, fazia julgamentos sobre mim próprio e cavava ainda mais fundo o buraco em que me encontrava. Ou sentir-me-ia julgado e infeliz quando os meus professores ou outras pessoas apontavam estes estados mentais desarmoniosos. Mas depois de anos de prática, acabo por me sentir agradecido quando observo o surgimento de um desses estados negativos, porque agora mais facilmente os vejo. Torna-se mais uma oportunidade de me desprender desses padrões, de ver a sua transparência essencial, e por me soltar do fardo que representam." (Joseph Goldstein)