quarta-feira, dezembro 29, 2004
Relato
O nosso irmão brasileiro Ricardo Sasaki, que já referi aqui, saiu da Tailândia mesmo antes do maremoto. Puxa!! Bem e a salvo - Karuna
Encarar a vida por si mesmo
Não resisto a mais outra :)
Durante todo o tempo que estive aqui, neste sesshin, o zazen quebrou o meu habitual modo de vida. Parece ser mais fácil em grupo; apoiamo-nos mutuamente e em conjunto parece que criamos algo. Mas o que sucederá depois, uma vez terminado o sesshin, quando tiver de encarar a vida por mim mesmo, sem um mestre? A minha vida parece-me geralmente tão fragmentada, sem nenhuma coordenação. Apenas desordem e desatenção. Procuro encará-la de frente, mas são tantas as possibilidades que se me apresentam, que às vezes sinto-me demasiado insignificante para as enfrentar a todas.
"Desordem? Não há mal nenhum nisso: a minha vida também é desordem. Talvez a excessiva elementaridade do zazen não permita que o tomes a sério nem que o tragas mentalmente contigo. Mas talvez haja momentos em que estejas ciente do ar que respiras e da água que bebes. Ambos também nos são tão familiares que nem lhes prestamos atenção, normalmente todos nos esquecemos deles.
A simplicidade do sentar e do respirar permite-nos a plena consciência de esta simplicidade cósmica. A trindade do zazen é a vida natural e original; mas sempre que vos explico isto, a vossa tendência é para o esquecer. Do mesmo modo, esquecem-se do ar que respiram e da roupa interior que vestem todo os dias!
Por favor, não te preocupes com o amanhã. Não é já suficiente encontrarmo-nos aqui? Eu não acho que tenhas razão quando dizes não teres um mestre na tua via diária. É provável que não tenhas um mestre específico que possas seguir e em quem tu possas confiar, mas será que não podes ver por ti próprio se andas no Caminho Aberto, sem esse agente de viagens?
Se realmente encontraste isto, já encontraste o teu verdadeiro mestre. Não é necessário que sigas pelo caminho comigo; o que é necessário é seguires o teu próprio Buda em ti.
O que criamos nós juntos? Sempre que pessoas se encontram em grupo, geram-se diferentes tipos de atmosferas, umas positivas outras negativas.
Nessas circunstâncias, é possível ser-se profundamente inspirado, tanto pela amizade espiritual como pela harmoniosa energia que é liberta pelo trabalho e pela prática. Pode também suceder, por outro lado, sermos facilmente arrebatados e cegarmos com a euforia gerada em todos os diferentes níveis psicológicos e emocionais.
Às vezes, há grupos que confiam na energia colectiva para fortalecer as suas práticas ou para encorajarem individualmente a «transformação» nos participantes. É inevitável sermos tocados, mais tarde ou mais cedo, por todos esses tipos de atmosferas ou pelas actividades em grupo. A resposta depende muito de se ter ou não encontrado a sua própria e real direcção na Vida."
Durante todo o tempo que estive aqui, neste sesshin, o zazen quebrou o meu habitual modo de vida. Parece ser mais fácil em grupo; apoiamo-nos mutuamente e em conjunto parece que criamos algo. Mas o que sucederá depois, uma vez terminado o sesshin, quando tiver de encarar a vida por mim mesmo, sem um mestre? A minha vida parece-me geralmente tão fragmentada, sem nenhuma coordenação. Apenas desordem e desatenção. Procuro encará-la de frente, mas são tantas as possibilidades que se me apresentam, que às vezes sinto-me demasiado insignificante para as enfrentar a todas.
"Desordem? Não há mal nenhum nisso: a minha vida também é desordem. Talvez a excessiva elementaridade do zazen não permita que o tomes a sério nem que o tragas mentalmente contigo. Mas talvez haja momentos em que estejas ciente do ar que respiras e da água que bebes. Ambos também nos são tão familiares que nem lhes prestamos atenção, normalmente todos nos esquecemos deles.
A simplicidade do sentar e do respirar permite-nos a plena consciência de esta simplicidade cósmica. A trindade do zazen é a vida natural e original; mas sempre que vos explico isto, a vossa tendência é para o esquecer. Do mesmo modo, esquecem-se do ar que respiram e da roupa interior que vestem todo os dias!
Por favor, não te preocupes com o amanhã. Não é já suficiente encontrarmo-nos aqui? Eu não acho que tenhas razão quando dizes não teres um mestre na tua via diária. É provável que não tenhas um mestre específico que possas seguir e em quem tu possas confiar, mas será que não podes ver por ti próprio se andas no Caminho Aberto, sem esse agente de viagens?
Se realmente encontraste isto, já encontraste o teu verdadeiro mestre. Não é necessário que sigas pelo caminho comigo; o que é necessário é seguires o teu próprio Buda em ti.
O que criamos nós juntos? Sempre que pessoas se encontram em grupo, geram-se diferentes tipos de atmosferas, umas positivas outras negativas.
Nessas circunstâncias, é possível ser-se profundamente inspirado, tanto pela amizade espiritual como pela harmoniosa energia que é liberta pelo trabalho e pela prática. Pode também suceder, por outro lado, sermos facilmente arrebatados e cegarmos com a euforia gerada em todos os diferentes níveis psicológicos e emocionais.
Às vezes, há grupos que confiam na energia colectiva para fortalecer as suas práticas ou para encorajarem individualmente a «transformação» nos participantes. É inevitável sermos tocados, mais tarde ou mais cedo, por todos esses tipos de atmosferas ou pelas actividades em grupo. A resposta depende muito de se ter ou não encontrado a sua própria e real direcção na Vida."
Ontem esmaguei acidentalmente um pequeno caracol
Hoje recebi do José Eduardo um texto de perguntas e respostas do primeiro livro do mestre Zen Hôgen publicado em Portugal pela Assírio e Alvim, Caminho Aberto (esgotadíssimo), com a autorização de publicar esse artigo online no nosso site. Ao ler na diagonal, parei nesta pergunta:
Ontem esmaguei acidentalmente um pequeno caracol. Este pequeno incidente fez-me ver o terrível sofrimento e a dor sem sentido que existem neste mundo. Sei que o sofrimento é uma parte inevitável da vida, mas como é que alguém com absoluta compaixão, um verdadeiro bodhisattva, poderá não se afogar no mar de sofrimento que nos rodeia a todos?
A resposta de Hôgen é extensa, por isso não vou incluí-la aqui na totalidade, mas cito uma parte:
"O bodhisattva não se afoga no mar do sofrimento, suavemente deixa-se afundar nele. A cruz do Cristo, que representa o sofrimento do mundo humano, está presente na posição sentada do Buda. A posição sentada do Buda e a cruz de Cristo, uma vez encontradas e experimentadas, são ambas um só e mesmo caminho da vida original; ambas nos penetrem.
Sofrimento e vida coexistem inevitavelmente e são tão inseparáveis como a forma o é da sua sombra. Necessitamos dos nossos corpos e vidas para realizarmos a compaixão por todos os seres; tal como Buda necessitou do seu corpo para se sentar em zazen; tal como Cristo necessitou do seu para estar na cruz. Não podemos experimentar o zazen cósmico do nosso corpo, sem deixar de integrar a natureza dessas duas realidades.
Os bodhisattvas sentem como sua a dor dos outros. Por isso, este voto emerge do fundo da própria compaixão:
«São inumeráveis os seres sensíveis:
Faço o voto de os salvar a todos.»
O sofrimento que é causado pelo nascimento, pela velhice, pela doença, pela morte, pelo desejo e pela incapacidade de realizarmos os nossos votos, esse sofrimento permanece connosco ao longo de toda a nossa vida. Tal como a mãe que não consegue dormir em paz se o seu filho chora ou está doente, assim um bodhisattva tem apenas um desejo (ou sofrimento), o de ajudar os outros. Esta é a sua única «doença» ou «limitação». É este o único papel que lhe está reservado no decurso do tempo, através do espaço.
Os bodhisattvas continuam a viver neste mundo para poderem cumprir o seu desejo profundamente compassivo. Vivem para nos ajudarem a alcançar a outra margem. Esse seu único desejo impede-os necessariamente de permanecer na perfeição final do Nirvana."
Já agora, para quem não conhece, o último livro do mestre Zen Hôgen Yamahata publicado em Portugal, Folhas Caem, um Novo Rebento, é lindíssimo.
imagem de http://www.openway.org.au
Ontem esmaguei acidentalmente um pequeno caracol. Este pequeno incidente fez-me ver o terrível sofrimento e a dor sem sentido que existem neste mundo. Sei que o sofrimento é uma parte inevitável da vida, mas como é que alguém com absoluta compaixão, um verdadeiro bodhisattva, poderá não se afogar no mar de sofrimento que nos rodeia a todos?
A resposta de Hôgen é extensa, por isso não vou incluí-la aqui na totalidade, mas cito uma parte:
"O bodhisattva não se afoga no mar do sofrimento, suavemente deixa-se afundar nele. A cruz do Cristo, que representa o sofrimento do mundo humano, está presente na posição sentada do Buda. A posição sentada do Buda e a cruz de Cristo, uma vez encontradas e experimentadas, são ambas um só e mesmo caminho da vida original; ambas nos penetrem.
Sofrimento e vida coexistem inevitavelmente e são tão inseparáveis como a forma o é da sua sombra. Necessitamos dos nossos corpos e vidas para realizarmos a compaixão por todos os seres; tal como Buda necessitou do seu corpo para se sentar em zazen; tal como Cristo necessitou do seu para estar na cruz. Não podemos experimentar o zazen cósmico do nosso corpo, sem deixar de integrar a natureza dessas duas realidades.
Os bodhisattvas sentem como sua a dor dos outros. Por isso, este voto emerge do fundo da própria compaixão:
«São inumeráveis os seres sensíveis:
Faço o voto de os salvar a todos.»
O sofrimento que é causado pelo nascimento, pela velhice, pela doença, pela morte, pelo desejo e pela incapacidade de realizarmos os nossos votos, esse sofrimento permanece connosco ao longo de toda a nossa vida. Tal como a mãe que não consegue dormir em paz se o seu filho chora ou está doente, assim um bodhisattva tem apenas um desejo (ou sofrimento), o de ajudar os outros. Esta é a sua única «doença» ou «limitação». É este o único papel que lhe está reservado no decurso do tempo, através do espaço.
Os bodhisattvas continuam a viver neste mundo para poderem cumprir o seu desejo profundamente compassivo. Vivem para nos ajudarem a alcançar a outra margem. Esse seu único desejo impede-os necessariamente de permanecer na perfeição final do Nirvana."
Já agora, para quem não conhece, o último livro do mestre Zen Hôgen Yamahata publicado em Portugal, Folhas Caem, um Novo Rebento, é lindíssimo.
imagem de http://www.openway.org.au
terça-feira, dezembro 28, 2004
Passos
Um excerto de mais um texto sobre a atenção plena:
"quando vocês caminham daqui para a cozinha para servir a comida, não digam "eu tenho que caminhar até à cozinha para pegar comida", não digam "eu tenho.” Digam, "eu estou a usufruir do caminhar até à cozinha", e cada passo é por si só um fim. Os passos já não são mais um meio para se chegar a um fim. Isto é muito importante na prática budista. Não há nenhuma distinção entre meios e fins. No mundo se diz, "farei tudo para alcançar aquele fim.” Não é assim na prática budista porque tudo o que se faz é por si só um fim. Tudo o que se faz deveria ser em termos do Dharma, o que significa que tudo o que fazemos deveria permitir o cultivo da liberdade, da solidez e da felicidade. Lembrem-se: não há nenhum caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho. Não há nenhum caminho para o conhecimento, o conhecimento é o caminho. Toda a vez que dás um passo, fazes um acto de conhecimento. Conhecimento é a consciência. Consciência é a capacidade de estar atento ao que está acontecendo, e isso é conhecimento. Eu estou desperto pelo facto de que estou a dar um passo. Cada passo tem seu próprio valor. Todo o acto, todo o passo que fazes deveria ser um acto de conhecimento, uma obra de arte. Deve haver beleza nisto, deve haver o bem, o belo, e o verdadeiro."
Thich Nhat Hanh, Consciência do Corpo
"quando vocês caminham daqui para a cozinha para servir a comida, não digam "eu tenho que caminhar até à cozinha para pegar comida", não digam "eu tenho.” Digam, "eu estou a usufruir do caminhar até à cozinha", e cada passo é por si só um fim. Os passos já não são mais um meio para se chegar a um fim. Isto é muito importante na prática budista. Não há nenhuma distinção entre meios e fins. No mundo se diz, "farei tudo para alcançar aquele fim.” Não é assim na prática budista porque tudo o que se faz é por si só um fim. Tudo o que se faz deveria ser em termos do Dharma, o que significa que tudo o que fazemos deveria permitir o cultivo da liberdade, da solidez e da felicidade. Lembrem-se: não há nenhum caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho. Não há nenhum caminho para o conhecimento, o conhecimento é o caminho. Toda a vez que dás um passo, fazes um acto de conhecimento. Conhecimento é a consciência. Consciência é a capacidade de estar atento ao que está acontecendo, e isso é conhecimento. Eu estou desperto pelo facto de que estou a dar um passo. Cada passo tem seu próprio valor. Todo o acto, todo o passo que fazes deveria ser um acto de conhecimento, uma obra de arte. Deve haver beleza nisto, deve haver o bem, o belo, e o verdadeiro."
Thich Nhat Hanh, Consciência do Corpo
Haiku de Issa Kobayashi
Em vão o menino tentava
Segurar uma gota de orvalho
Entre o polegar e o indicador
Obrigado ao 1001-Orientes
Segurar uma gota de orvalho
Entre o polegar e o indicador
Obrigado ao 1001-Orientes
segunda-feira, dezembro 27, 2004
Ocupar o tempo
Saint-Éxupery, escritor, amante do deserto e pioneiro da aviação, aterrou um dia no Sahara junto de uma caravana Tuareg. Conversando com os viajantes disse: "Com este aparelho (o avião) atravesso em 2 horas a quantidade de deserto que vos leva 2 meses a percorrer." Ao que os Tuaregs, intrigados, perguntaram: "E o que é faz no resto do tempo?".
lido algures
lido algures
domingo, dezembro 26, 2004
Retiro em "la Ramallosa"
Um convite dos nossos irmãos galegos: um retiro de 4 a 6 de Março, orientado por Lama Neldjorpa Antonio, do Instituto Karma Ling. O retiro terá lugar num mosteiro de irmãs católicas perto de Vigo (não é longe para nós!). A chegada está prevista para sexta-feira pelas 21h e a despedida será no domingo depois do almoço. Os nossos hermanos estão a "traballar con moita ilusion para que todo sexa de probeito para todos" - acredito! :)
lama Antonio (à esquerda) na Índia com um lama butanês
lama Antonio (à esquerda) na Índia com um lama butanês
sexta-feira, dezembro 24, 2004
como um regato
como um regato
a abrir passagem
pelas fendas cobertas de musgo
também eu, tranquilamente
me torno claro e transparente
Ryokan
a abrir passagem
pelas fendas cobertas de musgo
também eu, tranquilamente
me torno claro e transparente
Ryokan
Um Eco-Natal
Já agora...
http://gaia.org.pt/econatal/
e como "alguém" disse: "Podemos criar a nossa vida da mesma forma que um artista cria uma obra de arte. As nossas vidas são o médium através do qual expressamos a nossa sabedoria criativa."
http://gaia.org.pt/econatal/
e como "alguém" disse: "Podemos criar a nossa vida da mesma forma que um artista cria uma obra de arte. As nossas vidas são o médium através do qual expressamos a nossa sabedoria criativa."
quinta-feira, dezembro 23, 2004
Ainda sobre a prática
If you are concentrated on your breathing you will forget yourself, and if you forget yourself you will be concentrated on your breathing. I do not know which is first. So actually there is no need to try too hard to be concentrated on your breathing. Just do as much as you can.
Shunryu Suzuki
Zen Mind, Beginner's Mind
Shunryu Suzuki
Zen Mind, Beginner's Mind
quarta-feira, dezembro 22, 2004
Como praticar?
Instruções de meditação lidas no nosso último encontro das quintas:
Encontra uma postura confortável, sentado de pernas cruzadas numa almofada, ajoelhado num banco de meditação, ou ainda sentado numa cadeira. Conserva as costas direitas, mas sem tensão. Deixa as mãos repousarem à vontade nos joelhos ou no regaço. Pode levar algum tempo e experimentação até encontrares a postura em que te sintas mais à vontade, mas ao praticar, rapidamente encontras “o teu lugar”. Fecha suavemente os olhos e deixa a tua atenção estabelecer-se na consciência da postura do teu corpo. Relaxa, sente o teu corpo tal como é. Podes fazer muito levemente uma anotação mental silenciosa ou pôr uma etiqueta – “sentar” –, para ajudar a mente a ligar-se a esta experiência. Enquanto relaxas mais e mais na consciência do teu corpo, abre-te para a experiência de ouvir. Presta atenção a todos os sons que surjam. Podem ser altos e até agressivos. Podem ser suaves barulhos de fundo. Pode ser o som do silêncio. Simplesmente ouve, como se estivesses a ouvir a tua música favorita. Não penses no que é que está a produzir o som nem antecipes o que pode vir a produzir-se. Apenas há a vibração do som, a aparecer e a desaparecer no espaço aberto e claro da tua consciência. Podes começar a notar algumas coisas em relação a esta experiência. Os sons parecem surgir bastante espontaneamente e, quando a mente não está distraída, podem ser ouvidos sem esforço. A natureza da mente é desperta. Quando não estamos perdidos em pensamentos ou sonhos, ouvimos todos os sons com muita clareza e facilidade.
Conserva-te na consciência da tua postura, aberto aos sons conforme vão e vêm. Deste lugar de consciência ampla e aberta, começa a ligar-te com a sensação de cada respirar, conforme entra e sai do corpo. Deixa que cada respiração se faça no seu próprio ritmo, à sua própria maneira. Não há uma respiração “certa”. Isto não é um exercício de respiração, é um exercício de atenção. Repara como as sensações da respiração aparecem da mesma maneira que os sons, espontaneamente, sem esforço. Em que lugar do corpo sentes a respiração mais claramente? É nas narinas enquanto o ar as atravessa, ou é o movimento do peito ou do abdómen? Mantém a atenção concentrada no lugar onde as sensações do respirar são predominantes. Mais tarde, é possível estar simplesmente com cada respiração seja onde for que surja.
Usar a técnica de anotar mentalmente quando respiras ajuda também a estabilizar a atenção. Podes usar a anotação “entrar/sair” se sentires a respiração no nariz, ou “subir/descer” se sentires o movimento do abdómen ou do peito. Seja qual for a palavra que escolheres, é importante que a uses de uma forma suave, para não interferir com a experiência directa. Não estás a controlar a respiração com a anotação – a anotação é simplesmente uma ferramenta para manter a atenção no que está a acontecer. Conforme a prática de meditação se torna mais profunda, a anotação pode desaparecer, deixando simplesmente a percepção da experiência, mas no princípio da prática, a anotação pode ajudar muito.
A respiração serve como uma âncora, um objecto primeiro de atenção, ao qual podes voltar sempre e sempre. Este treino da atenção encontra-se em muitas tradições espirituais. S. Francisco de Sales expressou-o muito bem: “Se o coração vagueia ou está distraído, trá-lo suavemente de volta ao lugar. E mesmo que durante toda a hora não faças mais do que trazer o teu coração de volta, mesmo que tenha partido de cada vez que o trouxeste de volta, a tua hora foi muito bem usada.”
É bom lembrar que o nosso esforço é estar consciente de uma respiração de cada vez. Ou talvez apenas de meia respiração. Nas palavras do Buda “ao inspirar, sei que estou a inspirar; ao expirar sei que estou a expirar.” É muito simples.
Pois... ;)
(excerto do livro One Dharma, de Joseph Goldstein)
Encontra uma postura confortável, sentado de pernas cruzadas numa almofada, ajoelhado num banco de meditação, ou ainda sentado numa cadeira. Conserva as costas direitas, mas sem tensão. Deixa as mãos repousarem à vontade nos joelhos ou no regaço. Pode levar algum tempo e experimentação até encontrares a postura em que te sintas mais à vontade, mas ao praticar, rapidamente encontras “o teu lugar”. Fecha suavemente os olhos e deixa a tua atenção estabelecer-se na consciência da postura do teu corpo. Relaxa, sente o teu corpo tal como é. Podes fazer muito levemente uma anotação mental silenciosa ou pôr uma etiqueta – “sentar” –, para ajudar a mente a ligar-se a esta experiência. Enquanto relaxas mais e mais na consciência do teu corpo, abre-te para a experiência de ouvir. Presta atenção a todos os sons que surjam. Podem ser altos e até agressivos. Podem ser suaves barulhos de fundo. Pode ser o som do silêncio. Simplesmente ouve, como se estivesses a ouvir a tua música favorita. Não penses no que é que está a produzir o som nem antecipes o que pode vir a produzir-se. Apenas há a vibração do som, a aparecer e a desaparecer no espaço aberto e claro da tua consciência. Podes começar a notar algumas coisas em relação a esta experiência. Os sons parecem surgir bastante espontaneamente e, quando a mente não está distraída, podem ser ouvidos sem esforço. A natureza da mente é desperta. Quando não estamos perdidos em pensamentos ou sonhos, ouvimos todos os sons com muita clareza e facilidade.
Conserva-te na consciência da tua postura, aberto aos sons conforme vão e vêm. Deste lugar de consciência ampla e aberta, começa a ligar-te com a sensação de cada respirar, conforme entra e sai do corpo. Deixa que cada respiração se faça no seu próprio ritmo, à sua própria maneira. Não há uma respiração “certa”. Isto não é um exercício de respiração, é um exercício de atenção. Repara como as sensações da respiração aparecem da mesma maneira que os sons, espontaneamente, sem esforço. Em que lugar do corpo sentes a respiração mais claramente? É nas narinas enquanto o ar as atravessa, ou é o movimento do peito ou do abdómen? Mantém a atenção concentrada no lugar onde as sensações do respirar são predominantes. Mais tarde, é possível estar simplesmente com cada respiração seja onde for que surja.
Usar a técnica de anotar mentalmente quando respiras ajuda também a estabilizar a atenção. Podes usar a anotação “entrar/sair” se sentires a respiração no nariz, ou “subir/descer” se sentires o movimento do abdómen ou do peito. Seja qual for a palavra que escolheres, é importante que a uses de uma forma suave, para não interferir com a experiência directa. Não estás a controlar a respiração com a anotação – a anotação é simplesmente uma ferramenta para manter a atenção no que está a acontecer. Conforme a prática de meditação se torna mais profunda, a anotação pode desaparecer, deixando simplesmente a percepção da experiência, mas no princípio da prática, a anotação pode ajudar muito.
A respiração serve como uma âncora, um objecto primeiro de atenção, ao qual podes voltar sempre e sempre. Este treino da atenção encontra-se em muitas tradições espirituais. S. Francisco de Sales expressou-o muito bem: “Se o coração vagueia ou está distraído, trá-lo suavemente de volta ao lugar. E mesmo que durante toda a hora não faças mais do que trazer o teu coração de volta, mesmo que tenha partido de cada vez que o trouxeste de volta, a tua hora foi muito bem usada.”
É bom lembrar que o nosso esforço é estar consciente de uma respiração de cada vez. Ou talvez apenas de meia respiração. Nas palavras do Buda “ao inspirar, sei que estou a inspirar; ao expirar sei que estou a expirar.” É muito simples.
Pois... ;)
(excerto do livro One Dharma, de Joseph Goldstein)
terça-feira, dezembro 21, 2004
sexta-feira, dezembro 17, 2004
terça-feira, dezembro 14, 2004
segunda-feira, dezembro 13, 2004
Retiro e passagem de ano
Retiro e Passagem de Ano Budista, de 31 de Dez de 2004 a 1 ou 2 de Jan de 2005, Centro Pallas, localidade do Couto, perto de Caldas da Rainha
"Desperta e descobre que és os olhos do mundo. Desperta agora, descobre seres a canção que a manhã traz" Longchenpa
"Desperta e descobre que és os olhos do mundo. Desperta agora, descobre seres a canção que a manhã traz" Longchenpa
luz interior
Na busca interior, muitos budistas fizeram sacrifícios, e tiveram muitas vezes que renunciar a pequenas coisas confortáveis para atingir a calma mental, através da meditação. Mas quantos o percebem logo? Lembram-se da estória de Parcifal e do Graal? Mesmo os melhores por vezes não percebem a primeira vez que encontram essa luz interior, o graal do nosso espírito, em que a terra é de novo sagrada, a água volta a brotar da fonte, e para toda a eternidade se ilumina o graal nas nossas mãos... porque se começou a meditar simplesmente um minuto por dia.
Ao meditar, vizualizar cada célula do corpo como uma célula de luz, é uma forma de cura.
"O poder curativo da mente", de Tulku Thondup, Ed. Pensamento, 1998
Ao meditar, vizualizar cada célula do corpo como uma célula de luz, é uma forma de cura.
"O poder curativo da mente", de Tulku Thondup, Ed. Pensamento, 1998
sábado, dezembro 11, 2004
Solidariedade
No site Free Tibet decorre uma campanha urgente a favor de Tenzin Deleg Rinpoche.
No Japão, está previsto um sismo num área particularmente sensível, pois tem várias centrais nucleares. Decorre uma campanha de envio de assinaturas para parar Genpatsu-Shinsai (centros nucleares da área). O site é em japonês, mas tem uma versão em PDF da petição à esquerda, onde diz "English"
Já agora, para estar mais alerta, uma volta pelo site da Amnistia Internacional - secção portuguesa, e pelas páginas da Animal.
A AMIarte, núcleo da Delegação Norte da Fundação AMI, tem vindo a promover vários eventos a favor de causas sociais. No próximo dia 16 de Dezembro, às 21h30, o Auditório da Fundação Engº António de Almeida acolhe o pianista Constantin Sandu - a receita de bilheteira reverte inteiramente a favor deste urgente projecto de acolhimento e reintegração social dos sem-abrigo da cidade (já repararam como há cada vez mais?). As reservas poderão ser feitas para a Fundação AMI - Assistência Médica Internacional - através de 225100701. Preço dos bilhetes: 15 euros
No Japão, está previsto um sismo num área particularmente sensível, pois tem várias centrais nucleares. Decorre uma campanha de envio de assinaturas para parar Genpatsu-Shinsai (centros nucleares da área). O site é em japonês, mas tem uma versão em PDF da petição à esquerda, onde diz "English"
Já agora, para estar mais alerta, uma volta pelo site da Amnistia Internacional - secção portuguesa, e pelas páginas da Animal.
A AMIarte, núcleo da Delegação Norte da Fundação AMI, tem vindo a promover vários eventos a favor de causas sociais. No próximo dia 16 de Dezembro, às 21h30, o Auditório da Fundação Engº António de Almeida acolhe o pianista Constantin Sandu - a receita de bilheteira reverte inteiramente a favor deste urgente projecto de acolhimento e reintegração social dos sem-abrigo da cidade (já repararam como há cada vez mais?). As reservas poderão ser feitas para a Fundação AMI - Assistência Médica Internacional - através de 225100701. Preço dos bilhetes: 15 euros
A Postura
"A prática do zazen requer detida atenção para a postura, pois no zen, a forma é o vazio e o vazio é a forma. Logo, não negligenciar a forma é vital. Esta postura tem como base três pontos tocando no chão, os dois joelhos e a base da coluna, numa pequena almofada, chamada zafu. A coluna deve estar perfeitamente recta. Queixo puxado para dentro, força no ponto de acupuntura kikai, VC6, a 3 dedos abaixo do umbigo, que é o ponto de concentração do zazen. A mente deve ser despertada sem se fixar em lugar algum. Como fazer isto? A parte física da postura não deve ser negligenciada, pois quando estamos felizes a postura está naturalmente ajustada, e ajustando a postura, ficamos naturalmente felizes."
em O que é Budismo? palestra dada em Buenos Aires por Ryotan Tokuda Igarashi, para um grupo de psicólogos, em Outubro de 1983
em O que é Budismo? palestra dada em Buenos Aires por Ryotan Tokuda Igarashi, para um grupo de psicólogos, em Outubro de 1983
Encontrar um professor
É engraçado ler alguém que está do outro lado do oceano falar de uma pessoa que já conhecemos. Sobretudo no contexto da relação professor-estudante do Dharma. O músico Stuart Davis (que já referi atrás) fala da relação que está a estabelecer com Genpo Roshi, que é nada mais nada menos que o roshi que fez a transmissão do Dharma a Catherine Genno Sensei (que orientou o nosso retiro Zen).
Embora tenha estado no centro dele em Utah, na altura só conheci Tenkei Coppens Sensei. Mais tarde fiz um retiro Big Mind com Genpo Roshi na Holanda. Inesquecível. O processo Big Mind é uma incrível experiência de abertura e expansão. E é mesmo muito divertido. Ele mencionou que nunca tinha vindo a Portugal... bom, parecia dizer que gostaria de vir até cá :)
Embora tenha estado no centro dele em Utah, na altura só conheci Tenkei Coppens Sensei. Mais tarde fiz um retiro Big Mind com Genpo Roshi na Holanda. Inesquecível. O processo Big Mind é uma incrível experiência de abertura e expansão. E é mesmo muito divertido. Ele mencionou que nunca tinha vindo a Portugal... bom, parecia dizer que gostaria de vir até cá :)
Traduções
Estive a ler um artigo interessante sobre a tradução dos famosos versos de Dogen, que em inglês tenho encontrado assim:
To study the Way is to study the self.
To study the self is to forget the self.
To forget the self is to be enlightened by all things.
To be enlightened by all things is to remove the barriers between one’s self and others.
A tradução proposta passaria a ser:
Following the Buddha Way really means following yourself.
Following yourself really means forgetting yourself.
Forgetting yourself really means trusting reality.
And trusting reality really means dissolving bodymindedness both within and without.
Seguir a Via de Buda realmente significa seguir-se a si mesmo.
Seguir-se a si mesmo realmente significa esquecer-se de si mesmo.
Esquecer-se de si mesmo realmente significa confiar na realidade.
E confiar na realidade realmente significa dissolver o corpo-mente por dentro e por fora.
To study the Way is to study the self.
To study the self is to forget the self.
To forget the self is to be enlightened by all things.
To be enlightened by all things is to remove the barriers between one’s self and others.
A tradução proposta passaria a ser:
Following the Buddha Way really means following yourself.
Following yourself really means forgetting yourself.
Forgetting yourself really means trusting reality.
And trusting reality really means dissolving bodymindedness both within and without.
Seguir a Via de Buda realmente significa seguir-se a si mesmo.
Seguir-se a si mesmo realmente significa esquecer-se de si mesmo.
Esquecer-se de si mesmo realmente significa confiar na realidade.
E confiar na realidade realmente significa dissolver o corpo-mente por dentro e por fora.
sexta-feira, dezembro 10, 2004
Buda o Iluminado
As histórias tradicionais sobre o Buda Shākyamuni e as suas vidas passadas estão repletas de alegorias que foram sendo acrescentadas através dos tempos e dos lugares. Podemos contudo encontrar uma base comum que se reflecte nos aspectos essenciais da vida e do ensinamento de Buda tais como são apresentados por todas as tradições. O Dharmanet tem um excelente dossier sobre o Buda histórico: Textos clássicos. Percorrer as várias páginas do dossier é uma descoberta... para não falar do deslumbre de uma das minhas reproduções favoritas do Boddhisattva, da caverna de Ajanta :)
imagem de www.dharmanet.com.br
É bom recordar que vivemos numa era afortunada (às vezes ninguém diria) porque cinco budas (ou mil budas, segundo algumas tradições) aparecerão para ensinar o caminho da iluminação. Destes budas, Shākyamuni foi o quarto. Maitreya será o próximo Buda. No entanto é sombrio imaginar um mundo assim:
"Maitreya aparecerá em nosso mundo quando não houver mais praticantes com realizações espirituais; quando os métodos que conduzam ao despertar (absorções meditativas, insights, caminhos espirituais, frutos espirituais e preceitos) tiverem desaparecido; quando o aprendizado das três seções do cânone buddhista tiver desaparecido; quando os símbolos da comunidade buddhista (mantos e votos monásticos) tiverem desaparecido; e quando as relíquias do Buddha Śākyamuni tiverem desaparecido." Segundo os textos, daqui a 2500 anos.
imagem de www.dharmanet.com.br
É bom recordar que vivemos numa era afortunada (às vezes ninguém diria) porque cinco budas (ou mil budas, segundo algumas tradições) aparecerão para ensinar o caminho da iluminação. Destes budas, Shākyamuni foi o quarto. Maitreya será o próximo Buda. No entanto é sombrio imaginar um mundo assim:
"Maitreya aparecerá em nosso mundo quando não houver mais praticantes com realizações espirituais; quando os métodos que conduzam ao despertar (absorções meditativas, insights, caminhos espirituais, frutos espirituais e preceitos) tiverem desaparecido; quando o aprendizado das três seções do cânone buddhista tiver desaparecido; quando os símbolos da comunidade buddhista (mantos e votos monásticos) tiverem desaparecido; e quando as relíquias do Buddha Śākyamuni tiverem desaparecido." Segundo os textos, daqui a 2500 anos.
quinta-feira, dezembro 09, 2004
terça-feira, dezembro 07, 2004
Encontro com a Tsering
O site da Tsering mudou de endereço: Tsering Paldrön
Aproveito para lembrar que ela vai estar no Porto em Fevereiro. Estamos cheios de ideias para um encontro com um frade católico: "O que aproxima as religiões?" (a 12 de Fevereiro) e no domingo teremos um seminário sobre o tema "Apego e amor, como distinguir" - será o desapego o mesmo que indiferença? Como distinguir o "amor" baseado na posse e o amor incondicional; o amor que escraviza e o amor que liberta.
Aproveito para lembrar que ela vai estar no Porto em Fevereiro. Estamos cheios de ideias para um encontro com um frade católico: "O que aproxima as religiões?" (a 12 de Fevereiro) e no domingo teremos um seminário sobre o tema "Apego e amor, como distinguir" - será o desapego o mesmo que indiferença? Como distinguir o "amor" baseado na posse e o amor incondicional; o amor que escraviza e o amor que liberta.
segunda-feira, dezembro 06, 2004
Os fundamentos da atenção plena
Na próxima quinta-feira vamos "mergulhar" nos fundamentos da atenção plena tal como foram expostos no Sattipatthana Sutta. Sobre esta prática, o Buda disse: "Bhikkhus, qualquer um que desenvolva esses quatro fundamentos da atenção plena dessa maneira durante sete anos, um de dois resultados pode ser esperado: ou o conhecimento supremo aqui e agora, ou o ‘não-retorno’ se ainda houver algum resíduo de apego."
Um texto sobre os Fundamentos da Atenção Plena tal como foi explicado por Ajaan Lee Dhammadharo.
Um texto sobre os Fundamentos da Atenção Plena tal como foi explicado por Ajaan Lee Dhammadharo.
domingo, dezembro 05, 2004
Nós somos o que pensamos
E quanto aos "mundos que criamos", há este excerto do Dhammapada:
Nós somos o que pensamos.
Tudo o que somos emerge com os nossos pensamentos.
Com os pensamentos fazemos o mundo.
Se falares ou agires com um espírito impuro
Os problemas seguir-te-ão
Como a roda segue o boi que puxa a carroça.
Nós somos o que pensamos.
Tudo o que somos emerge com os nossos pensamentos.
Com os nossos pensamentos fazemos o mundo.
Se falares ou agires com um espírito puro, a felicidade seguir-te-á
Como a tua sombra, constantemente.
Como pode um espírito perturbado
Compreender o caminho?
(de "Os Ensinamentos do Buda" tradução de Conceição Gomes e Tsering Paldrön, ed. Presença)
Nós somos o que pensamos.
Tudo o que somos emerge com os nossos pensamentos.
Com os pensamentos fazemos o mundo.
Se falares ou agires com um espírito impuro
Os problemas seguir-te-ão
Como a roda segue o boi que puxa a carroça.
Nós somos o que pensamos.
Tudo o que somos emerge com os nossos pensamentos.
Com os nossos pensamentos fazemos o mundo.
Se falares ou agires com um espírito puro, a felicidade seguir-te-á
Como a tua sombra, constantemente.
Como pode um espírito perturbado
Compreender o caminho?
(de "Os Ensinamentos do Buda" tradução de Conceição Gomes e Tsering Paldrön, ed. Presença)
Meditação
O "trabalho" da Meditação é muito bem descrito neste texto de "Um Dharma" de Joseph Goldstein que voltámos a ler ontem depois da meditação.
Portanto começamos com um simples objecto de atenção, como a respiração, e treinamo-nos para voltar a ele sempre que ficamos distraídos, vezes sem conta. A primeira percepção no hábito da distracção leva-nos a compreender o valor e a importância de firmar a nossa atenção porque os mundos que criamos em nós mesmos e à nossa volta todos têm origem na nossa mente. Quantos mundos-mente diferentes habitamos nos nossos pensamentos, mesmo entre uma respiração e outra? E quantas acções iniciamos por causa destes pensamentos que passam despercebidos?
Ao tomar primeiro um objecto particular de concentração e depois treinar a mente para ficar focada nesse objecto, podemos desenvolver calma e tranquilidade. O objecto pode ser a respiração, um som ou mantra, uma imagem visual, ou certas reflexões – todos servem para concentrar a mente. Ao princípio, isto requer o esforço de voltar continuamente, de cada vez que a mente vagueia. Com a prática, contudo, a mente fica treinada, e então repousa facilmente no objecto escolhido.
Para somar aos sentimentos de tranquilidade e paz, o estado de concentração também se torna a base para uma percepção e sabedoria profundas. Vamos dar por nós a abrir para o sofrimento do mundo mas igualmente para a sua imensa beleza. Através do poder de uma maior atenção, uma simples experiência torna-se viva magicamente: a silhueta de um ramo contra o céu nocturno, ou árvores a balançar com o vento invisível. A forma como sentimos o mundo purifica-se, a percepção do mundo transforma-se. Marcel Proust escreveu: “A verdadeira viagem de descoberta consiste não em ver novas paisagens, mas em ter novos olhos.”
imagem de www.pantheism.net
Portanto começamos com um simples objecto de atenção, como a respiração, e treinamo-nos para voltar a ele sempre que ficamos distraídos, vezes sem conta. A primeira percepção no hábito da distracção leva-nos a compreender o valor e a importância de firmar a nossa atenção porque os mundos que criamos em nós mesmos e à nossa volta todos têm origem na nossa mente. Quantos mundos-mente diferentes habitamos nos nossos pensamentos, mesmo entre uma respiração e outra? E quantas acções iniciamos por causa destes pensamentos que passam despercebidos?
Ao tomar primeiro um objecto particular de concentração e depois treinar a mente para ficar focada nesse objecto, podemos desenvolver calma e tranquilidade. O objecto pode ser a respiração, um som ou mantra, uma imagem visual, ou certas reflexões – todos servem para concentrar a mente. Ao princípio, isto requer o esforço de voltar continuamente, de cada vez que a mente vagueia. Com a prática, contudo, a mente fica treinada, e então repousa facilmente no objecto escolhido.
Para somar aos sentimentos de tranquilidade e paz, o estado de concentração também se torna a base para uma percepção e sabedoria profundas. Vamos dar por nós a abrir para o sofrimento do mundo mas igualmente para a sua imensa beleza. Através do poder de uma maior atenção, uma simples experiência torna-se viva magicamente: a silhueta de um ramo contra o céu nocturno, ou árvores a balançar com o vento invisível. A forma como sentimos o mundo purifica-se, a percepção do mundo transforma-se. Marcel Proust escreveu: “A verdadeira viagem de descoberta consiste não em ver novas paisagens, mas em ter novos olhos.”
imagem de www.pantheism.net
quarta-feira, dezembro 01, 2004
Retiro de três anos no Brasil
Para quem tenha possibilidades para fazer o retiro de 3 anos na tradição do Budismo tibetano (escola Kagyupa), temos a informação necessária para a candidatura. E como o retiro começa daqui a cerca de um ano, há algum tempo para se prepararem... o que não é pêra doce :) Segundo o Lama Trinlé o local é soberbo, a cerca de 30 min. da capital, e está a ser preparado para o retiro. Quanto ao programa, é o que foi definido por Kalu Rinpoche para os primeiros retiros a ter lugar em França.
Activismo social e prática pessoal
Do próximo texto das quintas:
"É necessário muita atenção para não alimentarmos a divisão entre meditação e acção social ao fazer julgamentos sobre o que as outras pessoas deveriam fazer com as suas vidas. Cada um de nós tem o seu ritmo de trabalho interior e de serviço exterior. Este ritmo pode ser de semanas, meses, anos e até vidas."
Nem preciso explicar como acho isto importante! E de qualquer forma sempre fui apologista do "live and let live!"
"É necessário muita atenção para não alimentarmos a divisão entre meditação e acção social ao fazer julgamentos sobre o que as outras pessoas deveriam fazer com as suas vidas. Cada um de nós tem o seu ritmo de trabalho interior e de serviço exterior. Este ritmo pode ser de semanas, meses, anos e até vidas."
Nem preciso explicar como acho isto importante! E de qualquer forma sempre fui apologista do "live and let live!"
Como a água reflecte os nossos sentimentos
Este foi um tema de conversa num intervalo da nossa formação em massagem do som, e embora o blog do Akasha já o tenha mencionado, acho isto tão interessante que aqui vai um link para um artigo online: Como a água reflecte os nossos sentimentos. É espantoso, sobretudo ao pensarmos que somos essencialmente compostos... de água! Fiquei particularmente impressionada com as imagens do cristal da Represa Fujiwara, antes e depois de uma oração. Parece que esta terra precisa de muitas orações!
Represa Fujiwara, depois da oferenda de uma oração
Represa Fujiwara, depois da oferenda de uma oração
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