terça-feira, outubro 26, 2004

Nada

Sincronicidades. Acho fascinante. Parece sempre como se o Universo estivesse a querer dizer-nos alguma coisa. Ontem chegou o livro que tinha encomendado na sequência do workshop de massagem de som. Chama-se Nada Brahma, O Mundo é Som, e é muito mais do que eu tinha pensado, mas, muito rapidamente, é um livro sobre o caminho espiritual através da percepção do Som. Isto para mim liga-se ao Bodhisattva da Compaixão Avalokiteshvara/Chenrezig/Quan Yin, cujo nome pode ser traduzido por “Aquele que Ouve os Sons/Choros do Mundo,” e que explica no sutra Surangama como atingiu a Iluminação através da meditação sobre o Som.


Foto ©MC/UBP Porto 2004


Nada é uma palavra sânscrita que significa “Som”. Parece estar relacionada com nadi, que significa “rio” ou corrente” mas também “ímpeto” (rio impetuoso e som impetuoso) e esta palavra surge escondida no nome de vários rios em todo o mundo. O termo nadi também designa fluxo de consciência. E daí a relação entre Som e Consciência estar muito documentada na linguagem: “Podemos ouvir o nosso eu interior – e contudo não saber que oceano ouvimos a rugir” (Martin Buber). Claro que não posso evitar ligar o Nada sânscrito com o Nada latino (vacuidade), que no Budismo é uma completude e não um vazio.

Hoje retomei One Dharma, pois vamos continuar com o estudo do livro na próxima quinta. Estou no capítulo em que Joseph Goldstein explica como, apesar da ênfase que muitas escolas budistas actualmente dão ao “aqui e agora” e a não ter objectivos, ele entende que não há contradição entre estar no momento presente e ter a percepção de um caminho ou de um objectivo. E essa história do caminho e do objectivo levou-me a recordar um dos meus dois contos preferidos, um conto dos índios norte-americanos sobre o Rato Saltador. Encontrei então uma versão aparentemente mais completa, que eu ainda não tinha lido, com pequenas nuances que não conhecia. A história fala de um Rato Muito Ocupado com o Trabalho dos Ratos, que é correr da esquerda para a direita, de um lado para o outro, à procura, a examinar, a apanhar, a trocar, a arrecadar e a comer Sementes. Mas este Rato Ocupado “ouvia um Rugido nas orelhas” e cismava sobre esse ruído e queria saber de onde ele vinha. Partiu um dia corajosamente à procura, ultrapassando a Orla de Todas as Coisas que os Ratos Conheciam, e encontrou um Guaxinim, que lhe explicou que o Rugido vinha do Rio. E o Rio chamava-se... Nada.