quarta-feira, dezembro 29, 2004
Relato
O nosso irmão brasileiro Ricardo Sasaki, que já referi aqui, saiu da Tailândia mesmo antes do maremoto. Puxa!! Bem e a salvo - Karuna
Encarar a vida por si mesmo
Não resisto a mais outra :)
Durante todo o tempo que estive aqui, neste sesshin, o zazen quebrou o meu habitual modo de vida. Parece ser mais fácil em grupo; apoiamo-nos mutuamente e em conjunto parece que criamos algo. Mas o que sucederá depois, uma vez terminado o sesshin, quando tiver de encarar a vida por mim mesmo, sem um mestre? A minha vida parece-me geralmente tão fragmentada, sem nenhuma coordenação. Apenas desordem e desatenção. Procuro encará-la de frente, mas são tantas as possibilidades que se me apresentam, que às vezes sinto-me demasiado insignificante para as enfrentar a todas.
"Desordem? Não há mal nenhum nisso: a minha vida também é desordem. Talvez a excessiva elementaridade do zazen não permita que o tomes a sério nem que o tragas mentalmente contigo. Mas talvez haja momentos em que estejas ciente do ar que respiras e da água que bebes. Ambos também nos são tão familiares que nem lhes prestamos atenção, normalmente todos nos esquecemos deles.
A simplicidade do sentar e do respirar permite-nos a plena consciência de esta simplicidade cósmica. A trindade do zazen é a vida natural e original; mas sempre que vos explico isto, a vossa tendência é para o esquecer. Do mesmo modo, esquecem-se do ar que respiram e da roupa interior que vestem todo os dias!
Por favor, não te preocupes com o amanhã. Não é já suficiente encontrarmo-nos aqui? Eu não acho que tenhas razão quando dizes não teres um mestre na tua via diária. É provável que não tenhas um mestre específico que possas seguir e em quem tu possas confiar, mas será que não podes ver por ti próprio se andas no Caminho Aberto, sem esse agente de viagens?
Se realmente encontraste isto, já encontraste o teu verdadeiro mestre. Não é necessário que sigas pelo caminho comigo; o que é necessário é seguires o teu próprio Buda em ti.
O que criamos nós juntos? Sempre que pessoas se encontram em grupo, geram-se diferentes tipos de atmosferas, umas positivas outras negativas.
Nessas circunstâncias, é possível ser-se profundamente inspirado, tanto pela amizade espiritual como pela harmoniosa energia que é liberta pelo trabalho e pela prática. Pode também suceder, por outro lado, sermos facilmente arrebatados e cegarmos com a euforia gerada em todos os diferentes níveis psicológicos e emocionais.
Às vezes, há grupos que confiam na energia colectiva para fortalecer as suas práticas ou para encorajarem individualmente a «transformação» nos participantes. É inevitável sermos tocados, mais tarde ou mais cedo, por todos esses tipos de atmosferas ou pelas actividades em grupo. A resposta depende muito de se ter ou não encontrado a sua própria e real direcção na Vida."
Durante todo o tempo que estive aqui, neste sesshin, o zazen quebrou o meu habitual modo de vida. Parece ser mais fácil em grupo; apoiamo-nos mutuamente e em conjunto parece que criamos algo. Mas o que sucederá depois, uma vez terminado o sesshin, quando tiver de encarar a vida por mim mesmo, sem um mestre? A minha vida parece-me geralmente tão fragmentada, sem nenhuma coordenação. Apenas desordem e desatenção. Procuro encará-la de frente, mas são tantas as possibilidades que se me apresentam, que às vezes sinto-me demasiado insignificante para as enfrentar a todas.
"Desordem? Não há mal nenhum nisso: a minha vida também é desordem. Talvez a excessiva elementaridade do zazen não permita que o tomes a sério nem que o tragas mentalmente contigo. Mas talvez haja momentos em que estejas ciente do ar que respiras e da água que bebes. Ambos também nos são tão familiares que nem lhes prestamos atenção, normalmente todos nos esquecemos deles.
A simplicidade do sentar e do respirar permite-nos a plena consciência de esta simplicidade cósmica. A trindade do zazen é a vida natural e original; mas sempre que vos explico isto, a vossa tendência é para o esquecer. Do mesmo modo, esquecem-se do ar que respiram e da roupa interior que vestem todo os dias!
Por favor, não te preocupes com o amanhã. Não é já suficiente encontrarmo-nos aqui? Eu não acho que tenhas razão quando dizes não teres um mestre na tua via diária. É provável que não tenhas um mestre específico que possas seguir e em quem tu possas confiar, mas será que não podes ver por ti próprio se andas no Caminho Aberto, sem esse agente de viagens?
Se realmente encontraste isto, já encontraste o teu verdadeiro mestre. Não é necessário que sigas pelo caminho comigo; o que é necessário é seguires o teu próprio Buda em ti.
O que criamos nós juntos? Sempre que pessoas se encontram em grupo, geram-se diferentes tipos de atmosferas, umas positivas outras negativas.
Nessas circunstâncias, é possível ser-se profundamente inspirado, tanto pela amizade espiritual como pela harmoniosa energia que é liberta pelo trabalho e pela prática. Pode também suceder, por outro lado, sermos facilmente arrebatados e cegarmos com a euforia gerada em todos os diferentes níveis psicológicos e emocionais.
Às vezes, há grupos que confiam na energia colectiva para fortalecer as suas práticas ou para encorajarem individualmente a «transformação» nos participantes. É inevitável sermos tocados, mais tarde ou mais cedo, por todos esses tipos de atmosferas ou pelas actividades em grupo. A resposta depende muito de se ter ou não encontrado a sua própria e real direcção na Vida."
Ontem esmaguei acidentalmente um pequeno caracol
Hoje recebi do José Eduardo um texto de perguntas e respostas do primeiro livro do mestre Zen Hôgen publicado em Portugal pela Assírio e Alvim, Caminho Aberto (esgotadíssimo), com a autorização de publicar esse artigo online no nosso site. Ao ler na diagonal, parei nesta pergunta:
Ontem esmaguei acidentalmente um pequeno caracol. Este pequeno incidente fez-me ver o terrível sofrimento e a dor sem sentido que existem neste mundo. Sei que o sofrimento é uma parte inevitável da vida, mas como é que alguém com absoluta compaixão, um verdadeiro bodhisattva, poderá não se afogar no mar de sofrimento que nos rodeia a todos?
A resposta de Hôgen é extensa, por isso não vou incluí-la aqui na totalidade, mas cito uma parte:
"O bodhisattva não se afoga no mar do sofrimento, suavemente deixa-se afundar nele. A cruz do Cristo, que representa o sofrimento do mundo humano, está presente na posição sentada do Buda. A posição sentada do Buda e a cruz de Cristo, uma vez encontradas e experimentadas, são ambas um só e mesmo caminho da vida original; ambas nos penetrem.
Sofrimento e vida coexistem inevitavelmente e são tão inseparáveis como a forma o é da sua sombra. Necessitamos dos nossos corpos e vidas para realizarmos a compaixão por todos os seres; tal como Buda necessitou do seu corpo para se sentar em zazen; tal como Cristo necessitou do seu para estar na cruz. Não podemos experimentar o zazen cósmico do nosso corpo, sem deixar de integrar a natureza dessas duas realidades.
Os bodhisattvas sentem como sua a dor dos outros. Por isso, este voto emerge do fundo da própria compaixão:
«São inumeráveis os seres sensíveis:
Faço o voto de os salvar a todos.»
O sofrimento que é causado pelo nascimento, pela velhice, pela doença, pela morte, pelo desejo e pela incapacidade de realizarmos os nossos votos, esse sofrimento permanece connosco ao longo de toda a nossa vida. Tal como a mãe que não consegue dormir em paz se o seu filho chora ou está doente, assim um bodhisattva tem apenas um desejo (ou sofrimento), o de ajudar os outros. Esta é a sua única «doença» ou «limitação». É este o único papel que lhe está reservado no decurso do tempo, através do espaço.
Os bodhisattvas continuam a viver neste mundo para poderem cumprir o seu desejo profundamente compassivo. Vivem para nos ajudarem a alcançar a outra margem. Esse seu único desejo impede-os necessariamente de permanecer na perfeição final do Nirvana."
Já agora, para quem não conhece, o último livro do mestre Zen Hôgen Yamahata publicado em Portugal, Folhas Caem, um Novo Rebento, é lindíssimo.
imagem de http://www.openway.org.au
Ontem esmaguei acidentalmente um pequeno caracol. Este pequeno incidente fez-me ver o terrível sofrimento e a dor sem sentido que existem neste mundo. Sei que o sofrimento é uma parte inevitável da vida, mas como é que alguém com absoluta compaixão, um verdadeiro bodhisattva, poderá não se afogar no mar de sofrimento que nos rodeia a todos?
A resposta de Hôgen é extensa, por isso não vou incluí-la aqui na totalidade, mas cito uma parte:
"O bodhisattva não se afoga no mar do sofrimento, suavemente deixa-se afundar nele. A cruz do Cristo, que representa o sofrimento do mundo humano, está presente na posição sentada do Buda. A posição sentada do Buda e a cruz de Cristo, uma vez encontradas e experimentadas, são ambas um só e mesmo caminho da vida original; ambas nos penetrem.
Sofrimento e vida coexistem inevitavelmente e são tão inseparáveis como a forma o é da sua sombra. Necessitamos dos nossos corpos e vidas para realizarmos a compaixão por todos os seres; tal como Buda necessitou do seu corpo para se sentar em zazen; tal como Cristo necessitou do seu para estar na cruz. Não podemos experimentar o zazen cósmico do nosso corpo, sem deixar de integrar a natureza dessas duas realidades.
Os bodhisattvas sentem como sua a dor dos outros. Por isso, este voto emerge do fundo da própria compaixão:
«São inumeráveis os seres sensíveis:
Faço o voto de os salvar a todos.»
O sofrimento que é causado pelo nascimento, pela velhice, pela doença, pela morte, pelo desejo e pela incapacidade de realizarmos os nossos votos, esse sofrimento permanece connosco ao longo de toda a nossa vida. Tal como a mãe que não consegue dormir em paz se o seu filho chora ou está doente, assim um bodhisattva tem apenas um desejo (ou sofrimento), o de ajudar os outros. Esta é a sua única «doença» ou «limitação». É este o único papel que lhe está reservado no decurso do tempo, através do espaço.
Os bodhisattvas continuam a viver neste mundo para poderem cumprir o seu desejo profundamente compassivo. Vivem para nos ajudarem a alcançar a outra margem. Esse seu único desejo impede-os necessariamente de permanecer na perfeição final do Nirvana."
Já agora, para quem não conhece, o último livro do mestre Zen Hôgen Yamahata publicado em Portugal, Folhas Caem, um Novo Rebento, é lindíssimo.
imagem de http://www.openway.org.au
terça-feira, dezembro 28, 2004
Passos
Um excerto de mais um texto sobre a atenção plena:
"quando vocês caminham daqui para a cozinha para servir a comida, não digam "eu tenho que caminhar até à cozinha para pegar comida", não digam "eu tenho.” Digam, "eu estou a usufruir do caminhar até à cozinha", e cada passo é por si só um fim. Os passos já não são mais um meio para se chegar a um fim. Isto é muito importante na prática budista. Não há nenhuma distinção entre meios e fins. No mundo se diz, "farei tudo para alcançar aquele fim.” Não é assim na prática budista porque tudo o que se faz é por si só um fim. Tudo o que se faz deveria ser em termos do Dharma, o que significa que tudo o que fazemos deveria permitir o cultivo da liberdade, da solidez e da felicidade. Lembrem-se: não há nenhum caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho. Não há nenhum caminho para o conhecimento, o conhecimento é o caminho. Toda a vez que dás um passo, fazes um acto de conhecimento. Conhecimento é a consciência. Consciência é a capacidade de estar atento ao que está acontecendo, e isso é conhecimento. Eu estou desperto pelo facto de que estou a dar um passo. Cada passo tem seu próprio valor. Todo o acto, todo o passo que fazes deveria ser um acto de conhecimento, uma obra de arte. Deve haver beleza nisto, deve haver o bem, o belo, e o verdadeiro."
Thich Nhat Hanh, Consciência do Corpo
"quando vocês caminham daqui para a cozinha para servir a comida, não digam "eu tenho que caminhar até à cozinha para pegar comida", não digam "eu tenho.” Digam, "eu estou a usufruir do caminhar até à cozinha", e cada passo é por si só um fim. Os passos já não são mais um meio para se chegar a um fim. Isto é muito importante na prática budista. Não há nenhuma distinção entre meios e fins. No mundo se diz, "farei tudo para alcançar aquele fim.” Não é assim na prática budista porque tudo o que se faz é por si só um fim. Tudo o que se faz deveria ser em termos do Dharma, o que significa que tudo o que fazemos deveria permitir o cultivo da liberdade, da solidez e da felicidade. Lembrem-se: não há nenhum caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho. Não há nenhum caminho para o conhecimento, o conhecimento é o caminho. Toda a vez que dás um passo, fazes um acto de conhecimento. Conhecimento é a consciência. Consciência é a capacidade de estar atento ao que está acontecendo, e isso é conhecimento. Eu estou desperto pelo facto de que estou a dar um passo. Cada passo tem seu próprio valor. Todo o acto, todo o passo que fazes deveria ser um acto de conhecimento, uma obra de arte. Deve haver beleza nisto, deve haver o bem, o belo, e o verdadeiro."
Thich Nhat Hanh, Consciência do Corpo
Haiku de Issa Kobayashi
Em vão o menino tentava
Segurar uma gota de orvalho
Entre o polegar e o indicador
Obrigado ao 1001-Orientes
Segurar uma gota de orvalho
Entre o polegar e o indicador
Obrigado ao 1001-Orientes
segunda-feira, dezembro 27, 2004
Ocupar o tempo
Saint-Éxupery, escritor, amante do deserto e pioneiro da aviação, aterrou um dia no Sahara junto de uma caravana Tuareg. Conversando com os viajantes disse: "Com este aparelho (o avião) atravesso em 2 horas a quantidade de deserto que vos leva 2 meses a percorrer." Ao que os Tuaregs, intrigados, perguntaram: "E o que é faz no resto do tempo?".
lido algures
lido algures
domingo, dezembro 26, 2004
Retiro em "la Ramallosa"
Um convite dos nossos irmãos galegos: um retiro de 4 a 6 de Março, orientado por Lama Neldjorpa Antonio, do Instituto Karma Ling. O retiro terá lugar num mosteiro de irmãs católicas perto de Vigo (não é longe para nós!). A chegada está prevista para sexta-feira pelas 21h e a despedida será no domingo depois do almoço. Os nossos hermanos estão a "traballar con moita ilusion para que todo sexa de probeito para todos" - acredito! :)
lama Antonio (à esquerda) na Índia com um lama butanês
lama Antonio (à esquerda) na Índia com um lama butanês
sexta-feira, dezembro 24, 2004
como um regato
como um regato
a abrir passagem
pelas fendas cobertas de musgo
também eu, tranquilamente
me torno claro e transparente
Ryokan
a abrir passagem
pelas fendas cobertas de musgo
também eu, tranquilamente
me torno claro e transparente
Ryokan
Um Eco-Natal
Já agora...
http://gaia.org.pt/econatal/
e como "alguém" disse: "Podemos criar a nossa vida da mesma forma que um artista cria uma obra de arte. As nossas vidas são o médium através do qual expressamos a nossa sabedoria criativa."
http://gaia.org.pt/econatal/
e como "alguém" disse: "Podemos criar a nossa vida da mesma forma que um artista cria uma obra de arte. As nossas vidas são o médium através do qual expressamos a nossa sabedoria criativa."
quinta-feira, dezembro 23, 2004
Ainda sobre a prática
If you are concentrated on your breathing you will forget yourself, and if you forget yourself you will be concentrated on your breathing. I do not know which is first. So actually there is no need to try too hard to be concentrated on your breathing. Just do as much as you can.
Shunryu Suzuki
Zen Mind, Beginner's Mind
Shunryu Suzuki
Zen Mind, Beginner's Mind
quarta-feira, dezembro 22, 2004
Como praticar?
Instruções de meditação lidas no nosso último encontro das quintas:
Encontra uma postura confortável, sentado de pernas cruzadas numa almofada, ajoelhado num banco de meditação, ou ainda sentado numa cadeira. Conserva as costas direitas, mas sem tensão. Deixa as mãos repousarem à vontade nos joelhos ou no regaço. Pode levar algum tempo e experimentação até encontrares a postura em que te sintas mais à vontade, mas ao praticar, rapidamente encontras “o teu lugar”. Fecha suavemente os olhos e deixa a tua atenção estabelecer-se na consciência da postura do teu corpo. Relaxa, sente o teu corpo tal como é. Podes fazer muito levemente uma anotação mental silenciosa ou pôr uma etiqueta – “sentar” –, para ajudar a mente a ligar-se a esta experiência. Enquanto relaxas mais e mais na consciência do teu corpo, abre-te para a experiência de ouvir. Presta atenção a todos os sons que surjam. Podem ser altos e até agressivos. Podem ser suaves barulhos de fundo. Pode ser o som do silêncio. Simplesmente ouve, como se estivesses a ouvir a tua música favorita. Não penses no que é que está a produzir o som nem antecipes o que pode vir a produzir-se. Apenas há a vibração do som, a aparecer e a desaparecer no espaço aberto e claro da tua consciência. Podes começar a notar algumas coisas em relação a esta experiência. Os sons parecem surgir bastante espontaneamente e, quando a mente não está distraída, podem ser ouvidos sem esforço. A natureza da mente é desperta. Quando não estamos perdidos em pensamentos ou sonhos, ouvimos todos os sons com muita clareza e facilidade.
Conserva-te na consciência da tua postura, aberto aos sons conforme vão e vêm. Deste lugar de consciência ampla e aberta, começa a ligar-te com a sensação de cada respirar, conforme entra e sai do corpo. Deixa que cada respiração se faça no seu próprio ritmo, à sua própria maneira. Não há uma respiração “certa”. Isto não é um exercício de respiração, é um exercício de atenção. Repara como as sensações da respiração aparecem da mesma maneira que os sons, espontaneamente, sem esforço. Em que lugar do corpo sentes a respiração mais claramente? É nas narinas enquanto o ar as atravessa, ou é o movimento do peito ou do abdómen? Mantém a atenção concentrada no lugar onde as sensações do respirar são predominantes. Mais tarde, é possível estar simplesmente com cada respiração seja onde for que surja.
Usar a técnica de anotar mentalmente quando respiras ajuda também a estabilizar a atenção. Podes usar a anotação “entrar/sair” se sentires a respiração no nariz, ou “subir/descer” se sentires o movimento do abdómen ou do peito. Seja qual for a palavra que escolheres, é importante que a uses de uma forma suave, para não interferir com a experiência directa. Não estás a controlar a respiração com a anotação – a anotação é simplesmente uma ferramenta para manter a atenção no que está a acontecer. Conforme a prática de meditação se torna mais profunda, a anotação pode desaparecer, deixando simplesmente a percepção da experiência, mas no princípio da prática, a anotação pode ajudar muito.
A respiração serve como uma âncora, um objecto primeiro de atenção, ao qual podes voltar sempre e sempre. Este treino da atenção encontra-se em muitas tradições espirituais. S. Francisco de Sales expressou-o muito bem: “Se o coração vagueia ou está distraído, trá-lo suavemente de volta ao lugar. E mesmo que durante toda a hora não faças mais do que trazer o teu coração de volta, mesmo que tenha partido de cada vez que o trouxeste de volta, a tua hora foi muito bem usada.”
É bom lembrar que o nosso esforço é estar consciente de uma respiração de cada vez. Ou talvez apenas de meia respiração. Nas palavras do Buda “ao inspirar, sei que estou a inspirar; ao expirar sei que estou a expirar.” É muito simples.
Pois... ;)
(excerto do livro One Dharma, de Joseph Goldstein)
Encontra uma postura confortável, sentado de pernas cruzadas numa almofada, ajoelhado num banco de meditação, ou ainda sentado numa cadeira. Conserva as costas direitas, mas sem tensão. Deixa as mãos repousarem à vontade nos joelhos ou no regaço. Pode levar algum tempo e experimentação até encontrares a postura em que te sintas mais à vontade, mas ao praticar, rapidamente encontras “o teu lugar”. Fecha suavemente os olhos e deixa a tua atenção estabelecer-se na consciência da postura do teu corpo. Relaxa, sente o teu corpo tal como é. Podes fazer muito levemente uma anotação mental silenciosa ou pôr uma etiqueta – “sentar” –, para ajudar a mente a ligar-se a esta experiência. Enquanto relaxas mais e mais na consciência do teu corpo, abre-te para a experiência de ouvir. Presta atenção a todos os sons que surjam. Podem ser altos e até agressivos. Podem ser suaves barulhos de fundo. Pode ser o som do silêncio. Simplesmente ouve, como se estivesses a ouvir a tua música favorita. Não penses no que é que está a produzir o som nem antecipes o que pode vir a produzir-se. Apenas há a vibração do som, a aparecer e a desaparecer no espaço aberto e claro da tua consciência. Podes começar a notar algumas coisas em relação a esta experiência. Os sons parecem surgir bastante espontaneamente e, quando a mente não está distraída, podem ser ouvidos sem esforço. A natureza da mente é desperta. Quando não estamos perdidos em pensamentos ou sonhos, ouvimos todos os sons com muita clareza e facilidade.
Conserva-te na consciência da tua postura, aberto aos sons conforme vão e vêm. Deste lugar de consciência ampla e aberta, começa a ligar-te com a sensação de cada respirar, conforme entra e sai do corpo. Deixa que cada respiração se faça no seu próprio ritmo, à sua própria maneira. Não há uma respiração “certa”. Isto não é um exercício de respiração, é um exercício de atenção. Repara como as sensações da respiração aparecem da mesma maneira que os sons, espontaneamente, sem esforço. Em que lugar do corpo sentes a respiração mais claramente? É nas narinas enquanto o ar as atravessa, ou é o movimento do peito ou do abdómen? Mantém a atenção concentrada no lugar onde as sensações do respirar são predominantes. Mais tarde, é possível estar simplesmente com cada respiração seja onde for que surja.
Usar a técnica de anotar mentalmente quando respiras ajuda também a estabilizar a atenção. Podes usar a anotação “entrar/sair” se sentires a respiração no nariz, ou “subir/descer” se sentires o movimento do abdómen ou do peito. Seja qual for a palavra que escolheres, é importante que a uses de uma forma suave, para não interferir com a experiência directa. Não estás a controlar a respiração com a anotação – a anotação é simplesmente uma ferramenta para manter a atenção no que está a acontecer. Conforme a prática de meditação se torna mais profunda, a anotação pode desaparecer, deixando simplesmente a percepção da experiência, mas no princípio da prática, a anotação pode ajudar muito.
A respiração serve como uma âncora, um objecto primeiro de atenção, ao qual podes voltar sempre e sempre. Este treino da atenção encontra-se em muitas tradições espirituais. S. Francisco de Sales expressou-o muito bem: “Se o coração vagueia ou está distraído, trá-lo suavemente de volta ao lugar. E mesmo que durante toda a hora não faças mais do que trazer o teu coração de volta, mesmo que tenha partido de cada vez que o trouxeste de volta, a tua hora foi muito bem usada.”
É bom lembrar que o nosso esforço é estar consciente de uma respiração de cada vez. Ou talvez apenas de meia respiração. Nas palavras do Buda “ao inspirar, sei que estou a inspirar; ao expirar sei que estou a expirar.” É muito simples.
Pois... ;)
(excerto do livro One Dharma, de Joseph Goldstein)
terça-feira, dezembro 21, 2004
sexta-feira, dezembro 17, 2004
terça-feira, dezembro 14, 2004
segunda-feira, dezembro 13, 2004
Retiro e passagem de ano
Retiro e Passagem de Ano Budista, de 31 de Dez de 2004 a 1 ou 2 de Jan de 2005, Centro Pallas, localidade do Couto, perto de Caldas da Rainha
"Desperta e descobre que és os olhos do mundo. Desperta agora, descobre seres a canção que a manhã traz" Longchenpa
"Desperta e descobre que és os olhos do mundo. Desperta agora, descobre seres a canção que a manhã traz" Longchenpa
luz interior
Na busca interior, muitos budistas fizeram sacrifícios, e tiveram muitas vezes que renunciar a pequenas coisas confortáveis para atingir a calma mental, através da meditação. Mas quantos o percebem logo? Lembram-se da estória de Parcifal e do Graal? Mesmo os melhores por vezes não percebem a primeira vez que encontram essa luz interior, o graal do nosso espírito, em que a terra é de novo sagrada, a água volta a brotar da fonte, e para toda a eternidade se ilumina o graal nas nossas mãos... porque se começou a meditar simplesmente um minuto por dia.
Ao meditar, vizualizar cada célula do corpo como uma célula de luz, é uma forma de cura.
"O poder curativo da mente", de Tulku Thondup, Ed. Pensamento, 1998
Ao meditar, vizualizar cada célula do corpo como uma célula de luz, é uma forma de cura.
"O poder curativo da mente", de Tulku Thondup, Ed. Pensamento, 1998
sábado, dezembro 11, 2004
Solidariedade
No site Free Tibet decorre uma campanha urgente a favor de Tenzin Deleg Rinpoche.
No Japão, está previsto um sismo num área particularmente sensível, pois tem várias centrais nucleares. Decorre uma campanha de envio de assinaturas para parar Genpatsu-Shinsai (centros nucleares da área). O site é em japonês, mas tem uma versão em PDF da petição à esquerda, onde diz "English"
Já agora, para estar mais alerta, uma volta pelo site da Amnistia Internacional - secção portuguesa, e pelas páginas da Animal.
A AMIarte, núcleo da Delegação Norte da Fundação AMI, tem vindo a promover vários eventos a favor de causas sociais. No próximo dia 16 de Dezembro, às 21h30, o Auditório da Fundação Engº António de Almeida acolhe o pianista Constantin Sandu - a receita de bilheteira reverte inteiramente a favor deste urgente projecto de acolhimento e reintegração social dos sem-abrigo da cidade (já repararam como há cada vez mais?). As reservas poderão ser feitas para a Fundação AMI - Assistência Médica Internacional - através de 225100701. Preço dos bilhetes: 15 euros
No Japão, está previsto um sismo num área particularmente sensível, pois tem várias centrais nucleares. Decorre uma campanha de envio de assinaturas para parar Genpatsu-Shinsai (centros nucleares da área). O site é em japonês, mas tem uma versão em PDF da petição à esquerda, onde diz "English"
Já agora, para estar mais alerta, uma volta pelo site da Amnistia Internacional - secção portuguesa, e pelas páginas da Animal.
A AMIarte, núcleo da Delegação Norte da Fundação AMI, tem vindo a promover vários eventos a favor de causas sociais. No próximo dia 16 de Dezembro, às 21h30, o Auditório da Fundação Engº António de Almeida acolhe o pianista Constantin Sandu - a receita de bilheteira reverte inteiramente a favor deste urgente projecto de acolhimento e reintegração social dos sem-abrigo da cidade (já repararam como há cada vez mais?). As reservas poderão ser feitas para a Fundação AMI - Assistência Médica Internacional - através de 225100701. Preço dos bilhetes: 15 euros
A Postura
"A prática do zazen requer detida atenção para a postura, pois no zen, a forma é o vazio e o vazio é a forma. Logo, não negligenciar a forma é vital. Esta postura tem como base três pontos tocando no chão, os dois joelhos e a base da coluna, numa pequena almofada, chamada zafu. A coluna deve estar perfeitamente recta. Queixo puxado para dentro, força no ponto de acupuntura kikai, VC6, a 3 dedos abaixo do umbigo, que é o ponto de concentração do zazen. A mente deve ser despertada sem se fixar em lugar algum. Como fazer isto? A parte física da postura não deve ser negligenciada, pois quando estamos felizes a postura está naturalmente ajustada, e ajustando a postura, ficamos naturalmente felizes."
em O que é Budismo? palestra dada em Buenos Aires por Ryotan Tokuda Igarashi, para um grupo de psicólogos, em Outubro de 1983
em O que é Budismo? palestra dada em Buenos Aires por Ryotan Tokuda Igarashi, para um grupo de psicólogos, em Outubro de 1983
Encontrar um professor
É engraçado ler alguém que está do outro lado do oceano falar de uma pessoa que já conhecemos. Sobretudo no contexto da relação professor-estudante do Dharma. O músico Stuart Davis (que já referi atrás) fala da relação que está a estabelecer com Genpo Roshi, que é nada mais nada menos que o roshi que fez a transmissão do Dharma a Catherine Genno Sensei (que orientou o nosso retiro Zen).
Embora tenha estado no centro dele em Utah, na altura só conheci Tenkei Coppens Sensei. Mais tarde fiz um retiro Big Mind com Genpo Roshi na Holanda. Inesquecível. O processo Big Mind é uma incrível experiência de abertura e expansão. E é mesmo muito divertido. Ele mencionou que nunca tinha vindo a Portugal... bom, parecia dizer que gostaria de vir até cá :)
Embora tenha estado no centro dele em Utah, na altura só conheci Tenkei Coppens Sensei. Mais tarde fiz um retiro Big Mind com Genpo Roshi na Holanda. Inesquecível. O processo Big Mind é uma incrível experiência de abertura e expansão. E é mesmo muito divertido. Ele mencionou que nunca tinha vindo a Portugal... bom, parecia dizer que gostaria de vir até cá :)
Traduções
Estive a ler um artigo interessante sobre a tradução dos famosos versos de Dogen, que em inglês tenho encontrado assim:
To study the Way is to study the self.
To study the self is to forget the self.
To forget the self is to be enlightened by all things.
To be enlightened by all things is to remove the barriers between one’s self and others.
A tradução proposta passaria a ser:
Following the Buddha Way really means following yourself.
Following yourself really means forgetting yourself.
Forgetting yourself really means trusting reality.
And trusting reality really means dissolving bodymindedness both within and without.
Seguir a Via de Buda realmente significa seguir-se a si mesmo.
Seguir-se a si mesmo realmente significa esquecer-se de si mesmo.
Esquecer-se de si mesmo realmente significa confiar na realidade.
E confiar na realidade realmente significa dissolver o corpo-mente por dentro e por fora.
To study the Way is to study the self.
To study the self is to forget the self.
To forget the self is to be enlightened by all things.
To be enlightened by all things is to remove the barriers between one’s self and others.
A tradução proposta passaria a ser:
Following the Buddha Way really means following yourself.
Following yourself really means forgetting yourself.
Forgetting yourself really means trusting reality.
And trusting reality really means dissolving bodymindedness both within and without.
Seguir a Via de Buda realmente significa seguir-se a si mesmo.
Seguir-se a si mesmo realmente significa esquecer-se de si mesmo.
Esquecer-se de si mesmo realmente significa confiar na realidade.
E confiar na realidade realmente significa dissolver o corpo-mente por dentro e por fora.
sexta-feira, dezembro 10, 2004
Buda o Iluminado
As histórias tradicionais sobre o Buda Shākyamuni e as suas vidas passadas estão repletas de alegorias que foram sendo acrescentadas através dos tempos e dos lugares. Podemos contudo encontrar uma base comum que se reflecte nos aspectos essenciais da vida e do ensinamento de Buda tais como são apresentados por todas as tradições. O Dharmanet tem um excelente dossier sobre o Buda histórico: Textos clássicos. Percorrer as várias páginas do dossier é uma descoberta... para não falar do deslumbre de uma das minhas reproduções favoritas do Boddhisattva, da caverna de Ajanta :)
imagem de www.dharmanet.com.br
É bom recordar que vivemos numa era afortunada (às vezes ninguém diria) porque cinco budas (ou mil budas, segundo algumas tradições) aparecerão para ensinar o caminho da iluminação. Destes budas, Shākyamuni foi o quarto. Maitreya será o próximo Buda. No entanto é sombrio imaginar um mundo assim:
"Maitreya aparecerá em nosso mundo quando não houver mais praticantes com realizações espirituais; quando os métodos que conduzam ao despertar (absorções meditativas, insights, caminhos espirituais, frutos espirituais e preceitos) tiverem desaparecido; quando o aprendizado das três seções do cânone buddhista tiver desaparecido; quando os símbolos da comunidade buddhista (mantos e votos monásticos) tiverem desaparecido; e quando as relíquias do Buddha Śākyamuni tiverem desaparecido." Segundo os textos, daqui a 2500 anos.
imagem de www.dharmanet.com.br
É bom recordar que vivemos numa era afortunada (às vezes ninguém diria) porque cinco budas (ou mil budas, segundo algumas tradições) aparecerão para ensinar o caminho da iluminação. Destes budas, Shākyamuni foi o quarto. Maitreya será o próximo Buda. No entanto é sombrio imaginar um mundo assim:
"Maitreya aparecerá em nosso mundo quando não houver mais praticantes com realizações espirituais; quando os métodos que conduzam ao despertar (absorções meditativas, insights, caminhos espirituais, frutos espirituais e preceitos) tiverem desaparecido; quando o aprendizado das três seções do cânone buddhista tiver desaparecido; quando os símbolos da comunidade buddhista (mantos e votos monásticos) tiverem desaparecido; e quando as relíquias do Buddha Śākyamuni tiverem desaparecido." Segundo os textos, daqui a 2500 anos.
quinta-feira, dezembro 09, 2004
terça-feira, dezembro 07, 2004
Encontro com a Tsering
O site da Tsering mudou de endereço: Tsering Paldrön
Aproveito para lembrar que ela vai estar no Porto em Fevereiro. Estamos cheios de ideias para um encontro com um frade católico: "O que aproxima as religiões?" (a 12 de Fevereiro) e no domingo teremos um seminário sobre o tema "Apego e amor, como distinguir" - será o desapego o mesmo que indiferença? Como distinguir o "amor" baseado na posse e o amor incondicional; o amor que escraviza e o amor que liberta.
Aproveito para lembrar que ela vai estar no Porto em Fevereiro. Estamos cheios de ideias para um encontro com um frade católico: "O que aproxima as religiões?" (a 12 de Fevereiro) e no domingo teremos um seminário sobre o tema "Apego e amor, como distinguir" - será o desapego o mesmo que indiferença? Como distinguir o "amor" baseado na posse e o amor incondicional; o amor que escraviza e o amor que liberta.
segunda-feira, dezembro 06, 2004
Os fundamentos da atenção plena
Na próxima quinta-feira vamos "mergulhar" nos fundamentos da atenção plena tal como foram expostos no Sattipatthana Sutta. Sobre esta prática, o Buda disse: "Bhikkhus, qualquer um que desenvolva esses quatro fundamentos da atenção plena dessa maneira durante sete anos, um de dois resultados pode ser esperado: ou o conhecimento supremo aqui e agora, ou o ‘não-retorno’ se ainda houver algum resíduo de apego."
Um texto sobre os Fundamentos da Atenção Plena tal como foi explicado por Ajaan Lee Dhammadharo.
Um texto sobre os Fundamentos da Atenção Plena tal como foi explicado por Ajaan Lee Dhammadharo.
domingo, dezembro 05, 2004
Nós somos o que pensamos
E quanto aos "mundos que criamos", há este excerto do Dhammapada:
Nós somos o que pensamos.
Tudo o que somos emerge com os nossos pensamentos.
Com os pensamentos fazemos o mundo.
Se falares ou agires com um espírito impuro
Os problemas seguir-te-ão
Como a roda segue o boi que puxa a carroça.
Nós somos o que pensamos.
Tudo o que somos emerge com os nossos pensamentos.
Com os nossos pensamentos fazemos o mundo.
Se falares ou agires com um espírito puro, a felicidade seguir-te-á
Como a tua sombra, constantemente.
Como pode um espírito perturbado
Compreender o caminho?
(de "Os Ensinamentos do Buda" tradução de Conceição Gomes e Tsering Paldrön, ed. Presença)
Nós somos o que pensamos.
Tudo o que somos emerge com os nossos pensamentos.
Com os pensamentos fazemos o mundo.
Se falares ou agires com um espírito impuro
Os problemas seguir-te-ão
Como a roda segue o boi que puxa a carroça.
Nós somos o que pensamos.
Tudo o que somos emerge com os nossos pensamentos.
Com os nossos pensamentos fazemos o mundo.
Se falares ou agires com um espírito puro, a felicidade seguir-te-á
Como a tua sombra, constantemente.
Como pode um espírito perturbado
Compreender o caminho?
(de "Os Ensinamentos do Buda" tradução de Conceição Gomes e Tsering Paldrön, ed. Presença)
Meditação
O "trabalho" da Meditação é muito bem descrito neste texto de "Um Dharma" de Joseph Goldstein que voltámos a ler ontem depois da meditação.
Portanto começamos com um simples objecto de atenção, como a respiração, e treinamo-nos para voltar a ele sempre que ficamos distraídos, vezes sem conta. A primeira percepção no hábito da distracção leva-nos a compreender o valor e a importância de firmar a nossa atenção porque os mundos que criamos em nós mesmos e à nossa volta todos têm origem na nossa mente. Quantos mundos-mente diferentes habitamos nos nossos pensamentos, mesmo entre uma respiração e outra? E quantas acções iniciamos por causa destes pensamentos que passam despercebidos?
Ao tomar primeiro um objecto particular de concentração e depois treinar a mente para ficar focada nesse objecto, podemos desenvolver calma e tranquilidade. O objecto pode ser a respiração, um som ou mantra, uma imagem visual, ou certas reflexões – todos servem para concentrar a mente. Ao princípio, isto requer o esforço de voltar continuamente, de cada vez que a mente vagueia. Com a prática, contudo, a mente fica treinada, e então repousa facilmente no objecto escolhido.
Para somar aos sentimentos de tranquilidade e paz, o estado de concentração também se torna a base para uma percepção e sabedoria profundas. Vamos dar por nós a abrir para o sofrimento do mundo mas igualmente para a sua imensa beleza. Através do poder de uma maior atenção, uma simples experiência torna-se viva magicamente: a silhueta de um ramo contra o céu nocturno, ou árvores a balançar com o vento invisível. A forma como sentimos o mundo purifica-se, a percepção do mundo transforma-se. Marcel Proust escreveu: “A verdadeira viagem de descoberta consiste não em ver novas paisagens, mas em ter novos olhos.”
imagem de www.pantheism.net
Portanto começamos com um simples objecto de atenção, como a respiração, e treinamo-nos para voltar a ele sempre que ficamos distraídos, vezes sem conta. A primeira percepção no hábito da distracção leva-nos a compreender o valor e a importância de firmar a nossa atenção porque os mundos que criamos em nós mesmos e à nossa volta todos têm origem na nossa mente. Quantos mundos-mente diferentes habitamos nos nossos pensamentos, mesmo entre uma respiração e outra? E quantas acções iniciamos por causa destes pensamentos que passam despercebidos?
Ao tomar primeiro um objecto particular de concentração e depois treinar a mente para ficar focada nesse objecto, podemos desenvolver calma e tranquilidade. O objecto pode ser a respiração, um som ou mantra, uma imagem visual, ou certas reflexões – todos servem para concentrar a mente. Ao princípio, isto requer o esforço de voltar continuamente, de cada vez que a mente vagueia. Com a prática, contudo, a mente fica treinada, e então repousa facilmente no objecto escolhido.
Para somar aos sentimentos de tranquilidade e paz, o estado de concentração também se torna a base para uma percepção e sabedoria profundas. Vamos dar por nós a abrir para o sofrimento do mundo mas igualmente para a sua imensa beleza. Através do poder de uma maior atenção, uma simples experiência torna-se viva magicamente: a silhueta de um ramo contra o céu nocturno, ou árvores a balançar com o vento invisível. A forma como sentimos o mundo purifica-se, a percepção do mundo transforma-se. Marcel Proust escreveu: “A verdadeira viagem de descoberta consiste não em ver novas paisagens, mas em ter novos olhos.”
imagem de www.pantheism.net
quarta-feira, dezembro 01, 2004
Retiro de três anos no Brasil
Para quem tenha possibilidades para fazer o retiro de 3 anos na tradição do Budismo tibetano (escola Kagyupa), temos a informação necessária para a candidatura. E como o retiro começa daqui a cerca de um ano, há algum tempo para se prepararem... o que não é pêra doce :) Segundo o Lama Trinlé o local é soberbo, a cerca de 30 min. da capital, e está a ser preparado para o retiro. Quanto ao programa, é o que foi definido por Kalu Rinpoche para os primeiros retiros a ter lugar em França.
Activismo social e prática pessoal
Do próximo texto das quintas:
"É necessário muita atenção para não alimentarmos a divisão entre meditação e acção social ao fazer julgamentos sobre o que as outras pessoas deveriam fazer com as suas vidas. Cada um de nós tem o seu ritmo de trabalho interior e de serviço exterior. Este ritmo pode ser de semanas, meses, anos e até vidas."
Nem preciso explicar como acho isto importante! E de qualquer forma sempre fui apologista do "live and let live!"
"É necessário muita atenção para não alimentarmos a divisão entre meditação e acção social ao fazer julgamentos sobre o que as outras pessoas deveriam fazer com as suas vidas. Cada um de nós tem o seu ritmo de trabalho interior e de serviço exterior. Este ritmo pode ser de semanas, meses, anos e até vidas."
Nem preciso explicar como acho isto importante! E de qualquer forma sempre fui apologista do "live and let live!"
Como a água reflecte os nossos sentimentos
Este foi um tema de conversa num intervalo da nossa formação em massagem do som, e embora o blog do Akasha já o tenha mencionado, acho isto tão interessante que aqui vai um link para um artigo online: Como a água reflecte os nossos sentimentos. É espantoso, sobretudo ao pensarmos que somos essencialmente compostos... de água! Fiquei particularmente impressionada com as imagens do cristal da Represa Fujiwara, antes e depois de uma oração. Parece que esta terra precisa de muitas orações!
Represa Fujiwara, depois da oferenda de uma oração
Represa Fujiwara, depois da oferenda de uma oração
domingo, novembro 28, 2004
Recomeçar
De certa maneira podemos morrer várias vezes numa mesma vida. Sobretudo em épocas de crise e de mudança. Este texto de Thich Nhat Hanh, mestre zen, poeta, activista, fala de renascer, de começar novamente.
"Suponham que uma nuvem esteja a flutuar no céu, e esteja a ponto de morrer, de se tornar chuva. A nuvem poderia ficar cheia de raiva, de medo: "Por que isto está a acontecer comigo? Por que tenho de morrer? Por que não posso continuar uma nuvem a flutuar no céu?" Assim a raiva e o medo podem surgir na nuvem e podem fazê-la muito infeliz; mas se a nuvem for bastante inteligente, se a nuvem souber olhar profundamente para sua verdadeira natureza, então pode praticar “Começar Novamente”, renascer. Este preciso momento também é uma oportunidade de renascer, e esta é uma preparação. Nós não nos deveríamos prender a qualquer forma, porque ser uma nuvem que flutua no céu é maravilhoso, mas ser a chuva que cai na montanha ou no rio, nas árvores e na relva é também uma coisa maravilhosa."
Da palestra “Começando Novamente”
"Suponham que uma nuvem esteja a flutuar no céu, e esteja a ponto de morrer, de se tornar chuva. A nuvem poderia ficar cheia de raiva, de medo: "Por que isto está a acontecer comigo? Por que tenho de morrer? Por que não posso continuar uma nuvem a flutuar no céu?" Assim a raiva e o medo podem surgir na nuvem e podem fazê-la muito infeliz; mas se a nuvem for bastante inteligente, se a nuvem souber olhar profundamente para sua verdadeira natureza, então pode praticar “Começar Novamente”, renascer. Este preciso momento também é uma oportunidade de renascer, e esta é uma preparação. Nós não nos deveríamos prender a qualquer forma, porque ser uma nuvem que flutua no céu é maravilhoso, mas ser a chuva que cai na montanha ou no rio, nas árvores e na relva é também uma coisa maravilhosa."
Da palestra “Começando Novamente”
Traduções de Dogen
Para os zenistas (e não só): pode-se encontrar novas traduções de Dogen em
www.chalegre.com.br/zendo na secção textos, e também textos de outros autores sobre budismo e budismo zen. Ver também a secção de perguntas e respostas sobre zen - tem 354 perguntas respondidas.
www.chalegre.com.br/zendo na secção textos, e também textos de outros autores sobre budismo e budismo zen. Ver também a secção de perguntas e respostas sobre zen - tem 354 perguntas respondidas.
Fique são, histórias para ficar bem
com o contador de histórias Thomas Bakk
Sábado 18 de Dezembro, pelas 19h30 na UBP Porto (entrada livre)
Há quem diga que somos as nossas histórias, que nos tornamos nas nossas histórias. As palavras têm substância e o acto de contar, é, em si, um modo essencial de aprendizagem e de tomada de consciência. As histórias têm de ser ditas, têm de ser contadas, são parte da qualidade narrativa da existência que pode (tem de!) ser partilhada. Thomas Bakk retoma o testemunho dos contadores de histórias tradicionais e trá-lo magicamente para o nosso tempo.... este será um momento especial...
Sábado 18 de Dezembro, pelas 19h30 na UBP Porto (entrada livre)
Há quem diga que somos as nossas histórias, que nos tornamos nas nossas histórias. As palavras têm substância e o acto de contar, é, em si, um modo essencial de aprendizagem e de tomada de consciência. As histórias têm de ser ditas, têm de ser contadas, são parte da qualidade narrativa da existência que pode (tem de!) ser partilhada. Thomas Bakk retoma o testemunho dos contadores de histórias tradicionais e trá-lo magicamente para o nosso tempo.... este será um momento especial...
sábado, novembro 27, 2004
Uma carta de Harada Roshi
O último artigo de Harada Roshi, de Novembro 2004, está online: The Song of Zazen. Já agora, temos a Canção do Zazen traduzida no nosso site de traduções: Canção do Zazen
"Ilimitado e livre é o céu do samadhi!
Brilhante a lua cheia da sabedoria!
Faltará porventura agora alguma coisa?
O nirvana é aqui, perante os teus olhos,
este próprio lugar é a Terra do Lótus,
este próprio corpo o Buda."
(Hakuin Zenji)
"Ilimitado e livre é o céu do samadhi!
Brilhante a lua cheia da sabedoria!
Faltará porventura agora alguma coisa?
O nirvana é aqui, perante os teus olhos,
este próprio lugar é a Terra do Lótus,
este próprio corpo o Buda."
(Hakuin Zenji)
quarta-feira, novembro 24, 2004
Sabiam?
Sabiam que a mãe do Matthieu Ricard é monja e pintora? O João convidou-me a ver os trabalhos mais recentes - Yahne diz que consegue exprimir nos seus trabalhos abstractos tudo o que a sobrinha tenta fazer com a pintura tradicional tibetana. Acredito! (e já agora, repararam no nome do link?). Gosto especialmente da peinture fraîche
terça-feira, novembro 23, 2004
Blá Blá
Retive esta frase do texto lido no grupo de estudo da passada quinta-feira:
"Quando quiseres falar, faz uma pergunta e escuta."
"Quando quiseres falar, faz uma pergunta e escuta."
segunda-feira, novembro 22, 2004
Medicina Tibetana
Já está combinado! No primeiro fim-de-semana de Fevereiro receberemos a visita de Lama Lobsang Thamcho Nyima um Lama médico - poderemos ter workshops sobre medicina tibetana, receber conselhos, ter consultas!
A pulseira
Caminhando penso nos sábios da Índia que sem renunciarem ao mundo, o viviam plenamente. Como por exemplo o rei Kankanapa a quem um mestre disse: "olha o brilho das tuas pulseiras/ elas são a felicidade do teu espírito/ as mil causas exteriores causam as cores/ mas a pulseira não muda/ a variedade das aparências é a fonte de mil pensamentos/ mas o teu espírito é como as jóias que brilham". Meditando e concentrando-se na pulseira do seu pulso direito em seis meses ele conseguiu a realização espiritual.
www.padmakara.com: Mahasiddhas, La vie de 84 Sages de l´Inde.
Às vezes temos no pulso aquilo que esquecemos e precisamos urgentemente de nos lembrar, para sermos simplesmente felizes.
Conceição 18/11/04
sábado, novembro 20, 2004
AMI e Oscar Wilde no Labirintho
Não é teatro, não é leitura…
Um conto de Oscar Wilde contado no Labirintho.
O Príncipe Feliz é um dos muitos contos de Oscar Wilde, onde o escritor inglês utiliza a metáfora para descrever a hipocrisia da sociedade da sua época. Uma hipocrisia que, em muitos casos tem uma inesperada actualidade. É com este trabalho que o Grupo O Contador de Histórias inicia a sua colaboração com o PROJECTO AMIARTE, uma iniciativa da Delegação Norte da Fundação AMI - Assistência Médica Internacional - com o objectivo de recolher fundos para a construção do Abrigo do Porto. Este local irá permitir albergar e reinserir socialmente os sem-abrigo.
Dia 22 de Novembro, a partir das 23 horas, no bar Labirintho (Rua Nossa Senhora de Fátima, 334, Porto), Filipe Lopes apresenta o texto do controverso escritor inglês, numa noite de “Transgressões Poéticas”.
Nesta noite 50% do consumo mínimo (pago à entrada) reverte a favor da AMI.
Contactos: Tlf: 912568944; 914961072
Fundação AMI, Del. Norte: 225100701
www.fundacao-ami.org
Um conto de Oscar Wilde contado no Labirintho.
O Príncipe Feliz é um dos muitos contos de Oscar Wilde, onde o escritor inglês utiliza a metáfora para descrever a hipocrisia da sociedade da sua época. Uma hipocrisia que, em muitos casos tem uma inesperada actualidade. É com este trabalho que o Grupo O Contador de Histórias inicia a sua colaboração com o PROJECTO AMIARTE, uma iniciativa da Delegação Norte da Fundação AMI - Assistência Médica Internacional - com o objectivo de recolher fundos para a construção do Abrigo do Porto. Este local irá permitir albergar e reinserir socialmente os sem-abrigo.
Dia 22 de Novembro, a partir das 23 horas, no bar Labirintho (Rua Nossa Senhora de Fátima, 334, Porto), Filipe Lopes apresenta o texto do controverso escritor inglês, numa noite de “Transgressões Poéticas”.
Nesta noite 50% do consumo mínimo (pago à entrada) reverte a favor da AMI.
Contactos: Tlf: 912568944; 914961072
Fundação AMI, Del. Norte: 225100701
www.fundacao-ami.org
quinta-feira, novembro 18, 2004
S. S. o Dalai Lama na Suíça em Agosto
5 - 12 AGOSTO S.S. o Dalai Lama ensinará o Bodhicharyavatara de Shantideva e Kamashila's Bhavanakrama: Os Estágios de Meditação [livro traduzido em português pelo Paulo Borges]
Contacto email: info@TheDalaiLama2005.ch
website: www.TheDalaiLama2005.ch
Contacto email: info@TheDalaiLama2005.ch
website: www.TheDalaiLama2005.ch
Falta de auto-estima
Alguém uma vez perguntou ao Dalai Lama: “Acho que não valho nada como pessoa. Como posso trabalhar nisso enquanto estudante de meditação principiante?” O Dalai Lama respondeu: “Não se deve desencorajar. O seu sentimento de 'não ter valor' está errado. Completamente errado. Está a enganar-se a si mesmo.”
Ver o 'não mereço' como uma visão falsa de nós mesmos ajuda a fazer disso algo com que possamos trabalhar. Em vez de pensarmos que há algo de fundamentalmente errado com a nossa forma de ser, vemos que o próprio pensamento de não sermos merecedores ou de não termos valor é que é o problema.
De One Dharma, de Joseph Goldstein (a ler hoje à noite)
Ver o 'não mereço' como uma visão falsa de nós mesmos ajuda a fazer disso algo com que possamos trabalhar. Em vez de pensarmos que há algo de fundamentalmente errado com a nossa forma de ser, vemos que o próprio pensamento de não sermos merecedores ou de não termos valor é que é o problema.
De One Dharma, de Joseph Goldstein (a ler hoje à noite)
A não perder!
Palestra para download "Budismo: Um Caminho, Vários Veículos" proferida por Ricardo Sasaki no Templo Honpa Honganji de SP em Agosto de 2004. Os primeiros 3 minutos têm muitos parasitas, mas depois a audição é perfeita e vale muito a pena! Desconstrói alguns dos mitos relacionados com as várias escolas budistas, sobretudo a “velha” dicotomia Mahayana/Theravada. Ricardo Sasaki é extremamente claro, muito bonito, adorei ouvi-lo! Vamos ter de levar a gravação para a rua Aníbal Cunha! É excelente como complemento do estudo que estamos a fazer do livro One Dharma.
quarta-feira, novembro 17, 2004
Além da Terra
"Além da Terra, pelo Infinito,
procurei, em vão, o Céu e o Inferno.
Depois uma voz me disse:
Céu e Inferno estão em ti.”
Omar Khayyam
imagem de http://www.nlr.ru:8101/eng/exib/omar/omar-e.htm
terça-feira, novembro 16, 2004
Aulas de Gi Qong
No próximo sábado vamos iniciar as aulas de Qi Gong, sob a orientação de Paulo Fernandes. Fiquei muito bem impressionada com o nosso futuro "coach" :)
Mas o que é o Qi Gong?
O Qi Gong (chi kung) significa treino de energia, ou manipulação de energias tanto internas como externas e consiste numa ginástica energética praticada regularmente para manutenção e equilíbrio das energias mas também como complemento terapêutico numa convalescença.
É uma técnica com raízes milenares que se baseia em posturas e movimentos de animais. Ajuda a flexibilizar o corpo tanto a nível físico como energético e pretende desfazer ou prevenir os bloqueios de energia evitando a doença ou ajudando a curá-la.
Neste sistema de auto-cura e de auto-energização de origem chinesa existem cerca de 2000 posturas diferentes divididas por vários estilos. Temos assim posturas paradas, de movimento, exercícios de respiração, práticas meditativas e condução de energia Qi (Chi) através do corpo e da mente.
Os exercícios são compostos pela soma entre respiração e movimento, variando a profundidade, a velocidade, a cadência e o vigor energético.
(texto de Paulo Fernandes)
Mas o que é o Qi Gong?
O Qi Gong (chi kung) significa treino de energia, ou manipulação de energias tanto internas como externas e consiste numa ginástica energética praticada regularmente para manutenção e equilíbrio das energias mas também como complemento terapêutico numa convalescença.
É uma técnica com raízes milenares que se baseia em posturas e movimentos de animais. Ajuda a flexibilizar o corpo tanto a nível físico como energético e pretende desfazer ou prevenir os bloqueios de energia evitando a doença ou ajudando a curá-la.
Neste sistema de auto-cura e de auto-energização de origem chinesa existem cerca de 2000 posturas diferentes divididas por vários estilos. Temos assim posturas paradas, de movimento, exercícios de respiração, práticas meditativas e condução de energia Qi (Chi) através do corpo e da mente.
Os exercícios são compostos pela soma entre respiração e movimento, variando a profundidade, a velocidade, a cadência e o vigor energético.
(texto de Paulo Fernandes)
Eventos Akasha
Iniciação de Reiki 1º Nível - no dia 20 de Novembro com José Pedras
Workshop Inteligência Emocional - no dia 27 de Novembro, com Patrícia Mendes
Email: Akasha@netcabo.pt
O blog Akasha: www.akasha-porto.blogspot.com
Workshop Inteligência Emocional - no dia 27 de Novembro, com Patrícia Mendes
Email: Akasha@netcabo.pt
O blog Akasha: www.akasha-porto.blogspot.com
segunda-feira, novembro 15, 2004
Fotos do retiro de Sintra
As fotos do retiro de Sintra já estão online. Nas fotos do almoço dos Bodhisattvas vê-se vinho a circular... mas não se pense que foi assim durante todo o retiro! Durante o resto do tempo, aliás, tentou-se guardar silêncio (não digo que se conseguiu sempre...) O ensinamento de Lama Denys é realmente espantoso, mas o retiro não teria sido o mesmo sem a presença discretamente bem-humorada do lama Trinlé, um doce de pessoa, aqui, em lama Turista!
Lama Trinlé, que acompanhou desta vez o lama Denys em Portugal, é responsável por um centro da tradição do Budismo Tibetano Kagyupa em Brasília, e no próximo ano vai mudar-se para lá... aí será possível fazer o tradicional retiro de 3 anos, 3 meses e 3 dias, e que estará assim à disposição também dos budistas portugueses - recebemos convite pessoal :)!
Lama Trinlé, que acompanhou desta vez o lama Denys em Portugal, é responsável por um centro da tradição do Budismo Tibetano Kagyupa em Brasília, e no próximo ano vai mudar-se para lá... aí será possível fazer o tradicional retiro de 3 anos, 3 meses e 3 dias, e que estará assim à disposição também dos budistas portugueses - recebemos convite pessoal :)!
Libertem os livros!
Não estou perdido. Sou um livro livre e vim parar às tuas mãos para que me leias e me passes a outro leitor.
Para quem acha que não acontece nada, o quotidiano é cinzento, vivemos dentro de muros e os gestos de poesia, generosidade e verdadeira liberdade foram esquecidos, aqui está uma ideia muita gira: Bookcrossing. O sistema “bookcrossing”, que visa a partilha da paixão pelos livros, começou em Abril de 2001 com uma página na internet criada por Ron Hornbaker... entretanto os membros são 307 868, os livros registados 1 549 386 e o bom karma incalculável :)
Os membros da comunidade Bookcrossing libertam livros de forma gratuita, registando-os primeiro para que fiquem devidamente identificados. Depois os livros viajam pelo mundo fora, indo parar às mãos de pessoas que os encontram... numa biblioteca, num mesa do café, no autocarro, num banco de jardim, numa livraria aderente (há uma em Aveiro, parece, não sei se haverá mais)...
O "sistema" é pretexto para muita criatividade, e as etiquetas para colar nos livros podem ser encontradas, por exemplo, aqui
Para quem acha que não acontece nada, o quotidiano é cinzento, vivemos dentro de muros e os gestos de poesia, generosidade e verdadeira liberdade foram esquecidos, aqui está uma ideia muita gira: Bookcrossing. O sistema “bookcrossing”, que visa a partilha da paixão pelos livros, começou em Abril de 2001 com uma página na internet criada por Ron Hornbaker... entretanto os membros são 307 868, os livros registados 1 549 386 e o bom karma incalculável :)
Os membros da comunidade Bookcrossing libertam livros de forma gratuita, registando-os primeiro para que fiquem devidamente identificados. Depois os livros viajam pelo mundo fora, indo parar às mãos de pessoas que os encontram... numa biblioteca, num mesa do café, no autocarro, num banco de jardim, numa livraria aderente (há uma em Aveiro, parece, não sei se haverá mais)...
O "sistema" é pretexto para muita criatividade, e as etiquetas para colar nos livros podem ser encontradas, por exemplo, aqui
Em Retiro
Na tradição do budismo Zen, a palavra usada para retiro é "sesshin", que significa "tocar a mente/coração", o que equivale a voltar a casa, ao estado natural e original da condição da nossa mente/coração.
E embora o retiro deste fim-de-semana em Sintra, que encerrava a estadia de lama Denys em Portugal, se tenha desenrolado na tradição do budismo tibetano, o próprio tema do retiro "A via do Não-Medo", pode tornar-se transparente neste texto da Sensei Nicolee Jikyo McMahon Presente do Não Medo:
"A maior parte do tempo somos puxados em muitas direcções, dispersos, por vezes submergidos. Um retiro cria um tempo à parte, num ambiente simples, e em comunidade. Fornece-nos um recipiente que nos permite compreender profundamente o que é a nossa vida. De um ponto de vista, quando nos sentamos na almofada, trabalhamos, comemos, limpamos, essa é a minha prática. Mas fundamentalmente é a nossa prática; criamos o retiro, da mesma forma que criamos o mundo e o mundo nos cria de momento a momento - juntos.
Enquanto o grupo vive e pratica em conjunto, toda a espécie de coisas - alegria, ansiedade, agitação, cólera, ressentimento, gratidão, medo, aborrecimento, dúvida, paz - podem surgir. Podemos sentir-nos desafiados até ao mais íntimo de nós mesmos, não só de fora, mas também de dentro. A forma como nos restringimos torna-se cada vez mais aparente. A chave para o retiro é não saber, abandonar as expectativas, abrir-se para a revelação do momento. Ao unificar a mente/coração, compreendemos "o presente do não medo".
Com o desenrolar dos dias de retiro, atenua-se a espessa carapaça com a qual criamos a separação, eliminando o abismo entre eu, o outro, o mundo. À medida que nos soltamos, a tranquilidade e a quietude do retiro pode trazer mais amplitude, alegria e gratidão. Quando nos acalmamos, o que muitas vezes emerge é uma profunda apreciação pelo som do gongue, o sabor da comida, o sono, o movimento, a criatividade, estar com os outros, a luz do sol, as nuvens, as árvores, a sensação do vento na pele.
Um retiro oferece uma oportunidade de experienciar a vida na sua simplicidade e o quotidiano de uma forma muito aberta e receptiva. Ao estarmos mais intensamente conscientes da vida, e de como estamos todos juntos nisto, refinamos a nossa habilidade para nos ocuparmos de nós, dos outros, do mundo."
- de Gift of no Fear
Sintra, 14 de Novembro de 2004
©UBP 2004
E embora o retiro deste fim-de-semana em Sintra, que encerrava a estadia de lama Denys em Portugal, se tenha desenrolado na tradição do budismo tibetano, o próprio tema do retiro "A via do Não-Medo", pode tornar-se transparente neste texto da Sensei Nicolee Jikyo McMahon Presente do Não Medo:
"A maior parte do tempo somos puxados em muitas direcções, dispersos, por vezes submergidos. Um retiro cria um tempo à parte, num ambiente simples, e em comunidade. Fornece-nos um recipiente que nos permite compreender profundamente o que é a nossa vida. De um ponto de vista, quando nos sentamos na almofada, trabalhamos, comemos, limpamos, essa é a minha prática. Mas fundamentalmente é a nossa prática; criamos o retiro, da mesma forma que criamos o mundo e o mundo nos cria de momento a momento - juntos.
Enquanto o grupo vive e pratica em conjunto, toda a espécie de coisas - alegria, ansiedade, agitação, cólera, ressentimento, gratidão, medo, aborrecimento, dúvida, paz - podem surgir. Podemos sentir-nos desafiados até ao mais íntimo de nós mesmos, não só de fora, mas também de dentro. A forma como nos restringimos torna-se cada vez mais aparente. A chave para o retiro é não saber, abandonar as expectativas, abrir-se para a revelação do momento. Ao unificar a mente/coração, compreendemos "o presente do não medo".
Com o desenrolar dos dias de retiro, atenua-se a espessa carapaça com a qual criamos a separação, eliminando o abismo entre eu, o outro, o mundo. À medida que nos soltamos, a tranquilidade e a quietude do retiro pode trazer mais amplitude, alegria e gratidão. Quando nos acalmamos, o que muitas vezes emerge é uma profunda apreciação pelo som do gongue, o sabor da comida, o sono, o movimento, a criatividade, estar com os outros, a luz do sol, as nuvens, as árvores, a sensação do vento na pele.
Um retiro oferece uma oportunidade de experienciar a vida na sua simplicidade e o quotidiano de uma forma muito aberta e receptiva. Ao estarmos mais intensamente conscientes da vida, e de como estamos todos juntos nisto, refinamos a nossa habilidade para nos ocuparmos de nós, dos outros, do mundo."
- de Gift of no Fear
Sintra, 14 de Novembro de 2004
©UBP 2004
sexta-feira, novembro 12, 2004
Uma lista de livros em Português
O centro Os Tibetanos, de Lisboa, tem um site lindíssimo: www.tibetanos.com
Têm uma excelente lista de livros sobre budismo, vegetarianismo, etc., em português! Vale a pena dar uma olhada. Para principiantes (e não só!), gosto do Budismo Claro e Simples, do Steve Hagen, um antigo discípulo de Katagari (se não me engano).
Têm uma excelente lista de livros sobre budismo, vegetarianismo, etc., em português! Vale a pena dar uma olhada. Para principiantes (e não só!), gosto do Budismo Claro e Simples, do Steve Hagen, um antigo discípulo de Katagari (se não me engano).
Encontrar um sentido
"Em minha vida diária eu pratico sempre dando uma olhada nas coisas ao redor de mim, nas pessoas ao redor de mim, em mim mesmo; e eu já posso ver minha continuação nesta flor, ou naquele arbusto, ou naquele jovem monge, ou naquela jovem monja ou naquele jovem leigo. Eu vejo que nós pertencemos à mesma realidade, nós estamos fazendo nosso melhor como um Sangha, nós trazemos um pouco das sementes do Dharma para todos os lugares, nós fazemos as pessoas ao redor de nós felizes: assim eu não vejo razão por que tenha que morrer, porque eu posso me ver em vocês, em outras pessoas, em muitas gerações. Eis porque eu prometi às crianças que eu estarei escalando a colina do vigésimo-primeiro século com elas."
"Do topo da colina no ano 2050, estarei olhando para baixo e desfrutarei do que está lá junto com as pessoas jovens agora. O jovem monge Phap Canh tem agora vinte e um, e no topo da colina ele terá setenta e cinco! E claro que eu estarei com ele, de mãos dadas, e nós olharemos para baixo para ver a paisagem do vigésimo-primeiro século juntos. Assim como um Sangha, nós escalaremos a colina do vigésimo-primeiro século juntos. Nós faremos nosso melhor de forma que o escalar será agradável e calmo, e teremos todas as crianças conosco porque sabemos que nós nunca morremos. Nós estaremos lá por eles para sempre."
De uma palestra de Thich Nhat Hanh: Meditações Para os Doentes e os Moribundos
Foto de www.manjushri.com
"Do topo da colina no ano 2050, estarei olhando para baixo e desfrutarei do que está lá junto com as pessoas jovens agora. O jovem monge Phap Canh tem agora vinte e um, e no topo da colina ele terá setenta e cinco! E claro que eu estarei com ele, de mãos dadas, e nós olharemos para baixo para ver a paisagem do vigésimo-primeiro século juntos. Assim como um Sangha, nós escalaremos a colina do vigésimo-primeiro século juntos. Nós faremos nosso melhor de forma que o escalar será agradável e calmo, e teremos todas as crianças conosco porque sabemos que nós nunca morremos. Nós estaremos lá por eles para sempre."
De uma palestra de Thich Nhat Hanh: Meditações Para os Doentes e os Moribundos
Foto de www.manjushri.com
quinta-feira, novembro 11, 2004
S. S. o Dalai Lama na Bélgica em Junho
de sexta-feira 3 a sexta-feira 10 Junho 2005
A convite do instituto budista Yeunten Ling de Huy e sob a responsabilidade do Bureau du Tibet na Bélgica, S.S. o Dalai Lama visitará a Bélgica em Junho de 2005.
Sexta-feira 3 de Junho, em Huy (Mosteiro de Yeunten Ling)
De tarde: benção do local do novo templo no centro Yeunten Ling, programa ainda a detalhar.
às 17 h : colóquio sobre o tema "Estratégias para a paz e a compreensão mútua", com os responsáveis das grandes tradições filosóficas e espirituais do país a dirigir-se aos activos no terreno [no Centro Cultural de Huy - sob convite].
de Sábado 4 a Quarta-feira 8 de Junho, em Charleroi (Spiroudôme)
Cinco dias de ensino público com o tema "A Via do Meio". Os ensinamentos desenrolar-se-ão das 9h30 às 11h30 e das 15h às 17h. São todos bem-vindos.
Quinta 9 e sexta-feira 10 de Junho, em Bruxelas
Encontros com personalidades do mundo cultural e com autoridades nacionais e internacionais.
Sexta-feira 10 de Junho, em Antuérpia (Sportpaleis)
às 15h : Ensino público sobre o tema "A Interrelação".
Para saber mais:
http://www.dalailama-belgium2005.org/index-fr.html
Material para praticantes solitários
Em Portugal, o interesse pelo Budismo está em pleno despertar. E então sobretudo no Norte, é difícil o acesso a um centro e à prática da via do Buda. Antes de mais, pode-se começar por uma consulta ao artigo de Ricardo Sasaki que já mencionei anteriormente A que escola pertenço? - Um guia para quem está se interessando pelo Buddhismo. Um especial realce para o capítulo "O que fazer quando se está só?". Em relação ao Norte, será sempre possível contactar a União Budista do Porto para apoio se quiserem começar um pequeno grupo num local mais distante.
Embora a prática com um grupo seja recomendada, também é útil aprofundar o nosso conhecimento do Budismo. Alguns sites podem contribuir para a nossa jornada, facultando cursos online ou por correspondência (em inglês, muitos deles!), e espero ir actualizando a lista:
- Para simpatizantes ou praticantes Theravada, um "manual" de prática para laicos Lay Buddhist Practice (e não esquecer a versão brasileira do site, Acesso ao Insight com muitos textos e muitos sutras do cânone pali traduzidos para português).
- Para simpatizantes ou praticantes Terra Pura o Professor Alfred Bloom oferece ajuda em Shin Dharma Net. Este site inclui também um curso. Para os interessados na escola Nichiren Shu, o contacto será através de Nichiren Buddhist International Center. A escola britânica Shingon também tem um curso por correspondência, o Home Study Course in basic Buddhism
- Para estudantes do Budismo Zen, O Zen Mountain Monastery tem um óptimo guia para a meditação sentada. Outro guia em Burning House Zendo Instruction Manual (um grupo Rinzai). Em Português, não esquecer a pequena introdução ao Zazen de Hôgen Yamahata A Trindade do Zazen
- Para os interessados no Budismo Tibetano, a Fundação para a Preservação do Mahayana também tem um curso, Discovering Buddhism at Home, e o Asian Classics Institute tem aulas online sobre Budismo Tibetano: Classes Online. Há ainda o Dharmastudent, um site enviado por uma amiga de Leiria. Em francês, convém verificar os cursos da Universidade Dharma Orient-Occident e da Université Bouddhique Européenne.
Embora a prática com um grupo seja recomendada, também é útil aprofundar o nosso conhecimento do Budismo. Alguns sites podem contribuir para a nossa jornada, facultando cursos online ou por correspondência (em inglês, muitos deles!), e espero ir actualizando a lista:
- Para simpatizantes ou praticantes Theravada, um "manual" de prática para laicos Lay Buddhist Practice (e não esquecer a versão brasileira do site, Acesso ao Insight com muitos textos e muitos sutras do cânone pali traduzidos para português).
- Para simpatizantes ou praticantes Terra Pura o Professor Alfred Bloom oferece ajuda em Shin Dharma Net. Este site inclui também um curso. Para os interessados na escola Nichiren Shu, o contacto será através de Nichiren Buddhist International Center. A escola britânica Shingon também tem um curso por correspondência, o Home Study Course in basic Buddhism
- Para estudantes do Budismo Zen, O Zen Mountain Monastery tem um óptimo guia para a meditação sentada. Outro guia em Burning House Zendo Instruction Manual (um grupo Rinzai). Em Português, não esquecer a pequena introdução ao Zazen de Hôgen Yamahata A Trindade do Zazen
- Para os interessados no Budismo Tibetano, a Fundação para a Preservação do Mahayana também tem um curso, Discovering Buddhism at Home, e o Asian Classics Institute tem aulas online sobre Budismo Tibetano: Classes Online. Há ainda o Dharmastudent, um site enviado por uma amiga de Leiria. Em francês, convém verificar os cursos da Universidade Dharma Orient-Occident e da Université Bouddhique Européenne.
quarta-feira, novembro 10, 2004
Preparação para a morte
A morte é um tabu na nossa sociedade. Para todos nós, e como um amigo me disse hoje num email, não se trata de viver mais um dia, mas de como viver esse dia. O projecto Amara, que já começou em Lisboa (e vamos lá a ver se vem para o Porto!) tem como missão ajudar as pessoas com doenças terminais e as suas famílias. Mas mesmo para "o comum dos mortais" que não está confrontado com problemas de doenças terminais, encontrar um sentido para a vida é também encontrar um sentido para a morte.
No Budismo, a questão da vida e da morte é de primeira importância.
Alguns links que podem ajudar:
http://www.spcare.org/caregiving/faq.html
http://www.spcare.org/caregiving/vastperspective.html
Práticas:
http://www.spcare.org/practices/
Recursos:
http://www.spcare.org/resources/
No Budismo, a questão da vida e da morte é de primeira importância.
Alguns links que podem ajudar:
http://www.spcare.org/caregiving/faq.html
http://www.spcare.org/caregiving/vastperspective.html
Práticas:
http://www.spcare.org/practices/
Recursos:
http://www.spcare.org/resources/
O Caminho para a Felicidade
Um livro do Venerável Mestre Chan Hsing Yun, publicado recentemente pela associação Budha Light de Lisboa
A edição portuguesa inclui um prefácio assinado pelo dr. Paulo Borges, presidente da União Budista Portuguesa, eis uma apresentação:
"A imensa sabedoria e compaixão do Senhor Buda irradia em múltiplas actividades para o bem de todos os seres sensíveis, adequadas à medida da sua compreensão e das suas necessidades. É assim que na tradição budista encontramos desde complexos tratados de metafísica, lógica, psicologia, ética e meditação, que exigem longas horas, dias, meses e anos de estudo, aprofundamento e prática, até ensinamentos que, sem menor verdade e profundidade, se destinam, com uma linguagem simples e acessível, a despertar todos os tipos de pessoas para a possibilidade de melhorarem a qualidade interior das suas vidas pela transformação do modo de pensar, sentir e agir. É o caso deste livro, onde o venerável autor, partilhando a sua sabedoria, compaixão e experiência de vida com os leitores através de artigos publicados na imprensa, nos exorta e ensina a transformarmos as nossas existências numa ponte da “ignorância” para a “iluminação” e assim num “caminho para a felicidade”, como o título indica. São ensinamentos que, incidindo sobre os mais variados aspectos da vida quotidiana, individual, familiar, profissional e social, sobre as múltiplas facetas da relação do homem com a natureza e com os seus pensamentos, emoções e experiências, mostram sempre os caminhos de uma sabedoria prática, aplicável no aqui e agora das situações concretas que todos enfrentamos, com o objectivo de transformar o negativo em positivo e abrir a mente para a compreensão da natureza profunda das coisas. Ou seja, segundo os três preceitos em que se resume todo o Darma do Senhor Buda: abster-se de todos os actos negativos, causadores de sofrimento a si e aos outros; praticar todos os actos positivos, que trazem a felicidade a nós e aos outros; dominar a mente e ver a realidade tal como é, para além de conceitos, ou ter visão pura."
Onde encomendar:
Associação Internacional Buddha Light (BLIA) - Portugal
Rua da Centieira, nº35 (Estação Oriente)
1800-056 Lisboa
Tel: 21 85 99 286
fax: 21 85 99 287
Mail: ibps_lisboa@fgs.org.tw (em inglês) ou
em português Mail: elisachuang02@hotmail.com
Site: http://fgs-temple.com.pt.
A edição portuguesa inclui um prefácio assinado pelo dr. Paulo Borges, presidente da União Budista Portuguesa, eis uma apresentação:
"A imensa sabedoria e compaixão do Senhor Buda irradia em múltiplas actividades para o bem de todos os seres sensíveis, adequadas à medida da sua compreensão e das suas necessidades. É assim que na tradição budista encontramos desde complexos tratados de metafísica, lógica, psicologia, ética e meditação, que exigem longas horas, dias, meses e anos de estudo, aprofundamento e prática, até ensinamentos que, sem menor verdade e profundidade, se destinam, com uma linguagem simples e acessível, a despertar todos os tipos de pessoas para a possibilidade de melhorarem a qualidade interior das suas vidas pela transformação do modo de pensar, sentir e agir. É o caso deste livro, onde o venerável autor, partilhando a sua sabedoria, compaixão e experiência de vida com os leitores através de artigos publicados na imprensa, nos exorta e ensina a transformarmos as nossas existências numa ponte da “ignorância” para a “iluminação” e assim num “caminho para a felicidade”, como o título indica. São ensinamentos que, incidindo sobre os mais variados aspectos da vida quotidiana, individual, familiar, profissional e social, sobre as múltiplas facetas da relação do homem com a natureza e com os seus pensamentos, emoções e experiências, mostram sempre os caminhos de uma sabedoria prática, aplicável no aqui e agora das situações concretas que todos enfrentamos, com o objectivo de transformar o negativo em positivo e abrir a mente para a compreensão da natureza profunda das coisas. Ou seja, segundo os três preceitos em que se resume todo o Darma do Senhor Buda: abster-se de todos os actos negativos, causadores de sofrimento a si e aos outros; praticar todos os actos positivos, que trazem a felicidade a nós e aos outros; dominar a mente e ver a realidade tal como é, para além de conceitos, ou ter visão pura."
Onde encomendar:
Associação Internacional Buddha Light (BLIA) - Portugal
Rua da Centieira, nº35 (Estação Oriente)
1800-056 Lisboa
Tel: 21 85 99 286
fax: 21 85 99 287
Mail: ibps_lisboa@fgs.org.tw (em inglês) ou
em português Mail: elisachuang02@hotmail.com
Site: http://fgs-temple.com.pt.
terça-feira, novembro 09, 2004
O Budismo e a Homossexualidade
Na semana passada perguntaram-me qual a posição do budismo em relação à homossexualidade. Aqui está um artigo simples e elucidativo: The Buddhist religion and Homossexuality
domingo, novembro 07, 2004
quinta-feira, novembro 04, 2004
Amanhã começa o retiro
É o terceiro retiro organizado pela UBP Porto. Os outros foram... perfeitos! Enriquecedores, luminosos, inesquecíveis. Mas este "bota" RTP e tudo. E vamos receber a visita de nuestros hermanos galegos (um grupinho de Santiago de Compostela!) O Lama Denys é o primeiro discípulo ocidental de um dos grandes mestres tibetanos do século XX. Para além dos retiros e das conferências, o Lama Denys vai apresentar no dia 10 pelas 18h00 na Universidade Clássica de Lisboa o Manifesto por ele redigido no contexto da Conferência organizada pelas Nações Unidas que teve lugar em Maio de 2003 em Nova Iorque - no Conselho Mundial dos Dirigentes Religiosos. O documento chama-se “O MANIFESTO DA UNIDADE NA DIVERSIDADE DAS TRADIÇÕES DE PAZ E JUSTIÇA”.
Já agora aqui estãos as conferências em Lisboa:
- “La dimension universelle de l’éthique et de la spiritualité (A dimensão universal da ética e da espiritualidade)”- terá lugar dia 8 de Novembro às 18h30 (terminando pelas 21h30) na sala do Terraço (Graal)- rua Luciano Cordeiro, 24-6ºA Lisboa. Entrada livre
-“Une experience libératrice fondamentale - le dharma du Bouddha répond à la quête d’aujourd’hui” (Uma experiência libertadora fundamental - o dharma do Buddha responde à busca de hoje)- terá lugar dia 9 Novembro às 19h00 (terminando pelas 21h30) na sede da União Budista Portuguesa - Calç. da Ajuda 246, 1º Dt Lisboa. Entrada livre
Já agora aqui estãos as conferências em Lisboa:
- “La dimension universelle de l’éthique et de la spiritualité (A dimensão universal da ética e da espiritualidade)”- terá lugar dia 8 de Novembro às 18h30 (terminando pelas 21h30) na sala do Terraço (Graal)- rua Luciano Cordeiro, 24-6ºA Lisboa. Entrada livre
-“Une experience libératrice fondamentale - le dharma du Bouddha répond à la quête d’aujourd’hui” (Uma experiência libertadora fundamental - o dharma do Buddha responde à busca de hoje)- terá lugar dia 9 Novembro às 19h00 (terminando pelas 21h30) na sede da União Budista Portuguesa - Calç. da Ajuda 246, 1º Dt Lisboa. Entrada livre
O que é que eu faço?
“Não causes dano, pratica o bem, purifica a tua mente. Este é o ensinamento de todos os Budas.”
É um caminho eterno, directo e simples. Como uma respiração.
É a expressão do amor e da sabedoria para connosco e para com os outros.
Contém tudo, abrange tudo.
É um caminho eterno, directo e simples. Como uma respiração.
É a expressão do amor e da sabedoria para connosco e para com os outros.
Contém tudo, abrange tudo.
quarta-feira, novembro 03, 2004
Vegan e Vegetarianismo
Receitas e links:
http://groups.yahoo.com/group/DA-Receitas/
http://www.vegetarianos.com.br/receitas.htm
http://www.amorcosmico.com.br/vegetarianismo/links
http://www.vegetarianismo.com.br/
Deve haver muito mais por aí, mas pronto!
http://groups.yahoo.com/group/DA-Receitas/
http://www.vegetarianos.com.br/receitas.htm
http://www.amorcosmico.com.br/vegetarianismo/links
http://www.vegetarianismo.com.br/
Deve haver muito mais por aí, mas pronto!
A nossa Jerusalém
Um dia, três estudantes foram visitar o famoso rabi Bal Shem Tov e este perguntou-lhes: "O que é que vocês fariam se soubessem que iriam morrer daqui a seis meses?"
O primeiro estudante disse: "Eu iria a Jerusalém, ao Muro das Lamentações e rezava sem parar." O segundo disse: "Não. Com a viagem perderia um tempo precioso. Iria para o meu quarto rezar sem parar."
O terceiro ficou silencioso e os outros dois assumiram que ele não tinha nada a dizer. Mas quando o Rabi insistiu, ele respondeu: "Continuaria com a minha vida e o meu horário de todos os dias."
E o Rabi disse: "Esta terceira resposta é a melhor, pois se não conseguem encontrar santidade e sentido em cada momento da vossa existência quotidiana, não o encontrarão em Jerusalém ou seja onde for."
A nossa Jerusalém é a prática da atenção plena a cada momento. Nada a acrescentar :)
História contada em WoodMoor Village Zendo
Muito interessante também, a vida de Rabi Bal Shem Tov
O primeiro estudante disse: "Eu iria a Jerusalém, ao Muro das Lamentações e rezava sem parar." O segundo disse: "Não. Com a viagem perderia um tempo precioso. Iria para o meu quarto rezar sem parar."
O terceiro ficou silencioso e os outros dois assumiram que ele não tinha nada a dizer. Mas quando o Rabi insistiu, ele respondeu: "Continuaria com a minha vida e o meu horário de todos os dias."
E o Rabi disse: "Esta terceira resposta é a melhor, pois se não conseguem encontrar santidade e sentido em cada momento da vossa existência quotidiana, não o encontrarão em Jerusalém ou seja onde for."
A nossa Jerusalém é a prática da atenção plena a cada momento. Nada a acrescentar :)
História contada em WoodMoor Village Zendo
Muito interessante também, a vida de Rabi Bal Shem Tov
terça-feira, novembro 02, 2004
Dia de Finados
"Os dias do homem são semelhantes ao feno, como a flor do campo assim floresce. Apenas é tocada pelo vento, já não existe, nem o seu lugar o conhece mais." (Salmo 102)
domingo, outubro 31, 2004
Projectos
Contar um Conto - porque um conto é uma questa espiritual - em Dezembro, na UBP Porto (data e hora a anunciar), com a participação de Thomas Bakk
Meditação para Pais e Filhos: na UBP Porto - quem está interessado?
Vamos também ter um espaço de divulgação no Spa Pedra da Lua, por detrás do estádio do Bessa.
Nova actividade na UBP Porto: Qi Gong!
Para pré-inscrições ou informações: ubporto@yahoo.co.uk
Meditação para Pais e Filhos: na UBP Porto - quem está interessado?
Vamos também ter um espaço de divulgação no Spa Pedra da Lua, por detrás do estádio do Bessa.
Nova actividade na UBP Porto: Qi Gong!
Para pré-inscrições ou informações: ubporto@yahoo.co.uk
Karma
"Ao levar a cabo um acto voluntário, modificamos a nossa própria consciência, tanto aqui e agora como no futuro." Quem é o Buda?, Sangharakshita, ed. Presença
sexta-feira, outubro 29, 2004
A confiança em ti mesmo
“You can do anything you want to do. It’s only your thinking you can’t do it that can stop you.”
Podes fazer tudo o que quiseres. Só o pensamento de que o não podes fazer é que te pode impedir.
Awakening Confidence in Our Capacity
Foto ©Calica 2004
Podes fazer tudo o que quiseres. Só o pensamento de que o não podes fazer é que te pode impedir.
Awakening Confidence in Our Capacity
Foto ©Calica 2004
quinta-feira, outubro 28, 2004
Kalu Rinpoche
O retiro com o Lama Denys aproxima-se. Vai estar pela primeira vez no Porto. Para saber "de onde ele vem", nada melhor do que conhecer melhor o seu mestre, Kalu Rinpoche
Este vale de lágrimas
O programa da RTP2 A Fé dos Homens de ontem, mostrava imagens da conferência que a sensei Catherine Genno Pagès fez em Lisboa. A sensei usou expressamente a palavra dukkha, ao mencionar as Quatro Nobres Verdades, em vez da tradução frequentemente usada, sofrimento, que no Ocidente e com a nossa educação judaico-cristã, remete frequentemente para o mundo como um "vale de lágrimas", quando dukkha é muito mais abrangente e subtil. Ultimamente encontro a palavra "insatisfação", para significar a insatisfação inerente a toda a existência condicionada. Ou seja, isto nem sempre é um vale de lágrimas, aliás, há momentos de muita satisfação, realização pessoal, alegria, até felicidade. Mas mesmo nesses momentos, algo está latente, um desconforto, uma incerteza - trata-se de dukkha.
Uma definição contemporânea, de Francis Story:
Dukkha é...
Perturbação, irritação, depressão, preocupação, desespero, medo, temor, angústia, ansiedade, vulnerabilidade, ferimento, inabilidade, inferioridade; enfermidade, envelhecimento, decadência do corpo e faculdades, senilidade, dor/prazer; excitação/tédio; privação/excesso; desejo/frustração, supressão; saudades/estar sem rumo; esperança/sem esperança; esforço, atividade, esforço/repressão; perda, querer, insuficiência/saciedade; amor/falta de amor, falta de amigos; antipatia, aversão/atracção; paternidade/desprovido de filhos; submissão/rebelião; decisão/indecisão, vacilação, incerteza.
Ver em Acesso ao Insight
Uma definição contemporânea, de Francis Story:
Dukkha é...
Perturbação, irritação, depressão, preocupação, desespero, medo, temor, angústia, ansiedade, vulnerabilidade, ferimento, inabilidade, inferioridade; enfermidade, envelhecimento, decadência do corpo e faculdades, senilidade, dor/prazer; excitação/tédio; privação/excesso; desejo/frustração, supressão; saudades/estar sem rumo; esperança/sem esperança; esforço, atividade, esforço/repressão; perda, querer, insuficiência/saciedade; amor/falta de amor, falta de amigos; antipatia, aversão/atracção; paternidade/desprovido de filhos; submissão/rebelião; decisão/indecisão, vacilação, incerteza.
Ver em Acesso ao Insight
Experiências
No matter how beautiful the spiritual experience is, it is only an experience, and experiences come and go. Freedom is found only in that which does not come and go. If it doesn’t come and go, that means that it’s present now.
Não interessa o quanto a experiência espiritual é bela, é apenas uma experiência, e experiências vão e vêm. A Liberdade só se encontra no que não vem nem vai. Se não vem nem vai, isso quer dizer que está presente agora.
The Impact of Awakening, Adyashanti
Não interessa o quanto a experiência espiritual é bela, é apenas uma experiência, e experiências vão e vêm. A Liberdade só se encontra no que não vem nem vai. Se não vem nem vai, isso quer dizer que está presente agora.
The Impact of Awakening, Adyashanti
quarta-feira, outubro 27, 2004
O Caminho
É doloroso estar no mundo; é doloroso deixar o mundo; e é doloroso estar sozinho entre a multidão. O longo caminho da transmigração é um caminho de dor para o viandante: que descanse ao longo do caminho e seja livre.
terça-feira, outubro 26, 2004
Nada
Sincronicidades. Acho fascinante. Parece sempre como se o Universo estivesse a querer dizer-nos alguma coisa. Ontem chegou o livro que tinha encomendado na sequência do workshop de massagem de som. Chama-se Nada Brahma, O Mundo é Som, e é muito mais do que eu tinha pensado, mas, muito rapidamente, é um livro sobre o caminho espiritual através da percepção do Som. Isto para mim liga-se ao Bodhisattva da Compaixão Avalokiteshvara/Chenrezig/Quan Yin, cujo nome pode ser traduzido por “Aquele que Ouve os Sons/Choros do Mundo,” e que explica no sutra Surangama como atingiu a Iluminação através da meditação sobre o Som.
Foto ©MC/UBP Porto 2004
Nada é uma palavra sânscrita que significa “Som”. Parece estar relacionada com nadi, que significa “rio” ou corrente” mas também “ímpeto” (rio impetuoso e som impetuoso) e esta palavra surge escondida no nome de vários rios em todo o mundo. O termo nadi também designa fluxo de consciência. E daí a relação entre Som e Consciência estar muito documentada na linguagem: “Podemos ouvir o nosso eu interior – e contudo não saber que oceano ouvimos a rugir” (Martin Buber). Claro que não posso evitar ligar o Nada sânscrito com o Nada latino (vacuidade), que no Budismo é uma completude e não um vazio.
Hoje retomei One Dharma, pois vamos continuar com o estudo do livro na próxima quinta. Estou no capítulo em que Joseph Goldstein explica como, apesar da ênfase que muitas escolas budistas actualmente dão ao “aqui e agora” e a não ter objectivos, ele entende que não há contradição entre estar no momento presente e ter a percepção de um caminho ou de um objectivo. E essa história do caminho e do objectivo levou-me a recordar um dos meus dois contos preferidos, um conto dos índios norte-americanos sobre o Rato Saltador. Encontrei então uma versão aparentemente mais completa, que eu ainda não tinha lido, com pequenas nuances que não conhecia. A história fala de um Rato Muito Ocupado com o Trabalho dos Ratos, que é correr da esquerda para a direita, de um lado para o outro, à procura, a examinar, a apanhar, a trocar, a arrecadar e a comer Sementes. Mas este Rato Ocupado “ouvia um Rugido nas orelhas” e cismava sobre esse ruído e queria saber de onde ele vinha. Partiu um dia corajosamente à procura, ultrapassando a Orla de Todas as Coisas que os Ratos Conheciam, e encontrou um Guaxinim, que lhe explicou que o Rugido vinha do Rio. E o Rio chamava-se... Nada.
Foto ©MC/UBP Porto 2004
Nada é uma palavra sânscrita que significa “Som”. Parece estar relacionada com nadi, que significa “rio” ou corrente” mas também “ímpeto” (rio impetuoso e som impetuoso) e esta palavra surge escondida no nome de vários rios em todo o mundo. O termo nadi também designa fluxo de consciência. E daí a relação entre Som e Consciência estar muito documentada na linguagem: “Podemos ouvir o nosso eu interior – e contudo não saber que oceano ouvimos a rugir” (Martin Buber). Claro que não posso evitar ligar o Nada sânscrito com o Nada latino (vacuidade), que no Budismo é uma completude e não um vazio.
Hoje retomei One Dharma, pois vamos continuar com o estudo do livro na próxima quinta. Estou no capítulo em que Joseph Goldstein explica como, apesar da ênfase que muitas escolas budistas actualmente dão ao “aqui e agora” e a não ter objectivos, ele entende que não há contradição entre estar no momento presente e ter a percepção de um caminho ou de um objectivo. E essa história do caminho e do objectivo levou-me a recordar um dos meus dois contos preferidos, um conto dos índios norte-americanos sobre o Rato Saltador. Encontrei então uma versão aparentemente mais completa, que eu ainda não tinha lido, com pequenas nuances que não conhecia. A história fala de um Rato Muito Ocupado com o Trabalho dos Ratos, que é correr da esquerda para a direita, de um lado para o outro, à procura, a examinar, a apanhar, a trocar, a arrecadar e a comer Sementes. Mas este Rato Ocupado “ouvia um Rugido nas orelhas” e cismava sobre esse ruído e queria saber de onde ele vinha. Partiu um dia corajosamente à procura, ultrapassando a Orla de Todas as Coisas que os Ratos Conheciam, e encontrou um Guaxinim, que lhe explicou que o Rugido vinha do Rio. E o Rio chamava-se... Nada.
A nossa viagem
"Ao percorrer o caminho da atenção, da tomada de consciência, também desenvolvemos fé e confiança no mais vasto desabrochar da viagem da nossa vida, uma viagem não no tempo e no espaço, mas uma viagem da nossa compreensão interior." (ao ler One Dharma)
segunda-feira, outubro 25, 2004
Desapego
Será que as pessoas confundem desapego com indiferença? Será que quando se fala de desapego no Budismo pensam que têm de se tornar ou mostrar frios e distantes em relação aos entes queridos? A ideia não é amar “menos” ou deixar de amar, é amar "melhor". Não há nada mais árido e desértico do que a falta de amor. Ao entrar em contacto ontem com a “avareza” na nossa prática de meditação, senti-a como secura. Avareza é guardar para nós o calor. E descobrir que ao guardá-lo, ele nos gela.
Domingo à tarde
O "nosso" presidente chéri :)
Um domingo à tarde concentrado... em nós mesmos (para variar) - o seminário que o Paulo Borges orientou chamava-se "A Natureza da Mente e os Fenómenos Mentais" e pegava num texto algo escolástico de Yeshe Gyeltshen para apontar directamente para a nossa vivência de todos os dias. Os exercícios de meditação insidiram sobre a atenção plena às chamadas emoções perturbadoras. Numa primeira fase, tomar contacto com uma determinada emoção. Numa segunda fase, desligá-la do objecto que a suscitava, e depois simplesmente "contemplá-la".
É claro que ao falar de emoções temos de falar "da vida", da nossa vida. Dos nossos afectos, das nossas dúvidas. De como ser budista aqui e agora.
Numa conversa com a Marinha, na sexta à noite, ela dizia-me como no shamanismo se faz a distinção entre emoções e sentimentos, e como se aprende a diferenciá-los, e pareceu-me que condizia com a forma como o budismo os vê - assim como a noção de ego, que me pareceu muito semelhante à budista.
sábado, outubro 23, 2004
Teresinha
E ontem estive com a Teresinha. Não resisto a outra fotografia. Como tive um rapaz, olho as meninas como um segredo partilhado e ao mesmo tempo por desvendar.
Foto ©MC 2004
Foto ©MC 2004
Mais um texto
Na nossa página da UBP Porto, mais um texto online, um excerto de One Dharma, o livro que estamos a estudar às quintas, com o tema Os Quatro Pensamentos que Transformam a Mente
sexta-feira, outubro 22, 2004
Assim eu ouvi
Dos Dois Tipos de Pensamento, simplesmente enunciados:
“Bhikkhus, qualquer coisa na qual um bhikkhu pense e pondere com frequência, essa passará a ser a tendência da sua mente."
“Bhikkhus, qualquer coisa na qual um bhikkhu pense e pondere com frequência, essa passará a ser a tendência da sua mente."
Dança Butoh
Segundo conta Sogaku, a "performance" foi incrível, e mais incrível foi não ter havido ensaio, saiu tudo de improviso. A dançarina que vemos na imagem era a mais recente ordenação do Roshi (no ano passado). Vive em Sogen-ji há 10 anos, e antes disso fez Butoh dance com Kazuo Ohno Sensei. Depois descobriram que o músico (saxofonista) tocou bastante com dançarinos butoh no Japão e na América. E o roshi riu até às lágrimas (tenho fotos para atestar) quando os turistas japoneses vinham a descer a montanha e deram com aquele espectáculo.
Butoh - Dance of Darkness
Butoh - Dance of Darkness
quarta-feira, outubro 20, 2004
terça-feira, outubro 19, 2004
Viver a dança
Ontem recebi os livros de Adyashanti que encomendei através da www.amazon.com: Emptiness Dancing e The Impact of Awakening. Para já, praticamente a única forma de entrar em contacto com o que ele ensina. Ele fala muito da experiência do despertar: O que há de bonito com o despertar, é que quando não estás a funcionar através do teu condicionamento, então o sentido do "eu que estava a viver aquela vida" deixa de estar presente. A maior parte das pessoas só tem a experiência do eu a viver esta vida. Mas quando se vê através disto, tem-se a experiência de que o que realmente faz mover esta vida é o amor, e este amor está em todos a qualquer momento. Quando tenta abrir caminho através de todas as nossas histórias pessoais, dissipa-se, mas não deixa de estar lá. Ninguém possui este amor. Todos são essencialmente a manifestação deste amor. (de Emptiness Dancing)
Claro que palavras destas só fazem sentido quando para nós se tornam palavras vivas. Mas frequentemente (se não completamente) o que vivemos é mesmo "o eu que vive esta vida".
Claro que palavras destas só fazem sentido quando para nós se tornam palavras vivas. Mas frequentemente (se não completamente) o que vivemos é mesmo "o eu que vive esta vida".
segunda-feira, outubro 18, 2004
Mais meditação!
Ainda da sala de estudos de Nalanda: "Meditação, no treinamento budista, não é, nem uma jornada para êxtases auto-efusivos, nem uma técnica caseira de psicoterapia" :)
A Purificação da Mente pelo venerável Bikkhu Bodhi
A Purificação da Mente pelo venerável Bikkhu Bodhi
Preparação para a meditação
Estive a ler o artigo de Venerável Nagasena Bhikkhu, Uma Preparação Efectiva (para a meditação) da sala de estudos de Nalanda. O Blog Nalanda já estava incluído nos nossos links, mas recebi um email de Ricardo Sasaki com a actualização do link do blog (e os parabéns pelo nosso blog ;)), e aí fui também percorrer a sala de estudo. Fiquei então a saber que Ricardo Sasaki recebeu a transmissão do Dharma - a permissão formal para ensinar - do Aggamahapandita Rewata Dhamma Sayadaw, pela linhagem birmanesa do Budismo Theravada, e foi o primeiro brasileiro professor de Dharma no Theravada. Wow!
Para os estudantes do budismo principiantes, o artigo A Que Escola Pertenço? (em pdf), embora adaptado à realidade brasileira, com apêndices de centros brasileiros, etc., é muito pertinente.
Para os estudantes do budismo principiantes, o artigo A Que Escola Pertenço? (em pdf), embora adaptado à realidade brasileira, com apêndices de centros brasileiros, etc., é muito pertinente.
sexta-feira, outubro 15, 2004
Saber ouvir
A questão dos círculos de sabedoria, a forma como se dá a cada um o espaço para falar e para ser ouvido plenamente, e uma observação do João (agora So Gaku!), ao referir um discípulo muito próximo de Shodo Harada Roshi, de quem as pessoas diziam que tinha uma grande qualidade – sabia ouvir, não parecia sentir a necessidade de se fazer ouvir, de passar primeiro – faz-me pensar (e repensar) na forma desajeitada como comunicamos. Os preceitos a nível da palavra "parecem" ser talvez menos importantes do que os preceitos a nível do corpo e da mente, mas revelam até que ponto nos achamos no centro do mundo, o quanto sentimos que estamos primeiro. Também revela a nossa dificuldade em estarmos presentes e abertos ao outro, totalmente. À primeira vista não deveria ser assim tão difícil. Mas é! ;)
quinta-feira, outubro 14, 2004
Quan Yin/Kanzeon
Não parece, pois tenho dedicado muito pouco tempo ao site, que continua muito incompleto, mas Quan Yin Homepage é muito especial para mim. Entre outras coisas, gostaria de apresentar mais trechos (magníficos!) e lendas do livro de John Blofeld sobre o Bodhisattva da Compaixão.
"Primeiro de tudo, deves compreender que as nossas mentes não estão separadas da Mente, e, se leste alguns textos Ch’an (Zen), saberás que esta é a única realidade. Conhecida na sua quintessência como a Vacuidade ou o que vocês ingleses chamam Última Realidade, é simultaneamente o reino da forma, a matriz de míriade objectos, como Lao-Tzu o coloca. De maneira alguma devem ser vistos como separados. A Vacuidade e o mundo da forma não são dois! Não existe passagem de um mundo para o outro, só a transmutação do teu modo de percepção. A Mente é como um oceano ilimitado de luz, ou espaço infinito, do qual brota Bodhi, uma energia maravilhosa, que gera em nós a ânsia pelo Despertar. Mas para despertar, precisas de uma imensa provisão de sabedoria e compaixão. A Sabedoria inclui a percepção completa e directa do não-ego e da não existência de algo como um “ego próprio” em nenhum objecto. A Compaixão é o meio supremo para a destruição do apego a um sentido do ego ilusório.”
(sublinhado meu)
Boddhisattva of Compassion, The Mystical Tradition of Quan Yin, de John Blofeld
"Primeiro de tudo, deves compreender que as nossas mentes não estão separadas da Mente, e, se leste alguns textos Ch’an (Zen), saberás que esta é a única realidade. Conhecida na sua quintessência como a Vacuidade ou o que vocês ingleses chamam Última Realidade, é simultaneamente o reino da forma, a matriz de míriade objectos, como Lao-Tzu o coloca. De maneira alguma devem ser vistos como separados. A Vacuidade e o mundo da forma não são dois! Não existe passagem de um mundo para o outro, só a transmutação do teu modo de percepção. A Mente é como um oceano ilimitado de luz, ou espaço infinito, do qual brota Bodhi, uma energia maravilhosa, que gera em nós a ânsia pelo Despertar. Mas para despertar, precisas de uma imensa provisão de sabedoria e compaixão. A Sabedoria inclui a percepção completa e directa do não-ego e da não existência de algo como um “ego próprio” em nenhum objecto. A Compaixão é o meio supremo para a destruição do apego a um sentido do ego ilusório.”
Boddhisattva of Compassion, The Mystical Tradition of Quan Yin, de John Blofeld
quarta-feira, outubro 13, 2004
A Lei do Karma
A célebre lei da causalidade ou condicionalidade, enunciada pelo Buda de uma forma algo lacónica - Isto é condicionado por aquilo. Tudo acontece por via de uma causa -, quando aplicada ao processo da vida e da morte dá origem a um dos mais importantes (e difíceis) dos ensinamentos budistas: o karma e o renascimento.
Na compreensão do karma, os textos esclarecem que o que determina mais completamente o resultado de qualquer acção é a motivação ou a intenção que está por detrás dela.
Abordámos este tema na última quinta-feira, mas desta vez queria ir um pouco mais longe na classificação dos vários tipos de karma, com o apoio de um texto de Sangharakshita (do livro Quem é o Buda?, da edit. Presença).
Na compreensão do karma, os textos esclarecem que o que determina mais completamente o resultado de qualquer acção é a motivação ou a intenção que está por detrás dela.
Abordámos este tema na última quinta-feira, mas desta vez queria ir um pouco mais longe na classificação dos vários tipos de karma, com o apoio de um texto de Sangharakshita (do livro Quem é o Buda?, da edit. Presença).
terça-feira, outubro 12, 2004
Emoções negativas
Fizeram-me a pergunta hoje:
Por que razão é que, fazendo meditação praticamente todos os dias, de há uns meses para cá, estou quase sempre zangada com metade do mundo?
Frequentemente, há este sentimento de que não somos suficientemente bons, de que temos de mudar, ser melhores. O que implicitamente significa que não queremos ser quem somos, que não nos aceitamos. Ou aceitamos umas partes, as que achamos mais simpáticas ou mais corajosas e lutamos incessantemente contra as outras. E, contudo, seja o que for que sejamos, é com isso e através disso que estamos aqui, é essa a matéria-prima do nosso caminho espiritual. O caminho começa aqui mesmo onde estamos, tal como somos, com a nossa mistura de confusão e sabedoria. A prática da meditação é o primeiro acto que fazemos para parar a agitação, a confusão, os julgamentos. Mas não é uma varinha mágica. Aliás, frequentemente, como vamos estar mais atentos, vamos dar-nos conta de até que ponto estamos agitados. E aí a meditação fará parte de tudo. Não é apenas o momento em que nos sentamos numa almofada, e que acaba no momento em que nos levantamos da almofada. A meditação é uma experiência viva, que integra tudo o que somos e, essa percepção, temos de trazê-la para a nossa vida de todos os dias. Os fenómenos, quer surjam sob a forma de sensações visuais, auditivas, olfactivas, tácteis, quer sob a forma de sentimentos, emoções, acontecimentos exteriores ou interiores, quando vividos com consciência, são um instrumento de libertação. São a nossa oportunidade de acordar. A transformação interior vem da tomada de consciência, não do campo de batalha.
"Durante muito tempo na minha prática de meditação ficava embaraçado e envergonhado ao ver na minha mente estados de mente prejudiciais, estados como orgulho ou ciúme, má vontade ou egoísmo; e em vez de os examinar e trabalhar liberto deles, fazia julgamentos sobre mim próprio e cavava ainda mais fundo o buraco em que me encontrava. Ou sentir-me-ia julgado e infeliz quando os meus professores ou outras pessoas apontavam estes estados mentais desarmoniosos. Mas depois de anos de prática, acabo por me sentir agradecido quando observo o surgimento de um desses estados negativos, porque agora mais facilmente os vejo. Torna-se mais uma oportunidade de me desprender desses padrões, de ver a sua transparência essencial, e por me soltar do fardo que representam." (Joseph Goldstein)
Por que razão é que, fazendo meditação praticamente todos os dias, de há uns meses para cá, estou quase sempre zangada com metade do mundo?
Frequentemente, há este sentimento de que não somos suficientemente bons, de que temos de mudar, ser melhores. O que implicitamente significa que não queremos ser quem somos, que não nos aceitamos. Ou aceitamos umas partes, as que achamos mais simpáticas ou mais corajosas e lutamos incessantemente contra as outras. E, contudo, seja o que for que sejamos, é com isso e através disso que estamos aqui, é essa a matéria-prima do nosso caminho espiritual. O caminho começa aqui mesmo onde estamos, tal como somos, com a nossa mistura de confusão e sabedoria. A prática da meditação é o primeiro acto que fazemos para parar a agitação, a confusão, os julgamentos. Mas não é uma varinha mágica. Aliás, frequentemente, como vamos estar mais atentos, vamos dar-nos conta de até que ponto estamos agitados. E aí a meditação fará parte de tudo. Não é apenas o momento em que nos sentamos numa almofada, e que acaba no momento em que nos levantamos da almofada. A meditação é uma experiência viva, que integra tudo o que somos e, essa percepção, temos de trazê-la para a nossa vida de todos os dias. Os fenómenos, quer surjam sob a forma de sensações visuais, auditivas, olfactivas, tácteis, quer sob a forma de sentimentos, emoções, acontecimentos exteriores ou interiores, quando vividos com consciência, são um instrumento de libertação. São a nossa oportunidade de acordar. A transformação interior vem da tomada de consciência, não do campo de batalha.
"Durante muito tempo na minha prática de meditação ficava embaraçado e envergonhado ao ver na minha mente estados de mente prejudiciais, estados como orgulho ou ciúme, má vontade ou egoísmo; e em vez de os examinar e trabalhar liberto deles, fazia julgamentos sobre mim próprio e cavava ainda mais fundo o buraco em que me encontrava. Ou sentir-me-ia julgado e infeliz quando os meus professores ou outras pessoas apontavam estes estados mentais desarmoniosos. Mas depois de anos de prática, acabo por me sentir agradecido quando observo o surgimento de um desses estados negativos, porque agora mais facilmente os vejo. Torna-se mais uma oportunidade de me desprender desses padrões, de ver a sua transparência essencial, e por me soltar do fardo que representam." (Joseph Goldstein)
segunda-feira, outubro 11, 2004
sexta-feira, outubro 08, 2004
Círculo de Sabedoria
Estamos habituados a comunicar de um forma competitiva. Numa reunião, mesmo num grupo sentado num café, se pensarmos nisso, haverá sempre um ou outro que dominará a conversação, e o elo mais fraco não terá muitas hipóteses de se exprimir. Já não vou falar de um debate político, onde ouvir o outro não está mesmo em questão. Os índios norte-americanos, tradicionalmente, comunicam de forma diferente. Ao valorizar a cooperação em vez da competição, dão espaço para falar e para ouvir. Plenamente.
Num círculo, cada um tem a sua vez para falar, até para não falar. Um objecto é colocado no centro, e, um de cada vez vai buscar o "objecto falante" ao centro. Não é preciso um mediador, o objecto em si é o mediador. Quando temos o objecto na mão, podemos dizer o que quer que esteja no coração, mesmo que isso pareça não ter nada a ver com nada. Ninguém vai comentar, criticar ou interromper. Tudo o que vem do coração é belo e perfeito.
Falar com o coração: nesse lugar, estamos seguros. Estamos nus e abertos, mas não desprotegidos. Podemos ser honestos, arriscar-nos, dar voz às nossas vozes. Pode acontecer que consigamos dizer algo que nunca dissemos antes, ou encontrar algo em nós que não imaginamos que existia. Por vezes pode ser preciso coragem. Mas saber que há um grupo que nos ouve e nos apoia é em si uma experiência de cura. Os laços criados dessa maneira são feitos de expansão e energia. São vivos.
Foto ©Calica 2004
Mais sobre a tradição dos círculos de sabedoria dos índios norte-americanos:
Wisdom Circles
The Wisdom Circle Constants
Basic Guidelines for Calling a Circle
Talking Circles To Deepen Communication
Listening Circles
Num círculo, cada um tem a sua vez para falar, até para não falar. Um objecto é colocado no centro, e, um de cada vez vai buscar o "objecto falante" ao centro. Não é preciso um mediador, o objecto em si é o mediador. Quando temos o objecto na mão, podemos dizer o que quer que esteja no coração, mesmo que isso pareça não ter nada a ver com nada. Ninguém vai comentar, criticar ou interromper. Tudo o que vem do coração é belo e perfeito.
Falar com o coração: nesse lugar, estamos seguros. Estamos nus e abertos, mas não desprotegidos. Podemos ser honestos, arriscar-nos, dar voz às nossas vozes. Pode acontecer que consigamos dizer algo que nunca dissemos antes, ou encontrar algo em nós que não imaginamos que existia. Por vezes pode ser preciso coragem. Mas saber que há um grupo que nos ouve e nos apoia é em si uma experiência de cura. Os laços criados dessa maneira são feitos de expansão e energia. São vivos.
Foto ©Calica 2004
Mais sobre a tradição dos círculos de sabedoria dos índios norte-americanos:
Wisdom Circles
The Wisdom Circle Constants
Basic Guidelines for Calling a Circle
Talking Circles To Deepen Communication
Listening Circles
quinta-feira, outubro 07, 2004
So Gaku
Já sabíamos: o João foi ordenado no dia 5 de Outubro em Sogenji. O nome dele agora é So Gaku, "The great all-embrancing Mountain". Como se traduzirá isto? A grande Montanha que abrange tudo? que inclui tudo? A festa, essa, "incluiu" um menu indiano.. além da carecada, de um banho perfumado e todo o cerimonial, claro. Fotos brevemente, disse ele!
quarta-feira, outubro 06, 2004
Yesterday I saw there was no separation
Ontem vi que não há separação.
Mais uma vez.
O koan com que comecei o sesshin foi "where am I?"
No final, no círculo, o objecto que fui buscar ao centro, inesperadamente, eram dois anéis unidos.
Foi essa a minha resposta - "we are all linked, I can't do it without you (all)"
O que se passou no sesshin ultrapassou tudo o que poderia ter imaginado. Talvez o momento mais próximo na minha memória a esta experiência tenha sido o primeiro segundo em que vi o meu filho recém-nascido. O meu primeiro pensamento foi: então és assim! A golden child! Que maravilha! Que perfeição!
Que festa! Senseis, Myriam, Corinne, todos foram um anel.
De todas as coisas bonitas que aconteceram e se disseram fica a frase do André: "This is my first sesshin, this is my last sesshin". Os anéis estão indissoluvelmente ligados. Não há princípio, não há fim.
Yesterday I saw there was no separation. One more time.
The koan I began the sesshin with was "where am I?"
At the end, in the circle, the object I took, unexpectedly, were two linked rings.
That was my answer - "we are all linked, I can't do it without you (all)"
What happened during the sesshin went beyond anything I could imagine. Maybe the only moment close to this in my memory, was the very first second I saw my newborn baby boy. My first thought was: so, you are like this. A golden child! What a wonder! How perfect!
What a celebration! The two senseis, Myriam, Corinne, everyone there were one ring.
From all the beautiful things that happened and were told, I retain something André said: "This is my first sesshin, this is my last sesshin". The rings are indissolubly linked. No beginning, no end.
Mais uma vez.
O koan com que comecei o sesshin foi "where am I?"
No final, no círculo, o objecto que fui buscar ao centro, inesperadamente, eram dois anéis unidos.
Foi essa a minha resposta - "we are all linked, I can't do it without you (all)"
O que se passou no sesshin ultrapassou tudo o que poderia ter imaginado. Talvez o momento mais próximo na minha memória a esta experiência tenha sido o primeiro segundo em que vi o meu filho recém-nascido. O meu primeiro pensamento foi: então és assim! A golden child! Que maravilha! Que perfeição!
Que festa! Senseis, Myriam, Corinne, todos foram um anel.
De todas as coisas bonitas que aconteceram e se disseram fica a frase do André: "This is my first sesshin, this is my last sesshin". Os anéis estão indissoluvelmente ligados. Não há princípio, não há fim.
Yesterday I saw there was no separation. One more time.
The koan I began the sesshin with was "where am I?"
At the end, in the circle, the object I took, unexpectedly, were two linked rings.
That was my answer - "we are all linked, I can't do it without you (all)"
What happened during the sesshin went beyond anything I could imagine. Maybe the only moment close to this in my memory, was the very first second I saw my newborn baby boy. My first thought was: so, you are like this. A golden child! What a wonder! How perfect!
What a celebration! The two senseis, Myriam, Corinne, everyone there were one ring.
From all the beautiful things that happened and were told, I retain something André said: "This is my first sesshin, this is my last sesshin". The rings are indissolubly linked. No beginning, no end.
quarta-feira, setembro 29, 2004
Um Roshi no Corredor da Morte
A primeira vez que "ouvi" falar de Shodo Harada Roshi (estava longe de imaginar que o João iria para Sogen-ji), foi através deste artigo: A Roshi On the Row. Muito tocante. Desde aí a minha fotografia preferida de Shodo Harada Roshi é esta, a preto e branco (e de alguma forma é como o vejo na ligação com este artigo):
foto de The Way of Zazen
foto de The Way of Zazen
O precioso nascimento humano
Traduzi uma parte do livro "One Dharma" sobre o precioso nascimento humano, em que Joseph Goldstein descreve a nossa existência como seres humanos nestes termos: "é como se de alguma maneira tivéssemos chegado a uma fabulosa ilha do tesouro, onde, se soubermos como, todas as coisas boas estão ao nosso alcance". Decerto que a maior parte do tempo não vemos as nossas vidas assim, e por isso sempre nos falta alguma coisa. Temos sempre fome e sede, quando a abundância está bem ali à nossa frente. Joseph acentua um dos princípios mais básicos do ensinamento budista: todas as experiências, incluindo a própria vida, não surgem por acaso, mas pela reunião de todas as causas e condições necessárias, ou seja, porque praticámos acções meritórias. A água congela quando está a determinada temperatura, não apenas porque desejamos que congele. Da mesma forma, as condições para obtermos uma forma humana – e sejam quais forem as nossas circunstâncias presentes – são as nossas boas acções passadas.
Depois da tradução, fui procurar informações sobre Mirabai, uma das mais famosas poetas bakhta do Norte da Índia, que mencionei no nosso último encontro das quintas a propósito do caminho da devoção (bakhti). Ao fazer uma pesquisa na Net, dei com um poema... sobre o precioso nascimento humano. E ela diz "Nós não obtemos uma vida humana só por pedirmos." Será que o sr. Goldstein leu Mirabai? :)
Nós não obtemos uma vida humana
Só por pedirmos.
Nascimento sob um corpo humano
É a recompensa por boas acções
Em nascimentos anteriores.
A vida flui e reflui imperceptivelmente,
Não permanece para sempre.
A folha que uma vez caiu
Não volta ao ramo.
Olha o Oceano de transmigração
Com a sua rápida, irresistível maré.
Ó Lal Giridhara (Krishna), ó piloto da minha alma,
Conduz rapidamente a minha barca para a outra margem.
Mira é a escrava de Lal Giridhara.
Ela diz: a vida dura mas apenas uns dias
Mirabai, a mais famosa poeta bakhta do Norte da Índia (séc. XVI)
Depois da tradução, fui procurar informações sobre Mirabai, uma das mais famosas poetas bakhta do Norte da Índia, que mencionei no nosso último encontro das quintas a propósito do caminho da devoção (bakhti). Ao fazer uma pesquisa na Net, dei com um poema... sobre o precioso nascimento humano. E ela diz "Nós não obtemos uma vida humana só por pedirmos." Será que o sr. Goldstein leu Mirabai? :)
Nós não obtemos uma vida humana
Só por pedirmos.
Nascimento sob um corpo humano
É a recompensa por boas acções
Em nascimentos anteriores.
A vida flui e reflui imperceptivelmente,
Não permanece para sempre.
A folha que uma vez caiu
Não volta ao ramo.
Olha o Oceano de transmigração
Com a sua rápida, irresistível maré.
Ó Lal Giridhara (Krishna), ó piloto da minha alma,
Conduz rapidamente a minha barca para a outra margem.
Mira é a escrava de Lal Giridhara.
Ela diz: a vida dura mas apenas uns dias
Mirabai, a mais famosa poeta bakhta do Norte da Índia (séc. XVI)
terça-feira, setembro 28, 2004
Os visitantes
Uma das mensagens mais poderosas do Buda, é que o estado natural da mente é luminoso e puro. O sofrimento vem dos nossos “atormentadores” - estados como o medo, a culpa, a cólera, a cobiça. Quando os nossos atormentadores batem à porta e os convidamos a entrar, perdemos o contacto com o estado luminoso da mente. Se os acolhermos apenas como visitantes de passagem, e não nos identificarmos com eles, vamos ter consciência que não reflectem o que realmente somos. O nosso desafio é vê-los como são e lembrar a nossa verdadeira natureza.
adaptado de Lovingkindness, the revolutionary art of Happinness, de Sharon Salzberg
©JR 2004
adaptado de Lovingkindness, the revolutionary art of Happinness, de Sharon Salzberg
©JR 2004
segunda-feira, setembro 27, 2004
O Sutra do Coração
Evidentemente, alguns dos versos do poema de Adyashanti fazem-me retornar ao Sutra do Coração
Mais um poema de despertar
Já referi aqui o meu encontro "virtual" com Adyashanti. Da longa conversa em que ele conta a sua viagem espiritual, aqui vai o poema que escreveu na manhã em que "despertou":
Today I awoke, finally I see the Self has returned to the Self.
The Self is none other than the Self.
I am deathless. I am endless. I am free.
The birds outside sing and there am I.
The seeing of leaves on the trees, that seeing am I.
The body breathes, breathing am I.
I am awake and I know that I am awake.
Seen from the old eyes, everything is asleep, a game, a delusion.
But now I am awake. I am the play. I am the game. I am the delusion.
I am the enlightenment I sought, looking everywhere.
Nothing is separate, nothing is alone.
I am all that I see.
All that I smell, taste, touch, feel, think and know.
I am awake and this awakeness is the same as Shyakyamuni Buddha's
Today the leaf has returned to the root.
I am all name and form and beyond all name and form.
I am Spirit, no longer trapped in a body.
I am free. I am free because I am awake.
So ordinary.
Who would have thought ?
Who could have guessed ?
I am home.
I am really home.
Ten thousand life times.
Ten thousand life times but today I am home.
Ten thousand life times but today I am home.
This is not an experience. This is me.
I am awake. Finally, I am awake.
Nothing has changed, but I am awake.
Before I tasted the root many times and felt?
How delicious.
Today I became the root. How ordinary.
Hoje acordei, finalmente vejo que o Eu voltou ao Eu.
O Eu nada é mais do que o Eu.
Sou imortal, sou infinito, estou livre.
Os pássaros cantam lá fora e aqui estou eu.
Olhar as folhas das árvores, esse olhar sou eu.
O corpo respira, eu sou o respirar.
Estou desperto e sei que estou desperto.
Ao ver com o antigo olhar, tudo está adormecido,
tudo é jogo, ilusão.
Mas agora estou desperto.
Sou a jogada, sou o jogo, sou a ilusão.
Sou a iluminação por que ansiava, procurando por todo o lado.
Nada está separado, nada está só.
Sou tudo o que vejo.
Tudo o que cheiro, provo, toco, sinto e sei.
Estou desperto, e este despertar é o mesmo do Buda.
Hoje a folha volta à raiz.
Sou todo nome e forma e para lá do nome e da forma.
Sou Espírito, deixei de ser prisioneiro de um corpo.
Sou livre. Sou livre porque acordei.
Tão vulgar.
Quem haveria de pensar?
Quem poderia adivinhar?
Estou em casa.
Cheguei mesmo a casa.
Dez mil vidas.
Dez mil vidas mas hoje estou em casa.
Dez mil vidas mas hoje estou em casa.
Isto não é uma experiência.
Isto sou eu.
Despertei. Finalmente, despertei.
Nada mudou, mas despertei.
Provei a raiz muitas vezes e sentia...?
Que delícia.
Hoje tornei-me a raiz.
Que vulgar.
foto de Adyashanti: ©Bill Lange, no site Zen Satsang
Today I awoke, finally I see the Self has returned to the Self.
The Self is none other than the Self.
I am deathless. I am endless. I am free.
The birds outside sing and there am I.
The seeing of leaves on the trees, that seeing am I.
The body breathes, breathing am I.
I am awake and I know that I am awake.
Seen from the old eyes, everything is asleep, a game, a delusion.
But now I am awake. I am the play. I am the game. I am the delusion.
I am the enlightenment I sought, looking everywhere.
Nothing is separate, nothing is alone.
I am all that I see.
All that I smell, taste, touch, feel, think and know.
I am awake and this awakeness is the same as Shyakyamuni Buddha's
Today the leaf has returned to the root.
I am all name and form and beyond all name and form.
I am Spirit, no longer trapped in a body.
I am free. I am free because I am awake.
So ordinary.
Who would have thought ?
Who could have guessed ?
I am home.
I am really home.
Ten thousand life times.
Ten thousand life times but today I am home.
Ten thousand life times but today I am home.
This is not an experience. This is me.
I am awake. Finally, I am awake.
Nothing has changed, but I am awake.
Before I tasted the root many times and felt?
How delicious.
Today I became the root. How ordinary.
Hoje acordei, finalmente vejo que o Eu voltou ao Eu.
O Eu nada é mais do que o Eu.
Sou imortal, sou infinito, estou livre.
Os pássaros cantam lá fora e aqui estou eu.
Olhar as folhas das árvores, esse olhar sou eu.
O corpo respira, eu sou o respirar.
Estou desperto e sei que estou desperto.
Ao ver com o antigo olhar, tudo está adormecido,
tudo é jogo, ilusão.
Mas agora estou desperto.
Sou a jogada, sou o jogo, sou a ilusão.
Sou a iluminação por que ansiava, procurando por todo o lado.
Nada está separado, nada está só.
Sou tudo o que vejo.
Tudo o que cheiro, provo, toco, sinto e sei.
Estou desperto, e este despertar é o mesmo do Buda.
Hoje a folha volta à raiz.
Sou todo nome e forma e para lá do nome e da forma.
Sou Espírito, deixei de ser prisioneiro de um corpo.
Sou livre. Sou livre porque acordei.
Tão vulgar.
Quem haveria de pensar?
Quem poderia adivinhar?
Estou em casa.
Cheguei mesmo a casa.
Dez mil vidas.
Dez mil vidas mas hoje estou em casa.
Dez mil vidas mas hoje estou em casa.
Isto não é uma experiência.
Isto sou eu.
Despertei. Finalmente, despertei.
Nada mudou, mas despertei.
Provei a raiz muitas vezes e sentia...?
Que delícia.
Hoje tornei-me a raiz.
Que vulgar.
foto de Adyashanti: ©Bill Lange, no site Zen Satsang
Oásis
Ninguém imaginaria que no meio de um denso aglomerado populacional em Ermesinde pudesse haver um oásis... mas há! Será o "nosso" centro de retiros de 3 a 5 de Outubro. A casa é gerida por um grupo católico que centra a sua prática naquilo a que muitos budistas chamariam Karma Yoga - o Yoga da Acção, dito de outra forma, a oferenda do nosso trabalho em benefício de todos os seres. Alguns também chamariam a isso "servir". Ao servir cultivamos o desapego, e sobretudo o desapego em relação ao fruto da nossa acção. Um artigo que explica o Karma Yoga do ponto de vista hindu: What is Karma Yoga?
Centro de retiros do Movimento Oásis
Centro de retiros do Movimento Oásis
sexta-feira, setembro 24, 2004
O Construtor
Viajei através da roda de inúmeros nascimentos,
À procura, mas sem nunca encontrar o construtor desta casa.
Doloroso é nascer sempre e sempre.
Oh Construtor, agora foste visto,
Não vais construir mais casas.
As tuas traves [=obscurecimentos] foram quebradas,
A tua viga mestra [=ignorância] foi destruída.
A minha mente atingiu o incondicionado,
Alcançado está o fim do desejo.
©JR 2004
Segundo a tradição, foram estas as palavras proferidas pelo Buda após a libertação - e foram lidas ontem, no nosso encontro das quintas-feiras à noite. Parece que vamos continuar na exploração do "One Dharma"!
À procura, mas sem nunca encontrar o construtor desta casa.
Doloroso é nascer sempre e sempre.
Oh Construtor, agora foste visto,
Não vais construir mais casas.
As tuas traves [=obscurecimentos] foram quebradas,
A tua viga mestra [=ignorância] foi destruída.
A minha mente atingiu o incondicionado,
Alcançado está o fim do desejo.
©JR 2004
Segundo a tradição, foram estas as palavras proferidas pelo Buda após a libertação - e foram lidas ontem, no nosso encontro das quintas-feiras à noite. Parece que vamos continuar na exploração do "One Dharma"!
quinta-feira, setembro 23, 2004
O que é "Um Dharma"?
Há mil anos atrás, um monge da universidade de Nalanda chamado Atisha viajou da Índia para o Tibete para aí ajudar a restabelecer a pureza da via monástica. Em determinada altura, encontrou-se com um dos mais conhecidos tradutores de textos budistas para tibetano, que lhe perguntou qual era a melhor prática. Atisha respondeu: “deves procurar o ponto essencial comum a todos os ensinamentos e praticar essa via”. “Um Dharma” é apenas isto: experienciar o ponto essencial comum a todos os ensinamentos. Mas com tradições e escolas tão diferentes, e formas de prática tão diversas, como encontrar essa essência comum? Duas coisas nos podem ajudar.
Primeiro, necessitamos de criar uma base de compreensão que sustentará a nossa investigação mais profunda. Como muitos de nós não cresceram numa cultura budista, temos de adquirir alguma profundeza na compreensão e na experiência de uma prática antes de podermos olhar com alguma inteligência e encontrar o que há de comum entre os mais diversos caminhos. Em segundo lugar, precisamos cultivar uma atitude de abertura a diversos pontos de vista, bem assim como uma disposição para aprender com as mais diferentes perspectivas.
©JR 2004
No Um Dharma do Budismo emergente ocidental, o método é a atenção plena (mindfulness), a expressão é a compaixão e a essência é a sabedoria.
Atenção plena, o método, é a chave para o presente. Sem ele, ficamos perdidos no vaguear das nossas mentes. A atenção serve-nos das formas mais humildes, ligando-nos aos actos mais simples do dia-a-dia, desde lavar os dentes até tomar uma chávena de chá. O Buda também falou da atenção plena como uma caminho para o despertar completo.
A expressão de “Um Dharma” é a compaixão. Quando estamos atentos ao momento presente, a compaixão torna-se a resposta natural dada ao sofrimento que encontramos à nossa volta. Quando nos abrimos para o sofrimento, há um movimento simples e espontâneo do coração, que quer ajudar como puder. Às vezes através de pequenos gestos de simpatia, outras vezes através de atitudes mais corajosas. Podemos igualmente cultivar a compaixão como uma prática, fortalecendo a resposta intuitiva que existe dentro de nós. Nyoshul Khen Rinpoche trouxe esta prática para a vida, da maneira mais simples e directa: “Gostaria de dar um pequeno conselho, que sempre dou a todos: descontraiam-se! Apenas descontraiam-se! Sejam simpáticos uns com os outros. Enquanto percorrem a vida, sejam gentis com as pessoas. Tentem ajudá-las em vez de magoá-las. Tentem dar-se com elas em vez de se zangarem com elas. Com isto, deixo-vos, com os meus melhores votos.”
A essência de Um Dharma é sabedoria. A perfeição da sabedoria é a luz que ilumina as nossas vidas, revelando tanto as causas como o fim do sofrimento. Através da atenção ao momento presente, vemos a natureza impermanente dos fenómenos e compreendemos a felicidade de “não nos agarrarmos”. E ao não nos agarrarmos, experienciamos por nós mesmos o despertar inato da mente de sabedoria.
Não basta sabermos isto conceptualmente, ou então ficaremos satisfeitos com breves lampejos de compreensão. Um ensinamento do Buda serve como um aviso profundo enquanto estamos imersos na pressa do mundo. Quando praticamos, a sabedoria aumenta, quando não praticamos diminui. A sabedoria não é algo que adquirimos uma vez e ficamos com ela para sempre. É antes uma compreensão que precisamos alimentar e desenvolver nas nossas vidas. A via do Buda é vasta, o nosso potencial é ilimitado. Está nas nossas mãos dar o próximo passo.
adaptado de One Dharma de Joseph Goldstein
Primeiro, necessitamos de criar uma base de compreensão que sustentará a nossa investigação mais profunda. Como muitos de nós não cresceram numa cultura budista, temos de adquirir alguma profundeza na compreensão e na experiência de uma prática antes de podermos olhar com alguma inteligência e encontrar o que há de comum entre os mais diversos caminhos. Em segundo lugar, precisamos cultivar uma atitude de abertura a diversos pontos de vista, bem assim como uma disposição para aprender com as mais diferentes perspectivas.
©JR 2004
No Um Dharma do Budismo emergente ocidental, o método é a atenção plena (mindfulness), a expressão é a compaixão e a essência é a sabedoria.
Atenção plena, o método, é a chave para o presente. Sem ele, ficamos perdidos no vaguear das nossas mentes. A atenção serve-nos das formas mais humildes, ligando-nos aos actos mais simples do dia-a-dia, desde lavar os dentes até tomar uma chávena de chá. O Buda também falou da atenção plena como uma caminho para o despertar completo.
A expressão de “Um Dharma” é a compaixão. Quando estamos atentos ao momento presente, a compaixão torna-se a resposta natural dada ao sofrimento que encontramos à nossa volta. Quando nos abrimos para o sofrimento, há um movimento simples e espontâneo do coração, que quer ajudar como puder. Às vezes através de pequenos gestos de simpatia, outras vezes através de atitudes mais corajosas. Podemos igualmente cultivar a compaixão como uma prática, fortalecendo a resposta intuitiva que existe dentro de nós. Nyoshul Khen Rinpoche trouxe esta prática para a vida, da maneira mais simples e directa: “Gostaria de dar um pequeno conselho, que sempre dou a todos: descontraiam-se! Apenas descontraiam-se! Sejam simpáticos uns com os outros. Enquanto percorrem a vida, sejam gentis com as pessoas. Tentem ajudá-las em vez de magoá-las. Tentem dar-se com elas em vez de se zangarem com elas. Com isto, deixo-vos, com os meus melhores votos.”
A essência de Um Dharma é sabedoria. A perfeição da sabedoria é a luz que ilumina as nossas vidas, revelando tanto as causas como o fim do sofrimento. Através da atenção ao momento presente, vemos a natureza impermanente dos fenómenos e compreendemos a felicidade de “não nos agarrarmos”. E ao não nos agarrarmos, experienciamos por nós mesmos o despertar inato da mente de sabedoria.
Não basta sabermos isto conceptualmente, ou então ficaremos satisfeitos com breves lampejos de compreensão. Um ensinamento do Buda serve como um aviso profundo enquanto estamos imersos na pressa do mundo. Quando praticamos, a sabedoria aumenta, quando não praticamos diminui. A sabedoria não é algo que adquirimos uma vez e ficamos com ela para sempre. É antes uma compreensão que precisamos alimentar e desenvolver nas nossas vidas. A via do Buda é vasta, o nosso potencial é ilimitado. Está nas nossas mãos dar o próximo passo.
adaptado de One Dharma de Joseph Goldstein
quarta-feira, setembro 22, 2004
One Dharma
Introdução à leitura de “One Dharma” de Joseph Goldstein: proposta para os encontros de quinta-feira à noite na UBP Porto
Depois de 25 anos de imersão na tradição do Budismo Theravada, Joseph Goldstein encontrou-se no mosteiro Dai Bosatsu, no estado de Nova Iorque, a ouvir os ensinamentos de Nyoshul Khen Rinpoche, um conhecido mestre tibetano de Dzogchen. Apesar dos ensinamentos profundos que recebia, encontrava-se num dilema espiritual e não conseguia encontrar uma saída: os ensinamentos que estava a ouvir não coincidiam com toda a experiência que trazia da tradição Theravada, designadamente com o modelo Burmanês. Depois de várias semanas de esforços em vão, na tentativa de conciliar aspectos das duas escolas, tornou-se claro que não iria resolver o dilema simplesmente através da mente racional. O que fazer? Beneficiava imensamente de ambas as práticas e ensinamentos e respeitava os diferentes professores de ambas as tradições. Desta luta surgiu espontaneamente um momento de transformação. Joseph Goldstein deu-se conta que em relação às questões que o preocupavam especialmente, relacionadas com a natureza última da mente totalmente iluminada, ele pura e simplesmente não sabia. E um novo mantra emergiu como resposta a este conflito: “Quem sabe?”
Este “não saber”, para ele, não era ignorância e confusão – era uma libertação da prisão que criara para si próprio ao longo dos anos, com base nos modelos e conceitos espirituais que acumulara. Uma brisa refrescante varreu algumas dessas opiniões estabelecidas sobre a natureza última da realidade. A consciência (awareness) é o fim do caminho espiritual ou é um meio para chegar a um fim? Ou ambas as coisas? Qual a natureza da consciência? Em vez de se agarrar a conclusões, tornou-se mais interessante e espiritualmente vital agarrar-se às perguntas.
“Não saber” permitiu-lhe incluir uma grande variedade de perspectivas e encarar os diferentes pontos de vista e métodos como meios hábeis de libertação, e não verdades absolutas. Meios hábeis é uma expressão muito frequente na literatura budista e refere-se a métodos e práticas particulares usados para ajudar os estudantes a libertarem-se das cadeias da ignorância. Como meios hábeis podemos usar tudo o que possa ser útil, tudo o que possa servir. Para cada um de nós, em tempos e tradições diferentes, diferentes métodos e construções filosóficas podem ser utilizados, para dar conta dos mais diversos temperamentos, backgrounds, e capacidades. Alguns podem achar a linguagem da vacuidade estéril como um deserto. Outros podem encontrar aí o coração da libertação. Outros ainda podem achar que o caminho da devoção os liberta do Ego, enquanto para outros a devoção pode funcionar como uma nuvem de auto-ilusão. Cada um de nós precisa de grande honestidade e introspecção e eventualmente da orientação de um professor para encontrar o seu “meio hábil”.
Como o Dalai Lama disse num encontro inter-religioso: “Isto está certo para mim. A vossa forma de compreensão estará certa para vós.”
Ao longo da história do budismo e de outras religiões, têm havido muitas disputas sobre determinados pontos teóricos ou de interpretação. Ideias de “certo” e errado” rapidamente geram a separação entre “nós” e “os outros”. O apego às nossas concepções torna-se a base das nossas construções ideológicas e metafísicas. Mas se pensarmos nessas concepções como “meios hábeis”, ferramentas que evocam novas formas de percepção e compreensão, métodos para abandonar o sofrimento, então torna-se mais fácil estarmos abertos a outros pontos de vista e torna-se possível aprendermos uns com os outros.
adaptado livremente de “One Dharma” de Joseph Goldstein
©JR 2004
Depois de 25 anos de imersão na tradição do Budismo Theravada, Joseph Goldstein encontrou-se no mosteiro Dai Bosatsu, no estado de Nova Iorque, a ouvir os ensinamentos de Nyoshul Khen Rinpoche, um conhecido mestre tibetano de Dzogchen. Apesar dos ensinamentos profundos que recebia, encontrava-se num dilema espiritual e não conseguia encontrar uma saída: os ensinamentos que estava a ouvir não coincidiam com toda a experiência que trazia da tradição Theravada, designadamente com o modelo Burmanês. Depois de várias semanas de esforços em vão, na tentativa de conciliar aspectos das duas escolas, tornou-se claro que não iria resolver o dilema simplesmente através da mente racional. O que fazer? Beneficiava imensamente de ambas as práticas e ensinamentos e respeitava os diferentes professores de ambas as tradições. Desta luta surgiu espontaneamente um momento de transformação. Joseph Goldstein deu-se conta que em relação às questões que o preocupavam especialmente, relacionadas com a natureza última da mente totalmente iluminada, ele pura e simplesmente não sabia. E um novo mantra emergiu como resposta a este conflito: “Quem sabe?”
Este “não saber”, para ele, não era ignorância e confusão – era uma libertação da prisão que criara para si próprio ao longo dos anos, com base nos modelos e conceitos espirituais que acumulara. Uma brisa refrescante varreu algumas dessas opiniões estabelecidas sobre a natureza última da realidade. A consciência (awareness) é o fim do caminho espiritual ou é um meio para chegar a um fim? Ou ambas as coisas? Qual a natureza da consciência? Em vez de se agarrar a conclusões, tornou-se mais interessante e espiritualmente vital agarrar-se às perguntas.
“Não saber” permitiu-lhe incluir uma grande variedade de perspectivas e encarar os diferentes pontos de vista e métodos como meios hábeis de libertação, e não verdades absolutas. Meios hábeis é uma expressão muito frequente na literatura budista e refere-se a métodos e práticas particulares usados para ajudar os estudantes a libertarem-se das cadeias da ignorância. Como meios hábeis podemos usar tudo o que possa ser útil, tudo o que possa servir. Para cada um de nós, em tempos e tradições diferentes, diferentes métodos e construções filosóficas podem ser utilizados, para dar conta dos mais diversos temperamentos, backgrounds, e capacidades. Alguns podem achar a linguagem da vacuidade estéril como um deserto. Outros podem encontrar aí o coração da libertação. Outros ainda podem achar que o caminho da devoção os liberta do Ego, enquanto para outros a devoção pode funcionar como uma nuvem de auto-ilusão. Cada um de nós precisa de grande honestidade e introspecção e eventualmente da orientação de um professor para encontrar o seu “meio hábil”.
Como o Dalai Lama disse num encontro inter-religioso: “Isto está certo para mim. A vossa forma de compreensão estará certa para vós.”
Ao longo da história do budismo e de outras religiões, têm havido muitas disputas sobre determinados pontos teóricos ou de interpretação. Ideias de “certo” e errado” rapidamente geram a separação entre “nós” e “os outros”. O apego às nossas concepções torna-se a base das nossas construções ideológicas e metafísicas. Mas se pensarmos nessas concepções como “meios hábeis”, ferramentas que evocam novas formas de percepção e compreensão, métodos para abandonar o sofrimento, então torna-se mais fácil estarmos abertos a outros pontos de vista e torna-se possível aprendermos uns com os outros.
adaptado livremente de “One Dharma” de Joseph Goldstein
©JR 2004
terça-feira, setembro 21, 2004
Meditação Metta
Hoje à noite, na nossa sala, em Aníbal Cunha, vamos praticar meditação Shamatha e Metta. A meditação Shamatha visa a calma mental e o método mais usado é a atenção à respiração. A palavra Metta pode ser traduzida por "Amor", o primeiro dos Quatro Pensamentos Ilimitados (os outros são a Compaixão, o Regozijo pela felicidade de outrém e a Equanimidade). Frequentemente o que entendemos como amor é mais do domínio do apego/egoísmo ou de uma espécie de "troca". O sentido de metta, pelo contrário, é o de um amor/amizade incondicional. Amizade para connosco e para com tudo o que nos rodeia.
A meditação Metta visa atenuar as barreiras que criámos ao nosso redor e assim estabelecer uma conexão com o mundo. A prática começa connosco, com a abertura a tudo o que somos - não só ao lado que gostamos ou que mostramos ao mundo, mas a tudo o que somos ou apenas suspeitamos que somos. Para isso repetimos frases do tipo "que eu seja feliz", "que eu esteja em paz", algo que desejamos profundamente para nós mesmos. O exacto teor destas frases não é tão importante quanto a vontade de nos englobar e nos tornarmos amigos de tudo aquilo que somos. Só depois passamos para outros seres: alguém de quem gostamos (pode ser um animal), alguém que nos é indiferente e depois alguém com quem temos "problemas". Podemos não começar com alguém com quem tenhamos ENORMES dificuldades se não estivermos dispostos a isso, pois o objectivo não é forçar uma abertura de coração que ainda não exista. Finalmente, incluimos todos os seres neste "abraço" de amizade. Enviamos as frases que escolhemos em todas as direcções, incluindo todos os seres, sem exclusões. No final, um período de silêncio.
Sempre que voltamos a mente para algo de bom, para pensamentos de amor, sempre que praticamos actos de generosidade, incluindo a meditação, estamos a gerar uma energia positiva e a força desta energia influencia a "nossa" vida, a própria vida.
A meditação Metta visa atenuar as barreiras que criámos ao nosso redor e assim estabelecer uma conexão com o mundo. A prática começa connosco, com a abertura a tudo o que somos - não só ao lado que gostamos ou que mostramos ao mundo, mas a tudo o que somos ou apenas suspeitamos que somos. Para isso repetimos frases do tipo "que eu seja feliz", "que eu esteja em paz", algo que desejamos profundamente para nós mesmos. O exacto teor destas frases não é tão importante quanto a vontade de nos englobar e nos tornarmos amigos de tudo aquilo que somos. Só depois passamos para outros seres: alguém de quem gostamos (pode ser um animal), alguém que nos é indiferente e depois alguém com quem temos "problemas". Podemos não começar com alguém com quem tenhamos ENORMES dificuldades se não estivermos dispostos a isso, pois o objectivo não é forçar uma abertura de coração que ainda não exista. Finalmente, incluimos todos os seres neste "abraço" de amizade. Enviamos as frases que escolhemos em todas as direcções, incluindo todos os seres, sem exclusões. No final, um período de silêncio.
Sempre que voltamos a mente para algo de bom, para pensamentos de amor, sempre que praticamos actos de generosidade, incluindo a meditação, estamos a gerar uma energia positiva e a força desta energia influencia a "nossa" vida, a própria vida.
sábado, setembro 18, 2004
massagem de som
The Temple bell stops
But the sound keeps coming
Out of the flowers
(Basho)
Este fim-de-semana, uma cura de relaxamento! Estamos numa formação em massagem de som, com a Ingrid Ortelbach. O criador desta terapia é Peter Hess. Vale a pena uma olhada na página do Instituto de Terapia de Massagem Som. Fascinante e intrigante - quem diria que uma massagem de som poderia ser mais profunda do que uma massagem "normal"?
Foto ©UBP Porto 2004
But the sound keeps coming
Out of the flowers
(Basho)
Este fim-de-semana, uma cura de relaxamento! Estamos numa formação em massagem de som, com a Ingrid Ortelbach. O criador desta terapia é Peter Hess. Vale a pena uma olhada na página do Instituto de Terapia de Massagem Som. Fascinante e intrigante - quem diria que uma massagem de som poderia ser mais profunda do que uma massagem "normal"?
Foto ©UBP Porto 2004
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